Mais de 300 portugueses em programa de educação alimentar baixaram consumo de sal

Durante doze semanas este grupo de pessoas aumentou o consumo de legumes, fruta, peixe e frutos secos.

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No grupo acompanhado o consumo de sal reduziu e o aumento do consumo de frutas e legumes aumentou Paulo Pimenta

Mais de 300 portugueses participaram durante 12 semanas num programa de educação alimentar e no final reduziram o consumo de sal e aumentaram o consumo de legumes, fruta, peixe e frutos secos, segundo dados divulgados esta quarta-feira.

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Mais de 300 portugueses participaram durante 12 semanas num programa de educação alimentar e no final reduziram o consumo de sal e aumentaram o consumo de legumes, fruta, peixe e frutos secos, segundo dados divulgados esta quarta-feira.

O Programa Menos Sal Portugal foi lançado no início do ano com o objectivo de sensibilizar os portugueses para a redução do consumo de sal e envolveu um estudo com 311 voluntários que foram acompanhados durante quatro meses por profissionais de saúde e por nutricionistas que os aconselhavam na hora de ir às compras no supermercado.

“Em 12 semanas encontrámos uma melhoria do consumo de sal, da pressão arterial e em alguns grupos, como por exemplo nas mulheres mais obesas houve mesmo uma redução mais significativa do perímetro abdominal”, disse à agência Lusa Jorge Polónia, um dos coordenadores do estudo juntamente com a investigadora Conceição Calhau, professora da Nova Medical School.

Segundo o professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, o “ReEducar” é o primeiro estudo populacional realizado em Portugal de alteração de hábitos alimentares com monitorização rigorosa do consumo de sal e potássio e as suas consequências directas na saúde.

A ingestão de sal é em Portugal muito elevada (10,7 gramas por dia), muito acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (5,8), disse o coordenador do estudo divulgado esta quarta-feira, Dia Mundial da Alimentação.

Promovido pela CUF e pelo Pingo Doce, o estudo visou alterar padrões alimentares e avaliar a evolução do consumo sal, do potássio e a pressão arterial.

Os resultados revelaram um aumento do consumo de vegetais, legumes, hortaliças, leguminosas, fruta, peixe e frutos secos, um reforço das práticas de culinária saudável e uma diminuição do consumo de produtos processados, adiantou Jorge Polónia.

Observou-se também uma “redução importante” na ingestão de sal de cerca de 0,6 gramas por dia no grupo com maior consumo (10,3 gramas diárias). O consumo médio da população em estudo era de 9,17 gramas diárias.

Esta diminuição foi acompanhada de um aumento da ingestão de potássio e de uma redução da pressão arterial em toda a população na ordem dos dois milímetros de mercúrio.

“Isto pode parecer muito pouco, mas os estudos internacionais dizem que dois milímetros de mercúrio mantidos ao longo do tempo correspondem a uma redução de cerca de 10% da mortalidade por acidente vascular cerebral [AVC]”, uma das causas mais frequente de morte em Portugal, sublinhou Jorge Polónia.

Se esta redução for mantida no tempo irá traduzir-se do ponto de vista populacional num ganho significativo e apenas com mudanças de hábitos alimentares, vincou.

Na população com pressão arterial normal/alta ou com hipertensão arterial essa diminuição foi de nove milímetros de mercúrio de pressão máxima e de cinco milímetros de mercúrio de pressão mínima.

O investigador sublinhou que este benefício “pode ter repercussões muito grandes em termos de redução de risco” e em alguns doentes pode mesmo “protelar o início da terapêutica ou pelo menos melhorar muito o efeito dos medicamentos com os quais já estão a ser tratados”.

Nuno Zanatti é hipertenso e decidiu participar no estudo para reduzir o consumo de sal, um objectivo conseguido, como contou à Lusa.

Com a ajuda dos nutricionistas que percorriam com os voluntários o supermercado, Nuno Zanatti aprendeu a ler os rótulos dos produtos e passou apenas comprar os que têm menos sal e alguns baniu mesmo da sua alimentação.

Nuno, que desafiou a mulher, Maria Elvira Zannati, a participar no estudo, passou “a utilizar uma quantidade muito menor de sal na confecção da comida e a utilizar mais ervas aromáticas”.

Maria Elvira Zannati disse à Lusa ter gostado “muito do projecto porque é uma contracorrente de tudo o que se faz hoje em dia: Há muita informação nas redes sociais e as pessoas não sabem por onde se guiar, uns dizem uma coisa, outros dizem outra”.

“Este projecto mudou completamente os hábitos do nosso dia-a-dia. Começámos a olhar para o nível de sal dos alimentos e o que devemos ingerir diariamente e a ter noção de que o sal em excesso faz mal e pensamos: nós comemos mesmo mal”.