Voto dos emigrantes aumenta 452%. Reino Unido foi onde mais cresceu
Apesar do aumento do número de votos — explicado pelo recenseamento automático dos portugueses no estrangeiro — houve críticas ao processo eleitoral e votos que nunca chegaram a Portugal.
Terminou esta quinta-feira a contagem dos votos dos eleitores portugueses residentes no estrangeiro, cujos boletins foram enviados por correspondência. Com os envelopes chegaram também muitas críticas ao processo de eleição e relatos de portugueses que dizem não ter conseguido votar nestas legislativas. Ainda assim, e apesar dos problemas assinalados — e relatados pela Administração Eleitoral —, a participação disparou em muitos países.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Terminou esta quinta-feira a contagem dos votos dos eleitores portugueses residentes no estrangeiro, cujos boletins foram enviados por correspondência. Com os envelopes chegaram também muitas críticas ao processo de eleição e relatos de portugueses que dizem não ter conseguido votar nestas legislativas. Ainda assim, e apesar dos problemas assinalados — e relatados pela Administração Eleitoral —, a participação disparou em muitos países.
No Luxemburgo, por exemplo, votaram 7552 portugueses, o que representa um aumento de 1167% comparativamente às 596 pessoas que votaram nas eleições legislativas de 2015. No Reino Unido, o aumento foi ainda maior.
De acordo com os números fornecidos ao PÚBLICO pelo secretariado-geral do Ministério da Administração Interna, votaram através deste sistema um total de 157.331 emigrantes portugueses. Em 2015, tinham votado 28.485. A estes acrescem cerca de mil portugueses que votaram presencialmente nos consulados dos países onde estão emigrados.
Para compreender o aumento, é importante assinalar que o número de eleitores portugueses residentes no estrangeiro aumentou de 300 mil para mais de 1,4 milhões, resultado do processo de recenseamento automático, uma alteração legal aprovada pela Assembleia da República em 2018. Aos emigrantes portugueses foram dadas duas hipóteses: o voto por correspondência e o voto presencial. Apesar dos problemas assinalados por eleitores em vários países — e de a taxa de participação ter sido de apenas 10,79% —, houve um aumento do número de votos, especialmente em países europeus.
Votos no Reino Unido passam de menos de 500 para mais de 13 mil
É o caso do Reino Unido, onde o número de votos aumentou de 463 para 13.896 votos, tornando-se o país onde o voto de emigrantes mais cresceu comparativamente às legislativas de 2015. Ainda assim, foi justamente no Reino Unido que esta semana nasceu o movimento “Também somos portugueses”, um movimento que une emigrantes que denunciam problemas na distribuição de boletins de voto. Atrasos nos correios, moradas desactualizadas e extravio de boletins foram alguns dos exemplos citados pelo grupo.
Do lado dos envelopes que chegaram com sucesso — e atempadamente — ao destino destaca-se também a Roménia, que aumenta de 6 votos para 73 votos (cresce 1117%), da Suíça que passa dos 2123 votos para 21.539 votos nestas legislativas (crescendo 915%). Ainda no círculo da Europa destaca-se também a Alemanha, onde em 215 votaram aproximadamente dois mil eleitores. Nestas eleições, o número total de votos enviados para Portugal aproximou-se dos 10 mil.
Os únicos países que fugiram à regra de crescimento foram países onde o número de votos não ultrapassou as duas dezenas, quer em 2015, quer em 2019. A Croácia perdeu um voto (de quatro para três) e a Hungria desceu de 24 votos em 2015 para 16 votos este ano.
Nos países fora da Europa o crescimento foi mais moderado
Já pelo círculo Fora da Europa houve um crescimento mais moderado e alguns casos onde houve menos votos do que nas anteriores eleições legislativas. É o caso de países como o México onde em 2015 votaram 14 portugueses e nestas legislativas não foi contabilizado nenhum voto. Cai também o número de votos na Guiné-Bissau (de 26 para 12), no Equador (de um para zero), na Coreia do Sul (de oito para cinco) e no Uruguai (de 19 para dez).
Os restantes países vêem a participação crescer. O caso de maior sucesso é Israel, que aumenta de dois para 45 votos. Também a Índia regista um crescimento considerável, de 57 votos para 682 (cresce 1096%). O mesmo acontece com os Estados Unidos da América (de 1317 para 4771 votos), com o Canadá (de 1790 votos em 2015 para 5456 em 2019) e com o Brasil (de 7139 votos para 30.805).
Eleitores queixam-se de problemas e partidos pedem avaliação
O Reino Unido não foi o único caso crítico. De África do Sul, por exemplo, não chegou qualquer envelope antes da contagem desta quarta-feira. Em causa terá estado uma distribuição tardia por parte dos correios sul-africanos, o que terá atrasado todo o processo, ultrapassando a data limite para o envio dos boletins de voto. Em 2015, 165 emigrantes portugueses residentes na África do Sul votaram nas legislativas. Este ano, nenhum voto por correspondência foi contabilizado.
Foram ainda devolvidos sem votação pelo menos 39 mil boletins de voto enviados para o estrangeiro, um número que ultrapassa as 38.367 devoluções registadas nas legislativas de 2015.
Os problemas relacionados com o voto dos emigrantes mereceram a atenção de alguns partidos. Foi o caso do Livre, que exigiu a realização de um “inquérito urgente” ao voto dos emigrantes e pediu uma reforma do sistema eleitoral a tempo das presidenciais de 2021. Também a Iniciativa Liberal questionou o apuramento dos votos da emigração e o Bloco de Esquerda, pela voz de Pedro Filipe Soares, em declarações à TSF, defendeu que é preciso uma “avaliação profunda”, para que não se repitam os problemas e se garanta o direito ao voto “sem barreiras ou complicações”.
Os votos dos emigrantes elegem quatro mandatos. Paulo Pisco e Paulo Porto Fernandes (em substituição de Augusto Santos Silva, que voltará a ser ministro), pelo PS; José Cesário e Carlos Gonçalves, pelo PSD, foram os quatro parlamentares eleitos.