Governo catalão aposta forte em campanha internacional contra a sentença
Ao segundo dia de protestos nas ruas, executivo movimenta esforços para sensibilizar a comunidade internacional sobre as condenações “injustas e antidemocráticas” dos líderes independentistas. Torra vai ao parlamento na quinta-feira.
As condenações dos 12 líderes catalães envolvidos no referendo e na declaração de independência de Outubro de 2017, conhecidas na segunda-feira, são um verdadeiro teste à capacidade de conciliação das forças políticas que suportam o governo da Catalunha. Por isso mesmo, o executivo liderado por Quim Torra procura reunir esforços para ultrapassar as divisões há muito apontadas ao movimento independentista e oferecer uma resposta única de reprovação da sentença do Supremo Tribunal. Para já, a estratégia passa por tentar mobilizar a comunidade internacional.
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As condenações dos 12 líderes catalães envolvidos no referendo e na declaração de independência de Outubro de 2017, conhecidas na segunda-feira, são um verdadeiro teste à capacidade de conciliação das forças políticas que suportam o governo da Catalunha. Por isso mesmo, o executivo liderado por Quim Torra procura reunir esforços para ultrapassar as divisões há muito apontadas ao movimento independentista e oferecer uma resposta única de reprovação da sentença do Supremo Tribunal. Para já, a estratégia passa por tentar mobilizar a comunidade internacional.
Torra pede amnistia para os nove condenados a penas de prisão e aposta forte na campanha de sensibilização fora de portas, de olho nos recursos que se adivinham que possam ser colocados nas instâncias europeias. A “ofensiva internacional” – como lhe chama a imprensa independentista – contará com a emissão de cartas a todos os chefes de Estado e de Governo da União Europeia, do G20 e da EFTA, a explicar a posição do governo catalão, bem como com o envio de informação detalhada sobre a sentença para consulados, embaixadas e comunicação social de vários países.
Para além disso, o conselheiro para as Relações Exteriores, Alfred Bosch, e outros membros da sua equipa, iniciam, nos próximos dias, um périplo por vários Estados europeus, para explicar o posicionamento da Generalitat sobre a sentença que valeu aos políticos catalães penas que variam entre os nove e os 13 anos de prisão.
Paralelamente, estão em curso negociações entre os partidos independentistas – Juntos pela Catalunha (JxCat), Esquerda Republicana (ERC) e Candidatura de Unidade Popular (CUP) – sobre a possibilidade de se votar uma resolução conjunta, no parlamento catalão, de rejeição da decisão judicial. O presidente da Generalitat vai comparecer na próxima quinta-feira numa sessão extraordinária no parlament e a CUP pretende votar, de imediato, uma moção para dar conta de que a câmara “não aceita a intervenção repressiva” do Estado espanhol.
Os outros dois parceiros preferem, no entanto, esperar pela reunião plenária ordinária agendada para a próxima semana – a ERC apresentou uma proposta de resolução para essa data, mas o texto não mereceu o apoio de todos os partidos. Sobre os ombros de Torra e da sua equipa pesa a difícil decisão de manter o apelo à desobediência civil ou, como pretende a CUP, avançar para uma disruptiva e imprevisível desobediência institucional.
O govern, através da sua porta-voz, Meritxell Budó, garantiu, ainda assim, que está a trabalhar para conseguir um “mandato efectivo do parlamento” já na quinta-feira.
Govern compreende raiva
Esta terça-feira, Barcelona voltou a ser o epicentro de uma onda massiva de protestos civis que alastrou pelo território catalão e por várias cidades espanholas e estrangeiras e que incluiu diversos cortes de estradas e ruas. Os principais ajuntamentos estão marcados para o início da noite – um local de concentração que está a reunir milhares de pessoas é a delegação do Governo de Espanha na cidade condal.
Na véspera foram registados confrontos entre polícias e manifestantes, que provocaram dezenas de feridos – incluindo um homem que ficou sem um olho e outro que perdeu 40% da massa testicular – e que tiveram como principal palco o aeroporto de El Prat.
O departamento do Interior anunciou a abertura de um inquérito à actuação dos Mossos d’Esquadra no local e o governo catalão assumiu a sua compreensão para com a “raiva das pessoas”, oferecendo o seu apoio às manifestações no aeroporto.
“Manifestamos a nossa empatia e solidariedade para com os cidadãos que se manifestaram ontem [segunda-feira] de forma pacífica, mas também através de acções mais contundentes como o colapso de uma infra-estrutura como é El Prat”, afirmou Meritxell Budó.
O dia ficou ainda marcado pela confirmação, por parte do Ministério Público belga, da recepção de novo mandato de captura europeu contra o ex-presidente da Generalitat, Carles Puigdemont. A procuradoria aguarda, no entanto, pela tradução da documentação recebida do espanhol para inglês e para uma das três línguas oficiais da Bélgica. Nesse sentido, não é esperada uma decisão sobre o futuro de Puigdemont até à próxima semana.