O Jameson Urban Routes são vários mundos diferentes na mesma semana, na mesma sala
Reúne o hip hop brasileiro activista de Karol Conka e o indie do mesmo país dos Carne Doce. Tem o violoncelo de Kelsey Lu e o rock dos Battles, a Turquia dos holandeses Altin Gün e Bruno Pernadas e Moullinex a recuperar Plantasia. Desta terça-feira até sábado, o festival Jameson Urban Routes instala-se no Musicbox, em Lisboa
É um festival de música, mas “com as características de um festival de cinema”, com o público a dividir-se pelas várias sessões programadas ao longo da semana. É um festival que serve de concentrado, em cinco dias, daquele que é o espírito da sala que o acolhe. Chama-se Jameson Urban Routes e, entre esta terça-feira e sábado, leva ao Musicbox, em Lisboa, rock de peso e exploração (os Battles), nomes cintilantes do indie e do hip hop brasileiros (Carne Doce e Karol Conka), uma violoncelista com belíssimas assombrações na voz e uma harpista a estrear-se a solo (Kelsey Lu e Angélica Salvi) ou uma figura em grande ascensão do reggeaton e r&b latinos (a catalã Bad Gyal). E ainda uma banda de rock psicadélico turco nascida na Holanda (os Altin Gün) e Bruno Pernadas e Moullinex a reunirem-se para revisitar Plantasia, clássico de culto da música electrónica dos anos 1970.
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É um festival de música, mas “com as características de um festival de cinema”, com o público a dividir-se pelas várias sessões programadas ao longo da semana. É um festival que serve de concentrado, em cinco dias, daquele que é o espírito da sala que o acolhe. Chama-se Jameson Urban Routes e, entre esta terça-feira e sábado, leva ao Musicbox, em Lisboa, rock de peso e exploração (os Battles), nomes cintilantes do indie e do hip hop brasileiros (Carne Doce e Karol Conka), uma violoncelista com belíssimas assombrações na voz e uma harpista a estrear-se a solo (Kelsey Lu e Angélica Salvi) ou uma figura em grande ascensão do reggeaton e r&b latinos (a catalã Bad Gyal). E ainda uma banda de rock psicadélico turco nascida na Holanda (os Altin Gün) e Bruno Pernadas e Moullinex a reunirem-se para revisitar Plantasia, clássico de culto da música electrónica dos anos 1970.
O Musicbox, no Cais do Sodré, assumiu-se desde o seu nascimento como clube que toma o pulso, sem fronteiras estéticas, àquilo que marca o presente da música popular urbana. O Jameson Urban Routes, que conheceu primeira edição em 2006, nasceu como festival onde essa identidade se revela de forma compacta. “No Musicbox cabe tudo, no Jameson Urban Routes também tudo caberá”, diz o programador Pedro Azevedo. “Neste caso, trata-se de resumir o que faço ao longo do ano, mas com maior orçamento, portanto, com possibilidade de marcar artistas maiores”, explica, ilustrando-o com a protagonista de sessão 6 do festival, na madrugada de sexta-feira, entre as 0h30 e as 6h. “Dificilmente conseguiria ter uma Bad Gyal no Musicbox fora do contexto do Jameson Urban Routes”, confessa — a cantora de Candela ou de Santa Maria, que editou o ano passado o seu álbum de estreia, Worldwide Angel, vem afirmando o seu reggaeton cruzado de dancehall e r&b no cenário global. O concerto já está esgotado (e para as sessões de Battles, Altin Gün e de Kelsey Lu já restam poucos bilhetes), o que traz a Pedro Azevedo a memória de um dos acontecimentos do festival: em 2014, as entradas para o concerto dos Future Islands, sucesso viral à época à conta da actuação no programa de David Letterman e da peculiar dança do vocalista Samuel T. Herring, esgotaram em dois dias. “Ao aperceberem-se disso, os agentes queriam mudar o concerto para uma sala maior”, recorda o programador. Desejo recusado. “Não fazia sentido”, considera. “Faz parte do nosso papel ser um primeiro palco para estas bandas. E permite uma proximidade com o público mais intensa, no que é, de resto, uma das marcas do Musicbox”.
