Thierry Breton é a aposta da França para manter pasta do Mercado Interno

Macron escolheu um político do centro direita, que foi ministro da Economia de Chirac, para comissário europeu. Von der Leyen recomeça as entrevistas na próxima semana, ainda sem candidato da Roménia. Sem “Brexit” no fim do mês, Reino Unido será convidado a apresentar um nome.

Foto
Thierry Breton é o CEO da multinacional Atos Reuters/Philippe Wojazer

O Presidente de França, Emmanuel Macron, já nomeou um novo candidato ao cargo de comissário europeu do Mercado Interno: Thierry Breton, um antigo ministro da Economia no Governo de Jacques Chirac que já dirigiu a France Telecom e é o actual CEO da empresa multinacional de tecnologias da informação Atos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Presidente de França, Emmanuel Macron, já nomeou um novo candidato ao cargo de comissário europeu do Mercado Interno: Thierry Breton, um antigo ministro da Economia no Governo de Jacques Chirac que já dirigiu a France Telecom e é o actual CEO da empresa multinacional de tecnologias da informação Atos.

“O Presidente já apresentou a sua proposta de indigitação à presidente eleita da Comissão Europeia”, anunciou esta quinta-feira a porta-voz do Palácio do Eliseu. “Thierry Breton é um reputado homem de acção, com competências sólidas nas áreas cobertas por este portfolio, em particular a indústria e a tecnologia digital, e com forte experiência na administração de grandes grupos industriais e de defesa”, descreveu.

Segundo esta responsável, Macron valorizou o facto de Breton “conhecer de trás para a frente” os dossiers de que se vai ocupar — a vasta pasta do Mercado Interno, que lida com a política industrial europeia, foi reforçada com a defesa e o espaço — e de estar perfeitamente familiarizado com as instituições de Bruxelas.

A presidente eleita da Comissão Europeia ainda não se pronunciou oficialmente sobre a segunda escolha do Presidente francês, que ao indicar o nome de um homem para o lugar originalmente destinado a uma mulher, compromete o objectivo declarado por Ursula von der Leyen de dirigir o primeiro executivo com paridade de género. A presidência francesa garantia, contudo, que a nomeação só fora anunciada depois de Von der Leyen ter dado o seu assentimento, “numa discussão preliminar informal” com Macron sobre o perfil do candidato a comissário.

Quando era ministra da Defesa da Alemanha, Von der Leyen trabalhou com Thierry Breton na instituição de um fundo europeu para a defesa e a segurança destinado a promover o investimento nessas áreas. Como a futura líder comunitária, Breton é um defensor da ideia de “campeões europeus”, e de projectos como o do desenvolvimento de “supercomputadores” que rivalizem com os norte-americanos e chineses.

O Presidente francês foi forçado a rever a sua indicação depois de o Parlamento Europeu ter formalmente rejeitado a candidatura de Sylvie Goulard, uma ex-eurodeputada e ministra da Defesa que foi uma das primeiras apoiantes do seu movimento político Em Marcha. Goulard não conseguiu convencer os eurodeputados, que a questionaram em duas audições , que estava habilitada a ocupar o cargo de comissária antes de ser conhecido o desfecho de uma investigação em que está envolvida, por pagamentos irregulares a colaboradores políticos com fundos provenientes do Parlamento Europeu.

Emmanuel Macron reagiu com fúria à “desfeita” dos eurodeputados, invectivando contra um suposto pacto de vingança das bancadas democrata-cristã e socialista no Parlamento Europeu e denunciando mesmo a existência de uma “crise institucional” que ameaçava paralisar a União Europeia. A sua opção por Thierry Breton, um antigo governante conservador, foi interpretada como uma marcha atrás nessas declarações mais inflamadas — só não se sabe se Macron se arrependeu do espectáculo dado, ou se usou o seu apregoado pragmatismo para assegurar que mantinha o portfolio desenhado à medida da França.

Os pergaminhos de Thierry Breton como um político do centro direita tradicional deverão bastar para que a bancada do Partido Popular Europeu valide a sua nomeação. Em declarações a uma rádio francesa, o antigo primeiro-ministro socialista, Bernard Cazeneuve, disse que apesar de não partilhar das suas opiniões, reconhecia em Breton “as qualidades e competências para ser comissário europeu” — o que sugere que os membros do S&D poderão não vetar o seu nome.

Mas tal como aconteceu a Sylvie Goulard, o novo candidato francês poderá passar um mau bocado durante o processo de audições no Parlamento Europeu. Os eurodeputados prometeram olhar com uma lupa para a sua declaração de interesses— esta quinta-feira, a imprensa francesa já tinha identificado incongruências entre as declarações apresentadas pelo grupo Atos e os registos europeus no que diz respeito ao financiamento de projectos com dinheiro do fundo de Desenvolvimento Regional.

Ao contrário de Goulard, Breton deverá ser capaz de apresentar respostas às eventuais dúvidas dos eurodeputados: a presidência francesa lembrava esta quinta-feira que o seu candidato já foi escrutinado no passado, “tendo rigorosamente evitado quaisquer conflitos de interesse” quando tomou posse como ministro da Economia depois de limpar o balanço da France Telecom e promovido a sua privatização. “Nessa atura, todos os assuntos referentes às empresas que tinha dirigido eram tratados directamente pelo primeiro-ministro”, recordou a porta-voz de Macron.

Mais problemas para Von der Leyen

Um membro da equipa de transição de Ursula von der Leyen disse que a futura presidente da Comissão já agendou entrevistas com Thierry Breton e o novo candidato indicado pela Hungria, Oliver Varhely, para o início da próxima semana. Os dois são candidatos a dirigir as mesmas pastas atribuídas aos seus países, respectivamente o Mercado Interno e Vizinhança e Alargamento. A Roménia, que também teve a sua primeira escolha rejeitada pelo Parlamento Europeu, e está em processo de reconstituição do Governo depois da queda do executivo liderado pela socialista Viorica Dancila, ainda não apresentou uma alternativa. Estes percalços inviabilizaram a tomada de posse do novo executivo comunitário a 1 de Novembro, como previsto no calendário oficial. A expectativa é que o processo de constituição do colégio se complete a tempo de inaugurar a nova Comissão a 1 de Dezembro.

Mas um novo problema pode surgir se, como é muito provável, a data do “Brexit” seja mais uma vez adiada, desta feita até 31 de Janeiro de 2020. Em curtas declarações esta manhã em Helsínquia, Ursula von der Leyen deu como certa a resposta positiva dos líderes europeus ao pedido de extensão do prazo apresentado pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Nesse caso, informou, vai pedir ao Governo do Reino Unido que lhe apresente um nome para uma pasta ainda indiscriminada na próxima Comissão. “Primeiro temos de resolver a questão da extensão, que já parece estar assegurada. Depois temos de resolver o problema do prazo, e determinar até quando o Reino Unido permanece na União Europeia. Se não tiver saído depois até 1 de Novembro, naturalmente pedirei que me envie uma proposta para nomear um comissário”, disse.