Periquito-monge, de beleza exótica a praga

O periquito-monge é uma ave originária da América Latina, em especial da Argentina e do Paraguai, e que chegou a Espanha principalmente na década de 80. A difusão de lojas para vender animais e a facilidade em transportá-los permitiu que até do ponto mais longínquo chegassem às ruas de qualquer cidade.

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O periquito-monge é uma ave originária da América Latina. JOSE LUIS POSTIGO SÁNCHEZ

Tapada da Ajuda, o mês mais pequeno do ano, um sábado de sol de Inverno, uma boa companhia e um daqueles passeios por entre trilhos, conversa sem fim e sem destino. Para completar o cenário que poderia ser o de um qualquer conto ou romance, ouve-se um cantar de pássaros, melódico mas estridente, peculiar, até. Olhos no céu, atentos e curiosos, e, entre árvores, avistamos num voo bailado pequenas aves exóticas, cor verde e caudas relativamente longas. Eram periquitos-monge.

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Tapada da Ajuda, o mês mais pequeno do ano, um sábado de sol de Inverno, uma boa companhia e um daqueles passeios por entre trilhos, conversa sem fim e sem destino. Para completar o cenário que poderia ser o de um qualquer conto ou romance, ouve-se um cantar de pássaros, melódico mas estridente, peculiar, até. Olhos no céu, atentos e curiosos, e, entre árvores, avistamos num voo bailado pequenas aves exóticas, cor verde e caudas relativamente longas. Eram periquitos-monge.

A minha companhia identificou-os facilmente pois conhecia-as de Madrid, e afinal nem tudo nelas é assim tão belo. Em Espanha, o periquito-monge já é mesmo considerado uma praga, uma epidemia.

Soube-se agora que a Câmara Municipal de Madrid vai avançar com um plano para eliminar os quase 12 mil periquitos-monge (Myiopsitta monachus) que por lá andam e colocam em risco a biodiversidade e até a segurança da cidade. Isto com um investimento de cerca de 100 mil euros, seis a oito euros por ave, que inclui a sua caça e ainda a esterilização dos ovos. Mas, afinal, que ave é esta e o que faz com que seja uma ameaça?

O periquito-monge é uma ave originária da América Latina, em especial da Argentina e do Paraguai, e que chegou a Espanha principalmente na década de 80. A difusão de lojas para vender animais e a facilidade em transportá-los permitiu que até do ponto mais longínquo chegassem às ruas de qualquer cidade. Os periquitos-monge começaram a encontrar poiso nas árvores sempre que fugiam das suas gaiolas e, a partir daí, até se tornar uma praga foi um “instante”. Podem viver até 12 anos e ter 50 crias, e constroem enormes ninhos que podem ultrapassar facilmente os 50 quilogramas.

Toda esta beleza exótica camufla ainda a sua agressividade e perigo. Roubam comida a outras aves, provocam danos e podem ainda ser portadores de salmonela e psitacose (ou febre dos papagaios), uma doença infecciosa transmitida via respiratória. Além de tudo isto, ainda têm impacto na biodiversidade do sítio onde estão, essencialmente pela competição com as espécies locais, uma vez que ocupam zonas de nidificação de outras aves e impedem que se reproduzam.

Se esta situação te suscita um sentimento de pena pela eliminação dos periquitos-monge, lembra-te que todo este impacto foi causado porque decidimos atravessar oceanos com estas aves. O meio ambiente e a biodiversidade têm as suas dinâmicas próprias e são estas alterações que podem fazer de algo belo uma verdadeira praga.

Em Portugal podemos encontrá-los, mas ainda não de forma preocupante. Basta estarem atentos e poderão avistá-las no Parque da Cidade do Porto e em Monsanto, no Jardim da Estrela, na Gulbenkian e na Tapada da Ajuda, em Lisboa. Fiz então a descoberta do dia e disse, entre brincadeiras, que um dia iria escrever sobre estas aves — quase ainda sem saber o quão relevante poderiam ser.