Morreu o historiador Santos Juliá, cronista do século XX espanhol

Especialista na história contemporânea de Espanha e na Guerra Civil, tinha 79 anos. Historias de las dos Españas recebeu o Prémio Nacional de História.

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Santos Juliá era um forte opositor à independência da Catalunha Marta Jara

O historiador espanhol Santos Juliá, especialista na história do século XX e na Guerra Civil espanhola, morreu quarta-feira em Madrid aos 79 anos. Era um intelectual público que trazia a História e a reflexão sobre a actualidade para as páginas dos jornais, como recorda o diário El País. A sua obra de referência é Historias de las dos Españas (2005), que recebeu o Prémio Nacional de História no seu país.

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O historiador espanhol Santos Juliá, especialista na história do século XX e na Guerra Civil espanhola, morreu quarta-feira em Madrid aos 79 anos. Era um intelectual público que trazia a História e a reflexão sobre a actualidade para as páginas dos jornais, como recorda o diário El País. A sua obra de referência é Historias de las dos Españas (2005), que recebeu o Prémio Nacional de História no seu país.

O diário El País sublinha esta quinta-feira uma frase de Santos Juliá que é reflexo do seu envolvimento cívico: a responsabilidade dos indivíduos “não pode diluir-se na contabilidade das culpas colectivas, que são de todos e, por isso, não são de ninguém”. No seu obituário, o jornal onde escrevia o historiador contextualiza que a frase proferida por Santos Juliá dizia respeito à Guerra Civil (1936-1939), uma das suas áreas de investigação numa carreira em que foi também editor e biógrafo do político espanhol Manuel Azaña, último Presidente da II República espanhola, período que abarca todo o conflito. Manuel Azaña. Una biografía política (1990) é a obra de que consta esta frase, à qual se acrescentam trabalhos sobre Los socialistas en la política española (1997) ou a muito recente La Guerra civil española: De la Segunda República a la dictadura de Franco, editada este ano.

Santos Juliá nasceu em 1940 na Galiza, mais precisamente em Ferrol (A Corunha). Doutorou-se em Ciências Políticas e Sociologia na Universidad Complutense de Madrid e dirigia o Departamento de História Social e do Pensamento Político da Universidad Nacional de Educación a Distancia, uma instituição pública. Assinou ainda Un siglo de España: Política y Sociedad (1999), El aprendizaje de la libertad. Memoria de la transición (2000), Violencia política en la España del siglo XX (2000) ou História de Espanha (2003), que assinou com Julio Valdeón e Joseph Pérez e que está editado em Portugal pelas Edições 70.

Morreu no Hospital Puerta de Hierro, em Madrid, sem que a imprensa revele as causas do óbito, na véspera de um acontecimento que marcará a história política recente em Espanha: a exumação dos restos mortais de Francisco Franco do Vale dos Caídos, complexo que o ditador mandou erguer em honra dos nacionalistas mortos na Guerra Civil. Esta exumação foi ordenada pelo governo espanhol, que aplicou a Lei da Memória Histórica para eliminar o único monumento fúnebre a um ditador que resistia na Europa. O Vale dos Caídos, a 40km de Madrid, não vai ser demolido — Santos Juliá acreditava ser a única forma de dar novo simbolismo ao local. “O monumento pode ir abaixo e quando isso acontecer terá novo significado se for uma ruína”, dizia ao El País em Março de 2018.

Outro dos temas da actualidade sobre as quais se pronunciou foi sobre a demanda da independência catalã, que na última semana causou manifestações, por vezes violentasem Barcelona. Juliá, conotado com a esquerda historiográfica, considerava que “a campanha de legitimação dos nacionalistas catalães está baseada em mentiras” muitas vezes repetidas. “Se dizem: Espanha rouba-te, crias esse sentimento”, disse em 2017 ​numa entrevista recordada esta quinta-feira pelo diário ABC.