Alqueva vai ter o maior projecto fotovoltaico flutuante da Europa
Contrato de subconcessão à EDP, por ajuste directo, das centrais hidroeléctricas de Alqueva e Pedrógão tem custos incomportáveis, pelo que a empresa que explora o empreendimento procurou outras soluções para levar água aos sistemas de rega.
Vão ser investidos 50 milhões de euros em dez unidades de energia solar a instalar nos espelhos de água que dão suporte ao sistema de rega e que irão produzir 90GWh/ano. Esta é a solução alternativa que a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) preconiza para superar os elevados custos que a EDP cobra pelo fornecimento de energia que o megassistema de rega consome para levar água aos 120 mil hectares de regadio a que, até 2025, irão somar-se mais 50 mil hectares.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Vão ser investidos 50 milhões de euros em dez unidades de energia solar a instalar nos espelhos de água que dão suporte ao sistema de rega e que irão produzir 90GWh/ano. Esta é a solução alternativa que a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) preconiza para superar os elevados custos que a EDP cobra pelo fornecimento de energia que o megassistema de rega consome para levar água aos 120 mil hectares de regadio a que, até 2025, irão somar-se mais 50 mil hectares.
A alternativa baseada na energia solar já tinha sido avançada pelo presidente da EDIA, Pedro Salema, em 2015 para assim mitigar os custos energéticos que a empresa é forçada a suportar por determinação do contrato entre o Estado e a EDP. A decisão tomada pelo primeiro Governo de José Sócrates veio contrariar os pressupostos-base iniciais do projecto de que as centrais hidroeléctricas viabilizariam o Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EFMA).
Em sede de contraditório, quando o Tribunal de Contas (TdC) realizou uma auditoria em 2016 ao contrato de subconcessão à EDP, por ajuste directo, das centrais hidroeléctrica de Alqueva e Pedrógão, por 35 anos, o presidente do conselho de administração da EDIA, Pedro Salema reconheceu que a decisão veio “afectar de forma particularmente impactante toda a economia do EFMA.
A auditoria do TdC veio confirmar que o “interesse público” não foi devidamente salvaguardado. As consequências da subconcessão à EDP viriam a revelar-se anos mais tarde lesivas para a gestão da EDIA, obrigada a suportar custos incomportáveis no pagamento da energia que o sistema de rega consome.
Além da redução da factura energética, a opção pelo fotovoltaico deriva também das condições privilegiadas que o Alentejo dispõe para esta forma de energia renovável e das sucessivas reduções do preço da água que a empresa gestora do projecto de regadio tem de suportar por imposição da tutela.
A diminuição sustentada dos encargos energéticos nas operações de exploração do EFMA “é um objectivo a manter pela EDIA nos próximos anos até que se consiga atingir o ponto de optimização máximo de toda a infra-estrutura”, anuncia a EDIA através de comunicado.
Assim, a EDIA vai lançar um procedimento contratual para o “fornecimento, instalação e licenciamento de dez unidades de produção para autoconsumo (UPAC) junto às estações elevatórias” da rede primária do EFMA. O concurso incluirá também a manutenção e operação durante os primeiros cinco anos.
Este projecto compreende a instalação de dez centrais fotovoltaicas flutuantes com uma potência instalada total de 50 MWp que irão ocupar uma área com cerca de 50 hectares sobre a água. As estimativas do projecto apontam para a instalação de 127 mil painéis fotovoltaicos.
Com uma produção estimada em 90GWh/ano, a energia obtida pelo conjunto destas centrais fotovoltaicas seria suficiente para abastecer cerca de 2/3 de toda a população do Baixo Alentejo. Para a EDIA, “será o maior projecto fotovoltaico flutuante da Europa e terá como preço-base 50 milhões de euros, financiados em 45 milhões de euros pelo Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa e 5 milhões de capitais próprios da EDIA.”
A maior das dez centrais fotovoltaicas instaladas sobre estruturas flutuantes irá ocupar 28 hectares de área junto à estação elevatória dos Álamos, que fornece água ao subsistema do Alqueva. Será a mais extensa da Europa instalada em superfície líquida.
A energia será dirigida para as estações elevatórias que lhes estão dedicadas para autoconsumo e, “só quando esta energia não for suficiente ou quando existir um excedente, irá ser comprada (ou vendida) à rede nas condições de mercado, actualmente em vigor”, salienta a EDIA.
Estas centrais fotovoltaicas ficarão integradas na paisagem, pois “irão ficar dissimuladas nos reservatórios cuja cota se situa acima do horizonte visual, ou em localizações afastadas dos principais eixos rodoviários”, esclarece a empresa. A instalação destas centrais na proximidade das estações elevatórias que consumirão a electricidade gerada permitirá, “além da respectiva descarbonização, a eliminação das perdas por transmissão e a redução de potência pedida à rede, em geral durante o Verão e em especial durante os períodos de ponta”, conclui a EDIA.
O EFMA tem já instaladas várias centrais fotovoltaicas, incluindo na cobertura do seu edifício sede em Beja, e há uma central flutuante de 1 MW em construção.
As novas áreas de expansão dos perímetros de rega de Alqueva (mais 50 mil hectares) previstas para os próximos anos também irão ser equipadas com sistemas baseados na energia solar.