Especialistas propõem alguns truques para viver a menopausa sem pausa

Cuidar da saúde ginecológica, do coração, da pele, da alimentação e da vida sexual são algumas ferramentas partilhadas por especialistas na conferência Mulheres sem Pausa.

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Fernanda Geraldes acredita que algumas mulheres ainda olham para a menopausa como um tabu. Rod Long/Unsplash

A esperança média de vida da mulher é 83 anos e a menopausa acontece, em média, aos 51. Ou seja, 1/3 da vida de uma mulher acontece na menopausa. Com isso em mente, uma ginecologista, um cardiologista, uma dermatologista, uma nutricionista, uma sexóloga e uma farmacêutica juntaram-se na Conferência Mulheres sem Pausa, organizada pela Vichy, na passada terça-feira, em Lisboa, para desmistificar o tabu à volta desta fase da vida. Esta sexta-feira assinala-se o Dia Mundial da Menopausa.

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A esperança média de vida da mulher é 83 anos e a menopausa acontece, em média, aos 51. Ou seja, 1/3 da vida de uma mulher acontece na menopausa. Com isso em mente, uma ginecologista, um cardiologista, uma dermatologista, uma nutricionista, uma sexóloga e uma farmacêutica juntaram-se na Conferência Mulheres sem Pausa, organizada pela Vichy, na passada terça-feira, em Lisboa, para desmistificar o tabu à volta desta fase da vida. Esta sexta-feira assinala-se o Dia Mundial da Menopausa.

“A mulher tem pausa na menstruação, mas não vai ter mais pausas na qualidade de vida.” É este o lema de Teresa Mascarenhas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia. A ginecologista fala para dezenas de profissionais das farmácias, convidados para este encontro, moderado por Rita Ferro Rodrigues. “Finalmente vamos reunir numa sala mulheres para esclarecer as dúvidas”, diz a apresentadora de televisão.

A menopausa é, em primeiro lugar, uma situação fisiológica, um evento anatómico, em que os ovários de uma mulher deixam de funcionar. Fernanda Geraldes, presidente da secção de menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, levou os presentes numa “viagem”, como lhe chamou. Pelo caminho, diz que encontra muitas mulheres que ainda vêem a menopausa como um tabu. “A mulher tem vergonha de dizer, por exemplo, que tem dores nas relações. Não fala espontaneamente”, explica.

O tratamento hormonal, como a pílula combinada, pode ser o auxílio ideal para as mulheres nesta fase de transição, mas muitas ainda rejeitam essa ajuda, com medo dos efeitos secundários. “É preciso envolver a mulher na decisão de tratamento. O medo das hormonas não cria uma melhor qualidade de vida”, garante a presidente da secção de menopausa.

A menopausa e o coração

Por ano, morrem mais quatro mil mulheres que homens devido a doenças cardiovasculares, segundo dados da Fundação Portuguesa de Cardiologia. André Monteiro, membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, explica que a diminuição do nível de estrogénio no corpo da mulher está na origem da disparidade.

Por isso, com a menopausa, a mulher é convidada a manter um estilo de vida ainda mais saudável: prestar atenção à tensão arterial, fazer exercício físico, ter cuidado com a alimentação, etc.. “Nesta fase diminui também o colesterol bom e aumenta o colesterol mau”, alerta André Monteiro, numa explicação aos farmacêuticos sobre a medicação que devem aconselhar.

A destruição do colagénio da pele

O colagénio é uma fibra estrutural da pele. Manuela Paço, dermatologista no Hospital Lusíadas, em Lisboa, explica que 30% do colagénio da pele está destruído cinco anos depois de ter ocorrido a menopausa.

O envelhecimento da pele é natural e acontece graças à idade, mas também ao contacto com o meio ambiente. “Dá-se a diminuição da quantidade e do tipo de colagénio da pele. Uma pele jovem tem mais colagénio do tipo 1 e uma pele mais velha tem mais colagénio do tipo 3. O colagénio deixa de estar com uma arquitectura tão organizada e perde a função de suporte”, explica a dermatologista.

Menos luz, rugas, acne e alterações na produção de sebo são alguns dos efeitos secundários do envelhecimento da pele. “A menopausa é um factor hormonal que acelera o envelhecimento da pele e é uma coisa inevitável. Não significa que tenhamos de ficar de braços cruzados em relação a isso”, acredita Manuela Paço, que aconselha uma rotina de cuidados diários com a pele: higiene, hidratação e protecção solar, que é mesmo para utilizar todos dos dias e não só para o sol. Como complemento terapêutico, a dermatologista diz que há sempre a alternativa dos tratamentos de estética, sobretudo através do ácido hialurónico.

O cuidado começa na alimentação

Segundo dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física, 55 % das mulheres em Portugal tem excesso de peso. Conceição Calhau, presidente do conselho jurisdicional da Ordem dos Nutricionista, é especialista em metabolismo e garante que este vai sofrendo oscilações de velocidade ao longo do tempo.

Com a menopausa, a gordura começa a acumular-se sem ser apenas no tecido adiposo, como normalmente acontece. “É um problema transversal”, reconhece Conceição Calhau. A nutricionista e professora na Nova Medical School explica que é preciso diminuir a ingestão de produtos calóricos e aumentar os produtos ricos do ponto de vista nutricional.

A alimentação feita pela mulher antes, durante e depois da menopausa pode estar a contaminar o sistema endócrino, responsável pelo funcionamento de glândulas como a tiróide e mesmo os ovários, alerta. Conceição Calhau recomenda uma fórmula mágica 0 – 5 – 10 – 30 – 150: zero tabaco, cinco peças de fruta ou vegetais, 10 minutos de meditação, índice de massa corporal abaixo dos 30 e 150 minutos de actividade física por semana. A especialista garante que tudo isso ajudará durante a menopausa.

Redescoberta da vida sexual

Ajudar a viver a menopausa em casal é o que Joana Almeida costuma fazer nas consultas de sexologia. “A vida para trás dita como é que a mulher e o casal vão viver a menopausa”, explica a psicóloga da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Alguns casais “podem ficar surpreendidos e não compreender as mudanças que o corpo está a passar ao longo da vida e na menopausa”, acrescenta a especialista. 

Um dos sintomas mais comuns é a dificuldade de lubrificação vaginal, com alterações na mucosa e alguma irritabilidade. “Tem que haver uma adaptação: fazer amor de uma forma menos directa, menos rápida a passar para a penetração vaginal, com maior estimulação”, sugere a psicóloga, em entrevista ao PÚBLICO. É justamente esta necessidade de maior estimulação que, por vezes, gera conflito entre o casal. “É um momento de redescoberta para o casal numa relação sexual menos ‘genitalizada’, mais focada no grande órgão sexual que é a pele. Há a necessidade de aprender a fazer amor com o corpo todo”, acrescenta.

Muitas vezes, a menopausa coincide com a síndrome de “ninho vazio”, em que os filhos já saíram de casa e o casal fica sozinho. Joana Almeida explica que para algumas mulheres que queriam filhos, mas não os tiveram, este é um momento delicado. “Por que associamos sempre a sexualidade à juventude e à procriação? Temos que combater os mitos que fazem mal à saúde e perceber como é que a pessoa está disposta a viver a sua sexualidade”, acredita a psicóloga.

Texto editado por Bárbara Wong