Congresso define “lugar próprio e inconfundível” de Fernando Namora na literatura
Centenário do nascimento do autor de Retalhos da Vida de um Médico é assinalado ao longo de três dias em Lisboa, Vila Franca de Xira e Condeixa-a-Nova. O programa inclui conferências, uma exposição e lançamento de novos livros.
O congresso internacional dedicado ao escritor Fernando Namora (1919-1989), que abre esta quinta-feira em Lisboa, traz “uma abordagem marcada pelo rigor” da investigação, acentuando “o lugar próprio e inconfundível” do autor na narrativa portuguesa, disse o presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE).
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O congresso internacional dedicado ao escritor Fernando Namora (1919-1989), que abre esta quinta-feira em Lisboa, traz “uma abordagem marcada pelo rigor” da investigação, acentuando “o lugar próprio e inconfundível” do autor na narrativa portuguesa, disse o presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE).
José Manuel Mendes, presidente da APE e um dos participantes no congresso, destacou à agência Lusa a importância do autor e recordou que, “antes de José Saramago, a obra mais traduzida [na literatura portuguesa] era a de Fernando Namora”, com títulos como Domingo à Tarde, Casa da Malta e Retalhos da Vida de um Médico, muitos deles adaptados ao cinema e à televisão.
O congresso, realizado no âmbito dos 100 anos do escritor, decorre em Lisboa, Vila Franca de Xira e Condeixa-a-Nova, onde se localiza a Casa-Museu Fernando Namora, co-organizadora da iniciativa com o Museu do Neo-Realismo, de Vila Franca de Xira, e o Centro de Estudos Comparatistas, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Fernando Namora, os começos é o título da conferência de abertura do congresso, pela catedrática em literatura Paula Morão, esta quinta-feira, na Reitoria da Universidade de Lisboa. Fernando Namora e o Neo-Realismo português e Abalos e sacrifícios, por Vítor Pena Viçoso e Rita Patrício, respectivamente, ambos da Universidade de Lisboa; A função do escritor e da literatura, por Cândido Martins, da Universidade do Minho; e Fernando Namora et la question identitaire, pelos investigadores Pierrette e Gérard Chalendar, são outras abordagens do primeiro dia do congresso.
Domingo à Tarde e a sua adaptação ao cinema por António de Macedo serão analisados pelo investigador José Manuel de Vasconcelos, enquanto o professor da Universidade de Coimbra Carlos Reis abordará Uma poética da narrativa breve em Fernando Namora. O primeiro dia encerra com o lançamento do livro O Humanismo de Fernando Namora, de Armindo Pires Nunes, da Universidade Aberta.
O romance Diálogo em Setembro, por Carina Infante do Carmo, da Universidade do Algarve, abre o segundo dia de trabalhos, no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. Seguem-se as intervenções A narrativa breve de Fernando Namora, por António Manuel Ferreira, da Universidade de Aveiro; Fernando Namora e as viagens literárias, por Fernando Batista, da Universidade do Porto; a aldeia de Monsanto na obra do escritor, por Armindo Pires Nunes; e ainda uma “reflexão sobre a escrita e o escritor” na sua obra autobiográfica, por Yana Andreeva, da Universidade de Sófia. O segundo dia termina com a apresentação do catálogo e uma visita guiada à exposição E não sei se o mundo nasceu, Fernando Namora 100 anos.
O terceiro e último dia, na Casa-Museu Fernando Namora, em Condeixa-a-Nova, conta com Isabel Cristina Mateus, da Universidade do Minho, que fala de Fernando Namora ou a arte de desengravatar teorias; e Maria de Lurdes Sampaio, da Universidade do Porto, que recorda leituras de Namora, No tempo da ‘medicina mágica'. O congresso encerra com uma visita guiada à Casa-Museu, com o lançamento da revista Algar e a conferência Fernando Namora, inventários, por José Manuel Mendes.
Em declarações à Lusa, Mendes referiu-se a Namora como “um dos maiores escritores portugueses do século XX”, e sublinhou a redição em curso da sua obra, “dado o interesse” nos seus romances. Em 2016, a Editorial Caminho iniciou a reedição de Namora com Retalhos da Vida de um Médico, a que se seguiram Fogo na Noite Escura, Domingo à Tarde, Minas de San Francisco e Rio Triste. Dois outros romances deverão ser reeditados em 2020, disse à Lusa fonte editorial.
Nascido há cem anos em Condeixa-a-Nova, no distrito de Coimbra, Fernando Namora licenciou-se em 1942 em Medicina. Estreou-se na literatura em 1937, com a poesia de Relevos, a que se seguiu o primeiro romance As Sete Partidas do Mundo (1938). Seguiram-se cerca de 30 títulos, até perto da morte, em 1989, como O Homem Disfarçado, Cidade Solitária, A Nave de Pedra, Cavalgada Cinzenta, Resposta a Matilde, ou Jornal sem Data.
Fez parte da tertúlia que juntou Carlos Oliveira, Mário Dionísio, Joaquim Namorado e João José Cochofel. No passado mês de Agosto, foi condecorado, a título póstumo, pelo Presidente da República, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Ao longo da carreira, foi distinguido com o Prémio Ricardo Malheiros (1953), a Medalha de Ouro da Societé d'Encouragement au Progrés (1979), o grau de Grande-Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada (1979), o Prémio D. Dinis (1982) e a Grã-Cruz da Ordem do Infante (1988).