Fernando realizou o filme “perfeito para quem está farto de zombies”
Mutant Blast é a primeira longa-metragem de Fernando Alle, em co-produção com a Troma. O filme já passou por mais de 20 festivais internacionais e estreia-se em Portugal a 17 de Outubro.
Um apocalipse zombie. A soldado Maria e o TS-347, “um homem com uma força sobre-humana”, estão a ser perseguidos por uma cédula militar. Para acabar com os zombies, os militares lançam uma bomba nuclear, mas acabam por criar mutantes: lagostas e ratazanas gigantes invadem a Terra. É este o mote de Mutant Blast, do português Fernando Alle, 30 anos, que ao P3 descreve o filme como uma “viagem alucinante”, que é de “acção, comédia e ficção científica”. O filme já esteve em mais de 20 festivais e ainda vai passar pelo de Leeds, em Inglaterra, pelo Telluride Horror Show, nos Estados Unidos, e pelo Toronto After Dark, no Canadá — nestes dois últimos, é a primeira vez que um filme português marca presença.
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Um apocalipse zombie. A soldado Maria e o TS-347, “um homem com uma força sobre-humana”, estão a ser perseguidos por uma cédula militar. Para acabar com os zombies, os militares lançam uma bomba nuclear, mas acabam por criar mutantes: lagostas e ratazanas gigantes invadem a Terra. É este o mote de Mutant Blast, do português Fernando Alle, 30 anos, que ao P3 descreve o filme como uma “viagem alucinante”, que é de “acção, comédia e ficção científica”. O filme já esteve em mais de 20 festivais e ainda vai passar pelo de Leeds, em Inglaterra, pelo Telluride Horror Show, nos Estados Unidos, e pelo Toronto After Dark, no Canadá — nestes dois últimos, é a primeira vez que um filme português marca presença.
Nesse mapa-mundo dos festivais internacionais de cinema, “o feedback incrível” anunciado pelo realizador parece revelar o sucesso do filme que mistura, ao extremo, todos os clichés típicos de filmes apocalípticos: soldados, zombies, mutantes e muito sangue. “É o filme perfeito para quem está farto de zombies”, diz o realizador. Confuso? Normal. Os clichés são propositados, para, quando menos se espera, o filme fugir à narrativa expectável e avançar com um final surpreendente.
O filme “usa os zombies como ponto de partida”, para levar os espectadores a crer que estão na presença de mais um “Resident Evil ou Exterminador”. Mas, no final “não imaginam [que] vão acabar emocionados com uma lagosta”. Explica Fernando Alle: “Uma parte é toda estereotipada propositadamente para depois provocar a surpresa final.” O objectivo é “puxar o tapete debaixo dos pés dos espectadores”.
Fernando Alle é um apaixonado por filmes de zombies, e, como tal, “desde sempre” que queria fazer um filme do género. A escrita do guião começou em 2013, numa altura em que “os zombies já tinham atingido a saturação” com a proliferação de produções estilo Walking Dead. Foi esta saturação que o fez perceber que “não tinha nada de novo a trazer” e o levou a afastar-se da ideia original. “O filme é a minha carta de amor ao género zombies e, ao mesmo tempo, a minha carta de despedida.” Apesar de os zombies terem ficado, o resultado foi um “filme completamente diferente do habitual”.
“No meio da parvoíce toda há muita seriedade”: fica dado o alerta pelo realizador, que acredita que “as pessoas vão ficar surpreendidas pelo nível emocional e dramático do filme”. A música de Antoni Maiovvi ajuda a compor a seriedade, tendo em conta que foi executada “tal como se de um drama” se tratasse. E, “enquanto o espectador se ri”, os assuntos “sérios são todos tratados”, sem “nunca estar a pregar” (já Gil Vicente se movia pelo mote “ridendo castigat mores" (“A rir se castigam os costumes”).
