Braga cria Index para consolidar relação entre arte e tecnologia

A primeira edição do evento decorre desta quarta-feira até 27 de Outubro, com performances, exposições e conversas que debatem o panorama das media arts. O Index pode mesmo transformar-se numa bienal, em 2021.

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Uma performance onde o corpo humano se move em sincronia com o que está expresso em canais de vídeo, uma exposição onde pinturas holandesas dos séculos XVII e XVIII são recriadas a partir de um algoritmo e uma conversa com a fundadora da colecção de videoarte do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Barbara London: todos estes momentos estão reunidos na primeira edição do Index, evento dedicado à relação entre arte e tecnologia, que se estende desta quarta-feira até domingo.

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Uma performance onde o corpo humano se move em sincronia com o que está expresso em canais de vídeo, uma exposição onde pinturas holandesas dos séculos XVII e XVIII são recriadas a partir de um algoritmo e uma conversa com a fundadora da colecção de videoarte do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Barbara London: todos estes momentos estão reunidos na primeira edição do Index, evento dedicado à relação entre arte e tecnologia, que se estende desta quarta-feira até domingo.

Em Braga, Cidade Criativa da UNESCO para as media arts desde 31 de Outubro de 2017, o  programa inaugural deste evento reparte-se por três eixos: pensamento, exposição e performance. Este último vai decorrer integralmente no Theatro Circo, nestas quarta-feira e quinta-feira. No dia 24, o palco acolhe a obra audiovisual do canadiano Martin Messier e do francês Yro e a performance da italiana Michela Peluso, baseada na variação da luz consoante a rotação de uma corda. No dia anterior, o japonês Hiroaki Umeda sobe ao palco durante 30 minutos, para reproduzir movimentos associados às células, em sincronia com projecções vídeo, na obra Median. Ao PÚBLICO, o coreógrafo explicou que o seu trabalho se foca muito na representação de fenómenos naturais. “Na minha peça, não há nenhuma história, nem mensagem concreta. Quero que as pessoas vivenciem um fenómeno”, disse.

Vai também haver palco para a criação portuguesa. A partir de um trabalho em que retratou com som a linguagem corporal humana e de uma residência artística em Harvard (Estados Unidos), Rudolfo Quintas decidiu colaborar com pessoas invisuais para criar Darkless. Para esta apresentação, o artista trabalhou com sete invisuais de Braga. Dois deles vão apresentar uma escultura sonora. A obra, disse o autor, pretende suscitar a reflexão de quem vê sobre questões humanísticas e sociais. “A visão ocupa um espaço predominante, com redes sociais e telemóveis, mas é também fonte de ansiedade para a maior parte de nós. Esta obra de arte sonora pode funcionar como uma redescoberta”, disse, ao PÚBLICO.

Em todas estes trabalhos, a tecnologia é “estruturante”, explicou o programador, Luís Fernandes. “Não é apenas uma muleta ou um acessório”. O mesmo acontece com as exposições, espalhadas por quatro espaços da cidade, acrescenta. Além da recriação das pinturas geradas por inteligência artificial, pelo canadiano Adam Basanta, o evento também oferece uma instalação que descreve fenómenos da natureza a partir de luz (Robert Henke), uma obra que retrata os ambientes sonoros pós-morte, de Jacob Kirkegaard, e uma criação vídeo, que explora a relação entre cor, tempo e espaço, de Norimichi Hirakawa.

Mas o evento também se faz de conversas entre artistas, agentes culturais e políticos e especialistas na relação entre arte e tecnologia. A primeira delas, que envolve Barbara London, realiza-se esta quarta-feira, no espaço Gnration, e reflecte sobre o lugar da tecnologia no universo da arte contemporânea, mas também se vai debater relação entre arte, tecnologia, ciência e sociedade e ainda estratégias para as Cidades Criativas da UNESCO nesse campo, com intervenientes de outras cidades com esse estatuto — Toronto (Canadá), Iorque (Inglaterra) e Linz (Áustria). “Este evento tem um ângulo muito pedagógico”, explicou ao PÚBLICO Luís Fernandes.

Index pode tornar-se bienal em 2021

O Index é, na sua primeira edição, um “evento menor em termos de duração e de oferta”, acrescentou Luís Fernandes, mas tem o potencial para se transformar numa bienal de media arts já em 2021, algo que já existe noutras partes do mundo, mas não em Portugal. A iniciativa enquadra-se ainda na candidatura da cidade minhota a Capital Europeia da Cultura em 2027, em que as media arts são um alicerce “estruturante”, realçou.

Esta iniciativa complementa ainda o trabalho até agora realizado na música electrónica e na arte sonora, com o festival Semibreve, fundado em 2011. “A criação do Index teve em conta a complementaridade com o Semibreve”, explicou Luís Fernandes. “São eventos distintos e cada um tem a sua identidade e relevância.”