Cidades ainda desvalorizam riscos a longo prazo causados pelas alterações climáticas
Das 620 cidades que responderam ao inquérito da organização não-governamental, 85% já experimentaram problemas relacionados com as alterações climáticas. Em Portugal, Guimarães aparece como a que identificou mais riscos.
Desde 2011 que a organização não-governamental Carbon Disclosure Project (CDP) questiona os governos de cidades em todo o mundo sobre a forma como estão a avaliar os riscos das alterações climáticas e as medidas que estão a tomar para os combater. Em 2018, 620 cidades responderam, incluindo várias portuguesas, e as conclusões indicam que 85% delas já experimentaram problemas relacionados com essas alterações. Mas apenas 46% dessas cidades completou o que a CDP classifica como “avaliação de vulnerabilidade” e o grupo deixa um alerta: “O primeiro passo para gerir o risco é medi-lo.”
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Desde 2011 que a organização não-governamental Carbon Disclosure Project (CDP) questiona os governos de cidades em todo o mundo sobre a forma como estão a avaliar os riscos das alterações climáticas e as medidas que estão a tomar para os combater. Em 2018, 620 cidades responderam, incluindo várias portuguesas, e as conclusões indicam que 85% delas já experimentaram problemas relacionados com essas alterações. Mas apenas 46% dessas cidades completou o que a CDP classifica como “avaliação de vulnerabilidade” e o grupo deixa um alerta: “O primeiro passo para gerir o risco é medi-lo.”
Segundo os dados compilados por esta organização, as cidades identificaram como principais problemas decorrentes das alterações climáticas as cheias (71%), o calor extremo (61%) e as secas (36%). Mas, alerta a CDP, a tendência é para que haja um enfoque no relato dos perigos esperados a curto e médio prazo, e menos preocupação na avaliação dos perigos que possam surgir a longo prazo. O relatório que é divulgado esta terça-feira indica que apenas 11% das cidades que responderam ao inquérito se referiram a essas consequências. “Com 77% dos perigos de longo prazo a serem referidos como constituindo uma ameaça séria ou extremamente séria, as cidades devem preparar-se para estes impactos substanciais de longo alcance e devem começar a assumir os seus riscos de médio e longo prazo com mais empenho”, lê-se no documento.
O alerta é deixado também para que as cidades façam mais avaliações de vulnerabilidade, já que, segundo a CDP, os municípios que desenvolvem estas acções “têm duas vezes mais probabilidade (2,7x) de relatarem problemas a longo prazo e estão, em média, a tomar quase seis vezes mais acções de adaptação (5,7x) do que as cidades que não fizeram essas avaliações, o que significa que estão mais bem preparadas para se tornarem mais resilientes”.
Entre os serviços que mais irão ser afectados pelos potenciais riscos, as cidades identificam “sem surpresa” os serviços públicos de saúde, refere-se no relatório. “Cada meio grau de aquecimento resultará na deterioração da saúde pública”, alerta a CDP, que espera um aumento de doenças causadas por vectores (como a malária ou o dengue). Mas a pressão não se ficará por aí e a previsão é que as alterações climáticas “exacerbem desafios sociais e económicos já existentes”.
Este ano, o relatório da CDP é acompanhado por um mapa interactivo em que as cidades que participaram no inquérito são classificadas com uma “pontuação de risco”. Os dados devem, contudo, ser lidos com cautela, já que dependem exclusivamente das informações enviadas pelas cidades à organização. Para obter a pontuação, a CDP multiplicou o número de riscos reportado por cada cidade pela severidade associada a cada um desses riscos (pouco severa, severa ou extremamente severa).
Assim, mediante as respostas enviadas por 14 municípios portugueses, Guimarães aparece como a cidade portuguesa que mais riscos identificou – o que lhe dá uma pontuação de 16 – depois de ter referido como perigos que já se fazem sentir ou que se farão sentir a curto prazo, ondas de calor, deslizamentos de terra, vento severo, condições meteorológicas extremas, tempestades, cheias e incêndios florestais. Ovar, com 14 pontos, aparece logo a seguir (referindo-se a tempestades, vento severo, inundações costeiras, contaminação por água salgada, acidificação do oceano, fogos florestais e inundações rápidas), com Lisboa (11) e Porto (8) um pouco mais atrás.
A nível mundial, o Rio de Janeiro, com uma pontuação de 35 é a cidade que mais riscos reportou. A cidade identificou como risco dias calor extremo, ondas de calor, incêndios florestais, chuvas intensas, tempestades eléctricas, deslizamentos de terras, quedas de pedras, cheias repentinas, cheias de rios, doenças relacionadas com a água, doenças de vectores, doenças causadas pela qualidade do ar, inundações permanentes, seca, vento severo e cheias costeiras.
Notícia corrigida a 22 de Outubro, com informação sobre a “pontuação de risco”. A pontuação não identifica a cidade pior, mas aquela que mais riscos identificou.