Um registo que o realizador tem apresentado na sua carreira, como Papá Wrestling, de 2009, que “muita gente vai assumir como parvo”, mas que contém “uma mensagem anti-bullying”. No caso de Mutant Blast, a mensagem “séria” que o realizador quer passar deve-se à “forma como andamos a tratar o mundo em que vivemos”. Jean Pierre, “a personagem que mais tem roubado a atenção do público”, apresenta “convicções muito grandes” quanto à forma como os “seres humanos tratam os outros animais”. “É um filme com uma mensagem bastante ambientalista”, avança cautelosamente o realizador, com medo de ser spoiler.
A “liberdade criativa” da Troma e Hollywood no horizonte
O momento em que James Bond, interpretado por Pierce Brosnan (007 - Golden Eye, 1995), salta de uma mota para dentro de um avião, foi decisivo. A partir daí, Fernando soube que queria trabalhar em filmes, convicção consolidada com o lançamento dos episódios da Guerra das Estrelas no final de 90 e início de 2000: “Foi um despertar religioso para mim.”
Na escola, as primeiras experiências. Em 2007, começou a realizar curtas-metragens com amigos. Lançou Papá Wrestling em 2009 e Banana Motherfucker em 2011, duas curtas que, em conjunto, foram exibidas em mais de 65 festivais. Agora, passados oito anos desde o último trabalho, lança Mutant Blast, a primeira longa-metragem da carreira, que conta com a co-produção da Troma, uma das maiores produtoras independentes norte-americanas.
“Eu sugeri, eles disseram que sim. Há que dar valor porque não são todas as produtoras que dão dinheiro a um miúdo de 23 anos para realizar um filme”, resume Alle, que conheceu Lloyd Kaufman, director da Troma, num festival em Espanha. “Apesar do estigma do género”, Kaufman viu “valor no argumento”. O envolvimento da Troma acabou por ser “bastante importante” ao longo da produção, mesmo sendo uma “presença à distância”. Existiu sempre “bastante liberdade criativa”, até porque “é uma produtora cujos donos são artistas e, portanto, respeitam a mente criativa”.
Fernando Alle confessa não saber a razão pela qual existem tão poucos realizadores portugueses a trabalhar com grandes produtoras internacionais. “Em Portugal, temos uma indústria que desincentiva a própria criação de novas ideias e está à espera do financiamento do ICA [Instituto do Cinema e do Audiovisual].” E recorda alguns realizadores que começaram a fazer filmes com um orçamento “muito baixo”, como Peter Jackson — o seu realizador de eleição. Diz, apesar de ter recebido apoio do ICA, que financiou o filme “com o orçamento de curta-metragem apesar de ser uma longa cheia de efeitos e adereços”. “O orçamento do filme foi bastante baixo”, considera, não querendo, contudo, revelar o valor exacto: “Não quero aplausos pelo baixo orçamento do filme porque estar a orgulhar-me disso é orgulhar-me de pagar pouco às pessoas”.
O realizador também não sabe o porquê de Portugal não ter “um representante em Hollywood”, já que “quase todos os países do continente europeu” têm pelo menos um. E, tendo em conta a “grande aceitação internacional” que o filme está a receber, deixa uma previsão em forma de desejo: “Eu vejo uma forte possibilidade de trabalhar em filmes de Hollywood no futuro. Talvez em menos de dez anos.”
Para já, espera que este “não seja daqueles casos em que o filme tem mais sucesso lá fora do que cá dentro”: “É uma luta fazer com as que pessoas saiam de casa e comprem bilhete.” A estreia está marcada para esta quinta-feira, 17 de Outubro, em todo o país; estão também previstas sessões com a presença de Lloyd Kaufman (da Troma) e do realizador em Lisboa (a 17 e 18), Leiria e Coimbra (19) e Porto e Guimarães (20), com horários ainda a confirmar.
“Nunca foi feito algo assim, acho que as pessoas vão gostar” — uma “luta” que Fernando Alle prevê ganhar, tal como Pedro, no filme, vence a luta contra os zombies com “a mesma determinação com que luta contra uma enorme ressaca”.