Poluição do ar associada à morte prematura de quase 6 mil pessoas em Portugal
Elevadas concentrações de partículas finas, dióxido de azoto e ozono são as pricipais causas da mortalidade prematura. Situação é mais grave nas cidades.
A mortalidade prematura associada à poluição diminuiu em 2016 em comparação com o ano anterior, mas ainda assim a má qualidade do ar foi responsável por 5830 óbitos nesse ano em Portugal, segundo as estimativas da Agência Europeia do Ambiente (EEA, na sigla em inglês) que esta quarta-feira foram conhecidas.
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A mortalidade prematura associada à poluição diminuiu em 2016 em comparação com o ano anterior, mas ainda assim a má qualidade do ar foi responsável por 5830 óbitos nesse ano em Portugal, segundo as estimativas da Agência Europeia do Ambiente (EEA, na sigla em inglês) que esta quarta-feira foram conhecidas.
Baseado nos dados da qualidade do ar de mais de quatro mil estações de monitorização espalhadas por toda a Europa, o mais recente relatório da EEA indica que quase todos os europeus que vivem em cidades estão expostos a níveis de poluição do ar que excedem os limites definidos pela Organização Mundial de Saúde.
A má qualidade do ar “afecta as vidas da maior parte dos cidadãos”, comentou, a propósito, Karmenu Vella, comissário europeu responsável pelo ambiente, assuntos marítimos e pescas. “É simplesmente inaceitável que cada um de nós tenha que se preocupar em saber se o mero acto de respirar é ou não seguro”, defendeu.
A exposição à poluição do ar terá provocado a morte prematura a mais de 400 mil pessoas na Europa em 2016, segundo a EEA. Em Portugal terão morrido prematuramente nesse ano cerca de 4900 pessoas devido às elevadas concentrações de partículas finas (PM2.5), mais 610 por causa do dióxido de azoto (NO2) e 320 óbitos ficaram a dever-se ao ozono, de acordo com as estimativas da agência europeia.
Os números indicam uma diminuição da mortalidade prematura face à estimativa efectuada no ano anterior, sobretudo no que respeita às partículas finas (de cerca de 5500 mortes prematuras em 2015 para 4900 no ano seguinte), sublinha a associação ambientalista Zero, em comunicado.
Milhares de anos perdidos
Mas a associação liderada por Francisco Ferreira prefere destacar o cálculo de anos de vida perdidos por causa da má qualidade do ar – e são 46 mil anos de vida perdidos devido às partículas finas (que têm um diâmetro inferior a 2,5 micrómetros, mais de 20 vezes inferior à espessura de um cabelo); 5700 anos por causa do dióxido de azoto e 3200 anos devido às elevadas concentrações de ozono. Os anos de vida perdidos são “uma estimativa da média de número de anos que uma pessoa teria vivido se não tivesse morrido prematuramente”, um indicador que leva em conta a idade em que a morte ocorre, resultando assim “numa informação mais útil do que o número de mortes prematuras”, explica a Zero.
Em 2015, a Agência Europeia do Ambiente estimara que tinham morrido 6690 pessoas prematuramente por falta de qualidade do ar em Portugal, mas, a crer num estudo alemão divulgado este ano – publicado em Março no European Heart Journal e desenvolvido pelo Instituto Max Plank de Química e a Universidade Médica de Mainz da Alemanha –, este número deverá ser bem superior: os cientistas alemães concluíram que a inalação e partículas finas e outros poluentes terá sido responsável em Portugal por cerca de 15 mil mortes em 2015.
A Zero recorda que 2018 foi “um ano mais problemático em termos de qualidade do ar”. Os dados definitivos recentemente disponibilizados pela Agência Portuguesa do Ambiente indicam que no ano passado a estação de monitorização da qualidade do ar da Avenida da Liberdade (Lisboa) continuava a ultrapassar os valores-limite, com uma média anual de dióxido de azoto registada bastante superior ao permitido pela legislação europeia e nacional. Esta média foi “ainda mais superada” no Porto, na estação de Francisco Sá Carneiro/Campanhã. Em Braga, na estação de monitorização Frei Bartolomeu Mártires – São Vítor, os valores-limite também foram ultrapassados.
“Em todos estes casos “o tráfego rodoviário é o responsável” por este fenómeno, enfatiza a Zero, que insiste na ideia de que as cidades devem começar "a delimitar zonas zero onde, com excepção dos transportes públicos e dos veículos de residentes, só sejam permitidos veículos com zero emissões locais”.