“Brexit” de Johnson sem garantias de apoio em Westminster
Governo britânico terá de aprovar acordo de saída da UE – ou qualquer outro cenário – na Câmara dos Comuns, mas não tem maioria. DUP e conservadores rebeldes são fundamentais.
O principal obstáculo de Boris Johnson na corrida até ao “Brexit” pode estar em Londres, mais do que em Bruxelas – onde as equipas britânica e europeia lançaram nos últimos dias uma derradeira maratona de negociações para chegar a um acordo. Sem maioria na Câmara dos Comuns de Westminster, o Governo conservador terá de se desdobrar em contactos para convencer os unionistas democráticos da Irlanda do Norte, os tories anti-backstop, os tories rebeldes que o próprio primeiro-ministro expulsou do seu grupo parlamentar e até os trabalhistas brexiteers.
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O principal obstáculo de Boris Johnson na corrida até ao “Brexit” pode estar em Londres, mais do que em Bruxelas – onde as equipas britânica e europeia lançaram nos últimos dias uma derradeira maratona de negociações para chegar a um acordo. Sem maioria na Câmara dos Comuns de Westminster, o Governo conservador terá de se desdobrar em contactos para convencer os unionistas democráticos da Irlanda do Norte, os tories anti-backstop, os tories rebeldes que o próprio primeiro-ministro expulsou do seu grupo parlamentar e até os trabalhistas brexiteers.
Downing Street agendou uma sessão parlamentar extraordinária para sábado, para tentar aprovar o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, e quer evitar a todo o custo que o evento se transforme em mais uma humilhação para o Governo – que perdeu praticamente todas as votações que já levou à câmara baixa.
As três derrotas pesadas de Theresa May, quando levou o seu acordo aos deputados, servem de alerta para Johnson, que tem, por estes dias, menos apoios que a sua antecessora, e que enfrenta uma coligação interpartidária que aprovou uma lei que o obriga a pedir o adiamento do “Brexit” se, no sábado, a solução em cima da mesa for um no-deal.
A fuga de deputados tories para os Liberais-Democratas fez com que os conservadores tenham perdido a maioria e a decisão de Johnson de remover o whip a 21 deputados críticos da saída sem acordo – deixando, na prática, de pertencer ao grupo parlamentar – reduziu, e muito, a representação na Câmara dos Comuns. Conseguir o seu apoio é muito difícil, mas fundamental.
Segundo as contas dos media britânicos, o Governo estima ter o respaldo de 260 deputados – necessita de 320 para aprovar um acordo. Na mira do primeiro-ministro estão, para além dos tories rebeldes, os dez deputados do Partido Democrático Unionista, parte interessada na problemática solução para evitar uma fronteira na ilha irlandesa, e cujo apoio é fundamental para que os cerca de 30 conservadores que compõem a facção hard-brexiteer do partido também alinhem no plano.
Um grupo reduzido de trabalhistas pró-“Brexit” também merecerá a atenção do Governo, mas calcula-se que a maioria dos deputados do Labour alinhe com a posição da direcção e rejeite o acordo. Um outro cenário, que já foi defendido pelo Partido Trabalhista, pode passar pela aprovação de um acordo tory, mediante a garantia de que o mesmo será colocado a referendo – hipótese que Johnson rejeita totalmente.
Fora da órbita do Governo estão liberais-democratas, nacionalistas escoceses, verdes, independentes e galeses do Plaid Cymru, que não devem, em qualquer circunstância, votar favoravelmente qualquer acordo do “Brexit” e que, mesmo que o fizessem, exigiram sempre mais tempo para escrutinar os planos de Johnson.
Certo é que a data oficial de saída do Reino Unido da UE é no dia 31 de Outubro e que o Governo tem uma curtíssima margem de manobra para evitar novo pedido de adiamento. A sessão parlamentar prevista para sábado promete ser agitada e pode testemunhar outros cenários imprevisíveis para o futuro do “Brexit”, como uma moção de censura ou a tentativa do Governo de contornar a lei que o obriga a reagendar a saída para Janeiro de 2020.