O cancro de mama não é cor-de-rosa! O cancro de mama é solidão

Gostaria de deixar um apelo aos nossos governantes para que se consciencializem com esta doença, não somente no mês de Outubro, e destinem mais recursos para a investigação de todo o tipo de cancros.

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Allef Vinicius/Unsplash

Naquele dia, 20 de Setembro de 2018, notei algo anormal na base do meu seio que me levou a ir às urgências. Longe de pensar que poderia ser cancro, pois tinha feito o check up há cerca de meio ano. Não havia antecedentes na minha família. Além disso, porque sou a mais nova de cinco irmãs, atribuí aquele vulto ao novo modelo de soutien que tinha adquirido recentemente, pois o tumor estava localizado precisamente na zona do aro. 

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Naquele dia, 20 de Setembro de 2018, notei algo anormal na base do meu seio que me levou a ir às urgências. Longe de pensar que poderia ser cancro, pois tinha feito o check up há cerca de meio ano. Não havia antecedentes na minha família. Além disso, porque sou a mais nova de cinco irmãs, atribuí aquele vulto ao novo modelo de soutien que tinha adquirido recentemente, pois o tumor estava localizado precisamente na zona do aro. 

Fiz uma grande maratona de exames. Confirmou-se: carcinoma ductal infiltrante de grau 2, sem componente in situ e cerca de 5% de infiltrado inflamatório do estroma. RE 20%, RP 20%, her2 3+, ki67 35%. Ao saber isto, o mundo caiu-me aos pés, ao ponto de aceitar a própria morte! 

Foi graças à ajuda de familiares, amigos e, obviamente, da minha querida oncologista que pensei agarrar-me à vida e tratar de levar o tratamento da melhor maneira possível. Nesse sentido, concentrei-me em fazer pesquisas para minimizar os efeitos secundários do tratamento agressivo de quimioterapia e consultar uma boa nutricionista.

Considerei essa parte tão importante quanto os tratamentos, bem como a parte estética. Adquirir uma boa peruca ajudou-me a ter alguma privacidade, pois somente dava informação do meu estado de saúde a quem eu considerava, o que me deu muita segurança conservando a auto-estima.  

Para além da alimentação, a medicina integrativa e holística, a meditação e o reiki, foram fundamentais para combater quase todos os efeitos secundários de 16 ciclos de quimioterapia neoadjuvante (antes da cirurgia) que tinham sido divididos em quatro ciclos de CD (Epirrubicina e Ciclofosfamida) a cada 21 dias e 12 de Paclitaxel.  

Passado meio ano de quimioterapia, fui intervencionada duas vezes para uma tumorectomia + BSGS + linfadenectomiaaxilar homolateral, com extracção de 18 gânglios. Seguiram-se 20 sessões de radioterapia. Actualmente, continuo com o tratamento de anticorpos monoclonais cada 21 dias, até completar os 18 ciclos e, pelo menos, cinco anos de tratamento hormonal com Letrozol. 

O que vai por dentro, só a própria pessoa que passa por esta situação é que sabe, nomeadamente os pensamentos negativos, as emoções, a parte escura, os medos... Não somente como vemos a nossa saúde, mas como vemos o mundo em geral e todos os que nos rodeiam. Alguns com razão, outros somente estão na nossa cabeça e que nos fazem sofrer sem motivo real. Difícil de gerir, difícil de partilhar, às vezes um vulcão que explode com quem menos merece e quando menos merece. O elemento-chave para ser feliz é, sem dúvida alguma, poder dominar a parte emocional deste processo. 

Como todos sabemos, o cancro não se cura porque não se conhecem as causas. Algum factor no nosso corpo produziu uma mutação que originou uma divisão celular anormal. Envenenam-nos, limpam-nos, radiam-nos para eliminar as células cancerígenas, mas não erradicam a causa que originou a doença. Sendo conscientes do que nos acontece, devemos desfrutar plenamente daquilo que somos e temos. 

Oxalá pudéssemos ser as últimas mulheres a ter que passar por tudo isto. O cancro de mama não é cor-de-rosa! O cancro de mama é solidão e, ao mesmo tempo, é gente em demasia, é ganhar e perder, é rir e chorar, é sofrer e descansar, é perder a própria identidade e recuperá-la numa versão melhorada, é amor e ódio. É vida e morte. 

Gostaria de dar um conselho a quem se encontre numa situação inicial ou não, seja o tipo de cancro que for: confie nos médicos e na ciência. Converta o cancro num amigo porque o vai acompanhar durante um tempo e, aos poucos, vai ter que ir despedindo-se dele. Vai deixar-lhe uma pegada agridoce. A aprendizagem que lhe vai proporcionar não está escrita em nenhum livro, nem na gente, nem na vida. Prossiga com a sua vida e tente normalizar a situação. 

Por último, gostaria de deixar um apelo aos nossos governantes para que se consciencializem com esta doença, não somente no mês de Outubro, e destinem mais recursos para a investigação de todo o tipo de cancros.