Bad Gyal será a cabeça-de-cartaz da sessão que inclui ainda Catxibi, ou seja Luísa Cativo, co-fundadora das festas Thug Unicorn, nascidas no Plano B, no Porto, e o DJ francês King Doudou. Será a sessão clubbing de sexta-feira, e sucede, no mesmo dia, ao concerto irrepetível preparado para o festival, aquele em que Bruno Pernadas e Moullinex apresentarão, em formato quinteto, a sua reinterpretação de Plantasia, álbum de música electrónica planante que o multifacetado Mort Garson editou em 1976 — com início marcado para as 21h30, será a Sessão 5 do festival. Depois de vários anos em que os bilhetes diários davam acesso a toda a programação do dia, o festival reorganizou-se, dividindo-se por várias sessões independentes — “como num festival de cinema”, lá está. “A coerência continua a ser importante, mas dentro das sessões” (os preços para cada uma variam entre os 10 e os 15€).
O Jameson Urban Routes traz no arranque, dia 22 de Outubro, o rock ciborgue, dos Battles, fenómeno quando se estrearam com Mirrored, em 2007, e que surgem dias depois de editarem o seu quarto álbum, Juice B Crypts, onde colaboram com nomes tão diversos quanto Xenia Rubinos, Tune-Yards, Shabazz Palaces ou Jon Anderson, vocalista dos Yes, banda clássica do rock progressivo. No dia seguinte, passa pela sala aquela que é uma das bandas em foco no panorama indie brasileiro, os Carne Doce. Fundado pelo casal Salma Jô (vocalista) e MacIoys Aquino, o quarteto visita Portugal pela primeira vez trazendo consigo Tônus, o terceiro álbum, êxtase-reflexão-catarse da forma como lidamos e como damos voz e corpo aos nossos desejos. Música intensa, tanto pela força eléctrica da interpretação como pelas performances de Salma Jô, os Carne Doce são apontados por Pedro Azevedo como “aquela que será a grande descoberta do festival” — serão acompanhados por Bruno de Seda, o alter-ego de romantismo irresistível de Bruno Martins, dos Equations, no âmbito de uma digressão portuguesa iniciada no Salão Brazil, em Coimbra, dia 22 de Outubro, e que passará também pelo Maus Hábitos, no Porto (dia 24), pelo Bang Venue, em Torres Vedras (dia 25) e pelo GrETUA, em Aveiro (dia 26).
Quinta-feira trará primeiro Kelsey Lu, cantautora que questiona e reclama o seu lugar no mundo enquanto mulher afro-americana, enquanto ser humano num mundo em convulsão, violoncelista que manipula os sons do instrumento para criar paisagens sonoras solenes, com a profundidade de Joni Mitchell e a intensidade das torch songs. Nessa mesma sessão, poderemos ouvir Angélica Salvi, a harpista espanhola radicada no Porto que se estreou recentemente a solo com o Phantone. Noite fora, outros sons: a americana DJ Haram a fazer a ponte entre o Médio Oriente, o noise e o tecno e a produtora brasileira Badsista, que acompanha Linn da Quebrada ao vivo e no estúdio (Odete e DJ Narciso, das RS Produções da Príncipe Discos, completam o programa da noite).
Sexta será o dia de Bad Gyal e será o momento de recuperar, através do concerto especial montado por Bruno Pernadas e Moullinex, uma vontade expressa de “desafiar músicos e estimular colaborações”, diz Pedro Azevedo. Será isso o concerto dedicado a Plantasia, dando sequência, muitos anos depois, a algo que nasceu no âmbito do festival e que ganhou depois vida estimulante — foi no festival que se apresentaram pela primeira vez uns certos Orelha Negra.
O festival encerrará no sábado com os Altin Gün, banda holandesa que recupera habilmente a rica tradição do rock da Anatólia da década de 1970, com temas do folclore turco em roupagens psicadélicas. Trazem ao festival Gece, o seu segundo álbum, e serão antecedidos em palco pelas intensas divagações sónicas dos portugueses Mômus. Depois, a festa final com Chong Kwong, a antiga vocalista de La Dupla que ressurgiu agora a solo, mais que preparada para reclamar o seu lugar no cenário musical português, com o set de Shaka Lion e, principalmente, com Karol Conka (que também actuará no Hard Club, no Porto, dia 27). A cantora de Boa noite, a voz feminista do conturbado Brasil contemporâneo, a autora de Batuk Freak apresenta em Portugal Ambulante, o álbum mais recente, editado em 2018.