João Fernandes: “O Brasil está muito crispado e a arte pode ajudá-lo a pensar”

Depois de Serralves e do Museu Rainha Sofia, o curador português assumiu a direcção do importante Instituto Moreira Salles, onde quer continuar a dar protagonismo aos olhares transgressores, aos que confrontam um sistema que confunde arte com mercado. Para já, diz, está a ser um privilégio testemunhar “a energia do Brasil” e o “empoderamento” dos seus sectores menos privilegiados.

Foto
RENATO PARADA/INSTITUTO MOREIRA SALLES

Desconfiar das imagens produzidas pelos vencedores e adoptar a perspectiva dos vencidos. Em relação a uma história ou à História. João Fernandes recorre a uma mensagem retirada da obra do cineasta alemão de origem checa Harun Farocki (1944-2014) para dizer que quer levar essa linha de pensamento para o trabalho que iniciou precisamente há dois meses como director artístico do Instituto Moreira Salles (IMS), no Brasil. A sociedade brasileira está muito crispada, muito necessitada de pensar a sua História para pensar o presente. A obra de arte pode ajudar nisso, porque convida a sentir e a pensar diferentemente”, diz o curador ao PÚBLICO na sua primeira entrevista para Portugal desde que assumiu o seu novo cargo, insinuando que os desígnios da arte apontam para os princípios da democracia, da pluralidade de visões, de opiniões. “Duas pessoas não vêem uma obra de arte da mesma maneira. E essa possibilidade de ter opiniões diferentes, estando em comunidade, é algo que a política não promove; pelo contrário, leva as pessoas para uma dimensão acrítica, em que todos pensam da mesma maneira.” 

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Desconfiar das imagens produzidas pelos vencedores e adoptar a perspectiva dos vencidos. Em relação a uma história ou à História. João Fernandes recorre a uma mensagem retirada da obra do cineasta alemão de origem checa Harun Farocki (1944-2014) para dizer que quer levar essa linha de pensamento para o trabalho que iniciou precisamente há dois meses como director artístico do Instituto Moreira Salles (IMS), no Brasil. A sociedade brasileira está muito crispada, muito necessitada de pensar a sua História para pensar o presente. A obra de arte pode ajudar nisso, porque convida a sentir e a pensar diferentemente”, diz o curador ao PÚBLICO na sua primeira entrevista para Portugal desde que assumiu o seu novo cargo, insinuando que os desígnios da arte apontam para os princípios da democracia, da pluralidade de visões, de opiniões. “Duas pessoas não vêem uma obra de arte da mesma maneira. E essa possibilidade de ter opiniões diferentes, estando em comunidade, é algo que a política não promove; pelo contrário, leva as pessoas para uma dimensão acrítica, em que todos pensam da mesma maneira.”