A igualdade de género “não é ciência aeroespacial, é só senso comum”
Quando há uma pequena percentagem de mulheres em instituições e empresas, elas acabam por não ter a mesma experiência educacional, à semelhança do que acontece com qualquer minoria, que nunca tem as mesmas vantagens profissionais e sociais que a maioria, defende a professora universitária.
A professora e matemática norte-americana Lenore Blum, que tem trabalhado por uma maior participação das mulheres na área das ciências, defendeu que, apesar de todos os progressos na igualdade de género, é preciso manter a vigilância e mudar microculturas. Em entrevista à agência Lusa, na véspera da sua participação no seminário “Porque é que ainda temos de falar da Igualdade de Género em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (CTEM)?”, a professora de ciência da computação na universidade de Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, apontou que tem havido muitos progressos no que diz respeito à participação de mulheres nestas áreas, mas defendeu que é preciso ser “constantemente vigilante”.
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A professora e matemática norte-americana Lenore Blum, que tem trabalhado por uma maior participação das mulheres na área das ciências, defendeu que, apesar de todos os progressos na igualdade de género, é preciso manter a vigilância e mudar microculturas. Em entrevista à agência Lusa, na véspera da sua participação no seminário “Porque é que ainda temos de falar da Igualdade de Género em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (CTEM)?”, a professora de ciência da computação na universidade de Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, apontou que tem havido muitos progressos no que diz respeito à participação de mulheres nestas áreas, mas defendeu que é preciso ser “constantemente vigilante”.
“Há muitas coisas na macro e microculturas e nas culturas dos países que são tão prejudiciais que quando fazemos progressos não podemos ficar a gozar os louros, temos de continuar vigilantes e activos”, apontou, justificando, por isso, que continue a fazer sentido falar de igualdade de género.
Professora na universidade de Carnegie Mellon há 45 anos, Lenore Blum disse que nessa altura implementou medidas para aumentar o número de mulheres nas áreas da CTEM que são parecidas com as que promove ainda hoje. “A ideia é sempre a mesma, não se trata de ciência aeroespacial, é senso comum. Talvez o senso comum não seja tão comum, mas basicamente a minha tese é a de que podemos mudar ao nível da microcultura”, defendeu.
“A diversidade é uma mais-valia”
Deu como exemplo o trabalho que tem vindo a fazer no local onde trabalha, sublinhando que actualmente há uma proporção de 50/50 entre homens e mulheres na universidade de Carnegie Mellon, “que é uma das mais competitivas universidades do planeta em ciências de computação”, quando, nos anos 1990, esse número era de cerca de 8%.
Defendeu que quando há uma pequena percentagem de mulheres, elas acabam por não ter a mesma experiência educacional, à semelhança do que acontece com qualquer minoria, que nunca tem as mesmas vantagens profissionais e sociais que a maioria. “Por isso, quando cheguei [à universidade] defendi que houvesse modelos a seguir, houvesse um sistema de irmã mais velha/irmã mais nova em que todas as estudantes ajudassem à integração das que chegavam, que se garantisse oportunidades para que todas as mulheres pudessem dar palestras e ser modelos de liderança e houvesse condições físicas para criar redes de contactos e de trabalho”, apontou.
De acordo com Lenore Blum, depois destas medidas terem sido implementadas conseguiram começar a atrair mais raparigas e mulheres, para o que também contribuiu o trabalho feito junto dos liceus, medidas que “podem ser feitas em qualquer lado”, desde que haja quem dirija e recursos para tal. “A diversidade é uma mais-valia que torna melhor a força de trabalho e isso também se está a tornar parte do mundo empresarial”, apontou.
Opinião partilhada pela organizadora do seminário, segundo a qual é necessário mostrar que a engenharia permite uma diversidade de ocupações e que também há cientistas mulheres. “Está provado que em todos os grupos onde existem mulheres, o rendimento acaba por ser melhor”, apontou Helena Geirinha Ramos, do Instituto Superior Técnico de Lisboa.
De acordo com a responsável, a realidade neste instituto superior ainda é de uma minoria de mulheres, onde, no global, há cerca de 30% de raparigas que ingressam nos cursos, um valor que depois varia de curso para curso.
Helena Ramos disse estar também preocupada com o reduzido número de mulheres que chega ao topo da carreira, como professor catedrático ou professor associado, quando há cada vez mais mulheres a fazer doutoramentos e com qualificações superiores. “Achamos que será interessante discutir quais são as acções que podem ser feitas para aumentar o número de raparigas a entrar no Técnico”, explicou, para justificar a organização do seminário.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, vai estar presente na sessão de abertura.