Shane teve 15 minutos com Greta e retratou uma “futura líder mundial” com colódio húmido
O americano Shane Balkowitsch teve 15 minutos para fotografar Greta Thunberg usando o processo do colódio húmido. As imagens correram o mundo e são mais do que fotografias “de uma rapariga”: “é um retrato de uma futura líder mundial”.
Quando Shane Balkowitsch soube que Greta Thunberg iria visitar Standing Rock, reserva indígena que tão bem conhece por causa da sua série (já em livro) Northern Plains Native Americans: A Modern Wet Plate Perspective, pegou no telefone e fez uma chamada. Do outro lado, uma amiga, que trabalha no local, escutava o pedido: será que a activista sueca poderia dispensar 15 minutos do seu tempo para ele a imortalizar numa chapa de vidro?
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Quando Shane Balkowitsch soube que Greta Thunberg iria visitar Standing Rock, reserva indígena que tão bem conhece por causa da sua série (já em livro) Northern Plains Native Americans: A Modern Wet Plate Perspective, pegou no telefone e fez uma chamada. Do outro lado, uma amiga, que trabalha no local, escutava o pedido: será que a activista sueca poderia dispensar 15 minutos do seu tempo para ele a imortalizar numa chapa de vidro?
A mensagem passou e a resposta chegou: no início de Outubro, o fotógrafo de 50 anos, natural de Bismarck, Dakota do Norte, especialista no centenário processo do colódio húmido, lá fez os 170 quilómetros até Standing Rock, levando na bagagem o equipamento fotográfico, todos os químicos necessários e a câmara escura portátil. Encontraram-se no território dos Sioux, num terreno aberto, e foi aí que a sessão, ainda mais “desafiante” por ser ao ar livre e não no seu estúdio, se desenrolou. De lá saíram duas imagens de Greta Thunberg que agora correm o mundo: um retrato e uma fotografia de corpo inteiro, ambas em tons sépia, ambas com algo de magnético.
“A minha interacção com ela foi incrível”, conta Shane, numa entrevista por email ao P3. “Ela é muito calma e reservada, mas tem um encanto e uma presença difíceis de descrever, é como uma alma velha. Foi muito gentil e atenciosa.” Neste processo fotográfico, inventado em 1848, a imagem é captada para placas de vidro ou metal, que são cobertas por um líquido viscoso chamado colódio, levando depois um banho de nitrato de prata. Tudo é manual e leva tempo — e depende da paciência do retratado. “Greta teve de seguir as minhas instruções porque eram longas exposições de três segundos e tinha que ficar completamente imóvel. E ela estava de pé num campo com vento e foi incrível.”
À imagem de Greta de pé, Shane chamou Standing For Us All (“De pé por todos nós”, numa tradução livre) — porque está “a proteger o habitat de todos, até de quem a odeia”. O fotógrafo não resistiu ao ver o primeiro retrato “ganhar vida”, desenhando sorrisos em toda a audiência, e perguntou ao pai de Greta se poderia fazer mais um. “Absolutamente”, respondeu Svante. A fotografia está agora disponível, livre de direitos, no portal WikiCommons. “Espero que as minhas fotografias a ajudem na sua missão. Acho que as pessoas vão olhar para estas chapas daqui a 50, 100 anos e perceber o quão importante ela é para o nosso tempo.” Por outro lado, está a vender 250 impressões assinadas, cujas receitas se destinam a “ajudar os jovens de Standing Rock”, mais precisamente a apoiar o programa Immersion Nest, que, através da defesa da língua dakota/lakota, apoia estudantes locais.
Shane Balkowitsch, que nunca tinha tido uma câmara fotográfica antes de descobrir o colódio húmido há sete anos, tenta assim responder ao desejo de Svante Thunberg: quando o fotógrafo lhe perguntou o que poderia “fazer por Greta e pela sua causa”, o sueco respondeu-lhe que já tinha feito a sua parte ao captar estes retratos, mas pediu-lhe que as imagens fossem partilhadas com a já icónica mensagem de Greta, na Cimeira de Acção Climática: “As pessoas estão a sofrer. As pessoas estão a morrer. Ecossistemas inteiros estão a colapsar. Estamos no início de uma extinção em massa e só falam de dinheiro e contos de fadas de crescimento económico eterno. Como se atrevem?”
As duas fotografias tornaram-se entretanto virais, o que lhe granjeou elogios e louvores, mas também críticas e muitos haters à mistura. Houve quem condenasse o processo fotográfico devido à utilização de certos químicos nocivos ao ambiente, quem apontasse o dedo ao colar de prata de Greta, quem estivesse apenas “irracionalmente zangado com Greta”, comentários que valeram uma resposta do fotógrafo no Facebook.
“Eu sabia que as imagens seriam controversas, não tenho problemas com isso”, diz Shane, como quem encolhe os ombros. “Isto não é sobre dinheiro, é sobre vida.” Um dia, considera, “muita gente vai pedir-lhe desculpa pela sua ignorância e estupidez”. E realça que esta é mais “do que uma fotografia de uma rapariga”. “Na minha opinião é um retrato de uma futura líder mundial. Ela pode ter apenas 16 anos, mas a sua mensagem é de um ancião. Ouçam a ciência e ajam, é tudo o que ela nos está a pedir para fazer.”