Incêndios de Outubro: o que mudou em dois anos?
O fotógrafo Adriano Miranda regressou ao cenário dos incêndios de Outubro de 2017 e mostra o que mudou e o que continua igual, em ruínas.
Quando estudava Fotografia, todos os jovens aspirantes a fotógrafos sonhavam ser fotojornalistas. Existia uma visão romântica e apaixonada. Todos sonhavam ser fotógrafos de guerra. Eu nunca tive esse desejo. Desejava mais que não existissem guerras. Mas no dia 17 de Junho de 2017, um simples telefonema, mandou-me para a frente de combate. A guerra como lhe chamei na altura. Como senti e vi. E no dia 15 de Outubro do mesmo ano voltei a ser chamado. Incorporado numa luta desigual. Fotografei como um louco. Fiquei com os olhos raiados de sangue e a pele seca. Cheirava mal. E bem por de trás do visor da máquina fotográfica muitas vezes chorei. Ou no carro. Ou junto a um corpo. Ou junto a uma habitação. Fotografei como um louco. Perdido por vezes. Arrepiado sempre.
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Quando estudava Fotografia, todos os jovens aspirantes a fotógrafos sonhavam ser fotojornalistas. Existia uma visão romântica e apaixonada. Todos sonhavam ser fotógrafos de guerra. Eu nunca tive esse desejo. Desejava mais que não existissem guerras. Mas no dia 17 de Junho de 2017, um simples telefonema, mandou-me para a frente de combate. A guerra como lhe chamei na altura. Como senti e vi. E no dia 15 de Outubro do mesmo ano voltei a ser chamado. Incorporado numa luta desigual. Fotografei como um louco. Fiquei com os olhos raiados de sangue e a pele seca. Cheirava mal. E bem por de trás do visor da máquina fotográfica muitas vezes chorei. Ou no carro. Ou junto a um corpo. Ou junto a uma habitação. Fotografei como um louco. Perdido por vezes. Arrepiado sempre.
Voltar aos locais da guerra é um hábito. Percorrer o que agora parece arrumado, mas que continua a ser um caos. Sente-se um país a várias velocidades, consoante as linhas das fronteiras administrativas. Há quem tenha já casa. Há quem continue à espera. Há quem tenha a sua empresa reconstruída. Há quem ainda não tenha colocado um tijolo. Há quem já tenha plantado folhosas. Há quem já tenha desistido. Depressão é o que se sente a brotar da terra. E todos são unânimes – vai voltar a acontecer.
Fotografei como um louco. Agora as fotografias repousam num disco externo. Arquivadas. Mas o pior, são aquelas fotografias que me recusei a fazer. Ficaram na minha mente. Cravadas a nitrato de prata como antigamente. Todos os dias me deito com elas. Todos os dias me consomem. Imagino o que sentirão as vítimas de tamanha guerra. Sobrevivem, resistem ou desistem. A minha vénia vai para elas.