CDS: mais ou menos à direita? Uma perda de tempo
O CDS só voltará a crescer quando recuperar a sua identidade. Discutir se esta identidade está mais à direita ou mais ao centro, se deve ser mais ou menos sectário é apenas desperdiçar tempo.
O novo desaire do PSD e do CDS trouxe consigo o regresso do debate sobre a Direita. Mais uma vez assistimos à discussão sobre o que é preciso mudar para que o Partido Socialista deixe de estar no poder excepto em alturas de crise.
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O novo desaire do PSD e do CDS trouxe consigo o regresso do debate sobre a Direita. Mais uma vez assistimos à discussão sobre o que é preciso mudar para que o Partido Socialista deixe de estar no poder excepto em alturas de crise.
Da parte do CDS este debate acaba sempre por cair na discussão sobre se o partido deve ser mais à direita ou se deve ser menos sectário, de maneira a facilitar uma grande coligação de centro-direita contra o PS. Invariavelmente o problema resume-se no quão à direita o CDS deve ser.
O problema é que ser de direita não quer dizer coisa nenhuma. Direita e esquerda são adjectivos surgidos na revolução francesa que descreviam onde se sentavam os mais conservadores e os mais progressistas na Assembleia Nacional. Desde então tem sido usado como forma simples de classificar os partidos e as doutrinas políticas. Mas em si mesmo, simplificando para efeitos do argumento, não querem dizer nada.
À esquerda o problema não se revela tanto pelo simples de facto que esta se identifica com o socialismo nas suas múltiplas variantes. Mas aquilo que habitualmente descrevemos como direita é um conjunto variado de doutrinas e ideologias políticas com raízes e propósitos diferentes.
Por isso ser “mais à direita” não quer dizer nada. Ser mais à direita pode significar um Estado mais autoritário, ou menos Estado. Pode significar mais europeísmo ou mais nacionalismo. Pode significar mais liberalismo económico ou mais regulação do Estado. Mais à direita significa coisas diferentes para um Liberal, um Conservador, um Democrata Cristão ou um nacionalista.
Mas pior do que querer ser mais à direita, no vácuo desta expressão, é querer que haja uma só direita. Uma só direita significa abandonar qualquer pensamento original das várias direitas, e unir-se em volta do combate à esquerda. No fundo é transformar a direita em apenas uma “contra-esquerda”.
Qualquer uma destas duas opiniões tem como consequência deixar as direitas ser definidas pela esquerda. Desistir de apresentar qualquer ideia original, mas simplesmente combater o socialismo. Ou seja, no fundo, é não propor uma alternativa ao pensamento da esquerda, mas simplesmente reagir a este.
O grande problema das direitas foi perderem a sua identidade. Para serem poder aceitaram a predominância cultural e social da esquerda, e limitaram-se a ser a governanta do país, que aparece para pôr as contas em ordem. E está tão afundada nesta mentalidade, que mesmo quando reage o faz meramente rejeitando as propostas da esquerda, mas sem qualquer capacidade de propor uma visão para o país que não seja a reacção à esquerda.
Este é o problema de centrar o debate sobre o futuro das direitas no ser mais ou menos à direita: tem sempre como condição prévia o quadro mental e cultural da esquerda.
Aquilo que o CDS precisa não é de ser mais ou menos à direita. Esse debate é fazer o jogo da esquerda. O que o CDS precisa é de ter uma identidade clara que se traduza numa proposta clara para o país. Não uma mera rejeição do socialismo, mas uma verdadeira alternativa a este.
Essa foi aliás a grande riqueza e contributo de Adelino Amaro da Costa e Diogo Freitas do Amaral para a democracia: num tempo onde todos os partidos tinham que ser socialistas, os fundadores do CDS tiveram a coragem de propor um partido personalista cristão, que tinha como centro a dignidade humana. Um partido que propunha um Estado ao serviço do Homem, em colaboração com os vários corpos sociais, que procurasse garantir a dignidade de cada homem respeitando as liberdades individuais, que defendia uma economia social, ou seja respeitando a liberdade económica, mas ao serviço da sociedade.
Os tempos mudaram e os desafios dos nossos dias são diferentes daqueles que enfrentaram Amaro da Costa e Freitas do Amaral. Mas parece-me que seria muito mais proveitoso para o CDS debater como tornar actual este ímpeto dos seus fundadores, de um partido verdadeiramente democrata-cristão, centrado na dignidade humana, que defende um Estado ao serviço do bem comum, do que na estéril discussão de quão de direita deve o partido ser.
O CDS só voltará a crescer quando recuperar a sua identidade. Discutir se esta identidade está mais à direita ou mais ao centro, se deve ser mais ou menos sectário é apenas desperdiçar tempo.