Os supostos grupos opacos que disputam o PSD
Pelo que Rui Rio e alguns dos seus mais empenhados defensores dizem, o seu combate faz-se contra a ameaça de organizações concebidas para viciarem as escolhas democráticas e apropriarem-se dos recursos públicos.
Na sua patriótica missão de sacrifício em favor da pátria, Rui Rio decidiu recandidatar-se à liderança do PSD porque, na presente circunstância, lhe compete “colocar o interesse público acima de tudo”. Pode haver nesta visão da questiúncula que corrói o partido um óbvio respigo de arrogância que leva Rui Rio a considerar que o futuro é com ele, ou simplesmente não haverá futuro.
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Na sua patriótica missão de sacrifício em favor da pátria, Rui Rio decidiu recandidatar-se à liderança do PSD porque, na presente circunstância, lhe compete “colocar o interesse público acima de tudo”. Pode haver nesta visão da questiúncula que corrói o partido um óbvio respigo de arrogância que leva Rui Rio a considerar que o futuro é com ele, ou simplesmente não haverá futuro.
Mas, muito ao seu jeito frontal, Rui Rio explica essa sua missão. Porque, diz, quer salvar o partido de uma deriva liberal — o que faz parte do bom combate político; porque quer evitar que uma guerra fratricida destrua o partido — o que já custa a perceber porque nada fez ou faz para evitar o conflito; ou, mais patriótico ainda, porque o PSD corre o risco de ser tomado “por grupos organizados de perfil pouco ou nada transparente”. Nada foi dito sobre que grupos são esses, mas juntando a declaração a acusações de alguns dos apoiantes de Rui Rio, fica-se a perceber que em causa está a maçonaria e alegados interesses do mundo dos negócios viciados na contratação pública.
Se nada disto parece preocupar muito o país é porque se deu de barato que as disputas internas no partido se enquadram nos padrões de uma telenovela mexicana. No caso, porém, não é só o ódio, a traição, o instinto de vingança entre candidatos e seus apoiantes que fazem mover a narrativa. Pelo que Rui Rio e alguns dos seus mais empenhados defensores dizem, o seu combate faz-se contra a ameaça de organizações concebidas para viciarem as escolhas democráticas e se apropriarem dos recursos públicos.
Chegados aqui, deixa de fazer sentido olhar para a eterna quezília do PSD como um assunto de comadres. Importa saber quem são e como se mobilizam esses alegados interesses pouco “transparentes” para tomarem de assalto o PSD e, a partir deste trampolim, se instalarem no coração do Estado.
Com Miguel Pinto Luz a surgir como uma terceira via para recolher os despojos do combate Rio-Montenegro, os dois protagonistas do combate decisivo (até agora, pelo menos) têm de sustentar as acusações que fazem e, se tal acontecer, exibir provas claras em sua defesa. Que o PSD permaneça um eterno saco de gatos nas suas lutas internas até tem a sua graça — e ajuda a firmar uma certa imagem de vitalidade do partido. O mesmo não acontece quando no debate há suspeitas gravíssimas relacionadas com interesses ocultos.
O PSD é um partido fundamental para o equilíbrio do sistema partidário e político do país; transformá-lo no alvo de uma disputa que envolve supostas organizações de malfeitores só o desprestigia e afunda.