Para sentar o Chega sem incomodar o CDS é preciso abrir uma nova porta na bancada do plenário

Deputados queixam-se do mau acesso a alguns lugares no hemiciclo. A solução para André Ventura não ter de pedir licença ao CDS para passar é abrir-se um novo acesso, cortando o corrimão de madeira do lado da bancada mais à direita.

Foto
Hemiciclo LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Ainda não se sentaram no plenário e a arrumação dos novos deputados únicos já está a incomodar os restantes partidos. Pelo menos o Chega já está a incomodar o CDS. André Ventura pediu para se sentar o mais à direita do plenário mas, para que isso aconteça, os deputados do CDS-PP da segunda fila terão de se levantar para lhe dar passagem. É que a segunda fila da bancada do lado direito da sala não tem um acesso livre - há um corrimão de madeira a fechar o acesso, lembrou o deputado Telmo Correia, na última conferência de líderes.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Ainda não se sentaram no plenário e a arrumação dos novos deputados únicos já está a incomodar os restantes partidos. Pelo menos o Chega já está a incomodar o CDS. André Ventura pediu para se sentar o mais à direita do plenário mas, para que isso aconteça, os deputados do CDS-PP da segunda fila terão de se levantar para lhe dar passagem. É que a segunda fila da bancada do lado direito da sala não tem um acesso livre - há um corrimão de madeira a fechar o acesso, lembrou o deputado Telmo Correia, na última conferência de líderes.

A solução? Sentar André Ventura na terceira fila, propôs o deputado do CDS-PP - ao contrário do que pede o deputado do Chega, que se quer sentar na primeira fila (onde, aliás, não teria qualquer problema de acesso). O ecologista José Luís Ferreira foi mais prático e propôs a realização de obras nas bancadas abrindo-se, no corrimão de madeira do lado direito, uma pequena porta para o deputado do Chega aceder directamente ao lugar.

O relato da discussão é feito na súmula da reunião da conferência de líderes da passada semana. Ferro Rodrigues apresentou aos deputados duas propostas para a distribuição de lugares tendo em conta a eleição de novos deputados do Chega, da Iniciativa Liberal e do Livre, mas também as mudanças nos outros partidos: o PAN cresceu de um para quatro, o PCP reduziu de 15 para 10, o PS aumentou de 86 para 108, o PSD diminuiu de 89 para 79 e o CDS-PP passou de 18 para cinco.

Perante tanta mudança, foi o comunista João Oliveira quem veio dizer que a nova “geometria” quase que justificava “novas obras na sala das sessões” para “albergar outras soluções”. José Luís Ferreira (PEV) referiu também que “qualquer solução encontrada para a distribuição de lugares deve garantir o acesso à primeira fila a todos os grupos parlamentares [o que não inclui os deputados únicos] porque o PEV já sofreu essa discriminação por demasiado tempo”.

Ora, Ferro propôs que os deputados únicos se sentassem, como é da praxe, na segunda fila, ficando o Chega do lado direito da sala, a Iniciativa Liberal entre o PSD e o CDS, e o Livre entre o PCP e o PS. Dois dos cinco deputados do CDS ficariam na fila da frente e três na segunda fila, o que faria com que André Ventura ficasse no meio do grupo de centristas. A outra hipótese era o deputado da Iniciativa Liberal sentar-se ao lado de André Ventura, na segunda fila, o que dividia ainda mais o grupo do CDS.

Mas Telmo Correia avisou logo que embora a distribuição fosse “correcta do ponto de vista da ideologia”, as soluções “causam problemas” ao grupo parlamentar do CDS por ficar com um deputado de outro partido no meio dos seus e porque aquelas cadeiras são as com o “pior acesso em toda a sala das sessões”. Os deputados que se sentam na segunda fila têm de pedir passagem por causa do corrimão de madeira que ali existe. Referiu, por isso, que “seria melhor que o deputado do Chega passasse para a terceira fila ou mais para dentro”.

Em seu socorro veio o bloquista Pedro Filipe Soares que partilhou da queixa de dificuldade de acesso a alguns lugares da bancada do Bloco, onde até se chegou a equacionar a hipótese de pedir cadeiras sem braços, mas isso levantava a questão de haver diferentes cadeiras na mesma sala.

Já o PSD afirmou não ter qualquer problema que o deputado da Iniciativa Liberal se sente ao seu lado.

Mas já esta terça-feira, à saída da última conferência de líderes desta legislatura, Telmo Correia sentiu necessidade de se explicar. “Quero deixar muito claro temos divergências políticas com todos os partidos, mas não é uma questão política; é uma questão prática. (...) Por uma questão de funcionamento e até de recato dos deputados do grupo poderem falar entre si, nós somos o único grupo que temos um deputado que não é do grupo dentro do nosso espaço; isso não acontece com mais nenhum grupo parlamentar”, afirmou o centrista aos jornalistas.

O acesso à segunda fila da bancada do plenário é estreito, com uma passagem muito difícil - há um corrimão a tapar esse acesso do lado direito da sala, junto à bancada dos assessores e seguranças, mas os deputados preferem usar essa entrada. Os deputados do CDS, “para chegarem aos seus lugares vão ter que pedir a um deputado de outro partido para deixar passar”, apontou. E vincou: “Não estamos incomodados com ninguém. Não queremos é incomodar ninguém para chegarmos aos nossos lugares.”