Catalunha domina campanha para eleições nacionais que devem manter impasse
As sondagens para as eleições de 10 de Novembro têm mostrado a repetição do cenário de fragmentação. Extrema-direita é que mais tem beneficiado dos distúrbios em Barcelona.
O reacendimento da crise na Catalunha vai dominar a campanha eleitoral para as legislativas. Quando, a 17 de Setembro, o rei Felipe VI comunicou ao país a marcação de novas eleições — as segundas em sete meses — para 10 de Novembro, poucos podiam prever que o tema do território emergisse tão rapidamente a ponto de obrigar todos os partidos a recalibrarem as suas posições face à Catalunha.
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O reacendimento da crise na Catalunha vai dominar a campanha eleitoral para as legislativas. Quando, a 17 de Setembro, o rei Felipe VI comunicou ao país a marcação de novas eleições — as segundas em sete meses — para 10 de Novembro, poucos podiam prever que o tema do território emergisse tão rapidamente a ponto de obrigar todos os partidos a recalibrarem as suas posições face à Catalunha.
O politólogo Pablo Simón prevê um aumento da polarização e, nesse sentido, o “reforço dos votos tanto na CUP [Candidatura de Unidade Popular, independentista de esquerda radical] como no Vox [extrema-direita]”. As primeiras sondagens realizadas durante os dias mais intensos dos protestos na Catalunha mostraram uma subida do Vox, que em alguns estudos aparece como terceira força política, com cerca de 15%.
Para além da extrema-direita, apenas o Partido Popular (PP) consegue sair beneficiado, de acordo com as sondagens, pelo regresso da Catalunha ao debate político. “Quando se trata do tema do território, normalmente as esquerdas acabam por ter resultados piores do que as direitas”, nota também Simón, contactado por telefone pelo PÚBLICO.
A verdade é que nenhum partido estava preparado para que o independentismo catalão voltasse à ordem do dia. O Partido Socialista (PSOE), no Governo, tem feito insistência junto do presidente catalão, Quim Torra, para que condene de forma “rotunda” a violência nas manifestações da semana passada uma condição sine qua non para que seja iniciado um processo negocial. Desde que a crise estalou, o chefe de Governo, Pedro Sánchez, recusou três tentativas de Torra para que falassem directamente.
Simón vê na insistência do primeiro-ministro “uma táctica para ganhar votos”. “O PSOE quer atrair os eleitores do Cidadãos, que têm uma posição mais dura sobre o tema território”, afirma o professor de Ciência Política da Universidade Carlos III.
O PP também parece estar ainda à procura de um discurso próprio para lidar com a Catalunha. Os conservadores previam uma campanha assente na economia, em que pretendiam apresentar-se como uma alternativa aos socialistas e, segundo a imprensa espanhola, não têm uma posição consolidada em relação à Catalunha. A iniciativa tem estado com o Cidadãos, que pretende contrariar a queda livre nas sondagens com uma postura dura face ao independentismo catalão — têm insistido na aplicação do Artigo 155.º que suspende a autonomia.
O director adjunto do jornal catalão La Vanguardia, Enric Juliana, está convicto de que “os partidos que defendem algum tipo de gradualismo podem vir a ser os mais beneficiados” e prevê bons resultados da Esquerda Republicana e do Partido Socialista Catalão na região. “Num campo e no outro são os partidos que dizem: ‘Isto é complicado, mas é preciso resolvê-lo de alguma forma.’ Pelo contrário, aqueles que estão em posições mais fechadas vão ser penalizados”, conclui.
O que parece ser praticamente certo é que o cenário de fragmentação do Congresso de Deputados que impediu a criação de uma maioria governamental deverá repetir-se após 10 de Novembro, ou seja, o impasse pode continuar.