Luís Montenegro anuncia candidatura à liderança do PSD

Antigo líder parlamentar defende que o “PS era batível” se tivesse havido “oposição firme”

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Nuno Ferreira Santos

Luís Montenegro, ex-líder parlamentar do PSD, anunciou que é candidato à liderança, com a intenção de unir o partido, de acabar com a imagem de que é “subalterno ao PS”, e fazê-lo regressar à sua vocação “maioritária”.

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Luís Montenegro, ex-líder parlamentar do PSD, anunciou que é candidato à liderança, com a intenção de unir o partido, de acabar com a imagem de que é “subalterno ao PS”, e fazê-lo regressar à sua vocação “maioritária”.

Numa entrevista à SIC, Luís Montenegro desafia o actual líder Rui Rio a vir a jogo. “Serei candidato nas próximas eleições directas por uma questão de coerência e convicção. E gostava muito que Rui Rio também pudesse ser candidato”, disse, defendendo uma “clarificação” por parte da actual liderança. O actual líder está em reflexão sobre o seu futuro no partido. 

No momento de avançar, Luís Montenegro veio de viva voz assumir o que muitos dos seus apoiantes têm dito nos últimos dias: o resultado do PSD no domingo “foi mau” e a estratégia política de Rio “falhou”. Não só pela intervenção externa mas também pelo “divisionismo” interno criado. Por isso, Luís Montenegro deixa uma mensagem para dentro do partido: “Quero coesão, união, pessoas com diferentes sensibilidades e até apoiantes do dr. Rui Rio”.

Como estratégia política, o antigo líder parlamentar apontou directamente à posição que tem sido defendida por Rui Rio e defendeu que o PSD tem de deixar de ser “subalterno” ao PS. “É preciso dizer chega, basta, o PSD não pode reclamar todos os dias reformas estruturais”, apontou, considerando que já está provado que António Costa “não quer fazer” esses acordos. Para o social-democrata, o PSD deve construir propostas de reforma estruturais e prometer executá-las quando ganhar as eleições.

Com Luís Montenegro na liderança do PSD, a aproximação não será ao PS mas sim ao centro-direita, ou seja, ao CDS, ao Iniciativa Liberal. Mas não ao Chega de André Ventura por ter um “programa inconciliável” com o dos sociais-democratas. Ao PSD, o antigo líder parlamentar deixou a promessa de o tornar um partido “vocacionado para ser maioritário, como teve sempre” e não “para ser o maior dos pequenos”.

Assumindo que não é um “radical”, Luís Montenegro defendeu que “o PS era batível nessas eleições” se tivesse havido uma oposição firme. “Se tivéssemos feito o que Rui Rio fez nas últimas três semanas”, exemplificou.

Luís Montenegro foi ainda questionado sobre a sua condição de arguido nas viagens ao Euro 2016 e sobre se uma eventual acusação pode afectar o cargo de presidente do PSD, se vier a ser eleito. “Tenho a certeza absoluta de que não serei condenado por estes crimes que me são imputados”, disse, assegurando não se sentir “minimamente limitado” pelo processo: “Não há nenhuma forma de preencher esta forma de crime, nem que as viagens me tivessem sido oferecidas”.

Luís Montenegro é o primeiro candidato à liderança do PSD a assumir essa condição após as eleições legislativas de domingo e depois de uma tentativa falhada em Janeiro deste ano. O gesto acontece numa altura em que ainda não é público o que Rui Rio vai fazer perante as eleições internas, que terão de acontecer nos próximos meses no partido, de acordo com os estatutos. Esta quarta-feira, um dos dirigentes mais próximos do actual líder, David Justino, veio dizer que “não é óbvio” que Rio se recandidate ao cargo. Na TSF, o vice-presidente do PSD justificou o silêncio com o ruído que existe dentro do PSD com “este coro autêntico de apresentação de candidaturas, de críticas, de ataques, etc”.

Ainda sem se pronunciar desde domingo – e apesar de um dos seus apoiantes Ângelo Correia ter defendido que o deveria fazer “já” esta semana – Rui Rio preferiu dar outro sinal e defender que o PS não deveria inviabilizar a realização de reformas estruturais com os compromissos que está a estabelecer com a esquerda. É contra esta estratégia de alianças com os socialistas que Luís Montenegro e os seus apoiantes sempre se assumiram desde o início da liderança de Rui Rio, em Fevereiro de 2018.  

Dentro do PSD, o clima não é pacífico. Apoiantes de outro putativo candidato à liderança, Miguel Pinto Luz, vieram mostrar que estão ao lado do autarca de Cascais nesta corrida e criticar o líder do PSD, sobretudo, pelo discurso da noite eleitoral. Entre estas vozes estão Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, José Eduardo Martins, ex-secretário de Estado do Ambiente e Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara de Santarém. Vasco Rato, que foi apoiante de Pedro Passos Coelho, também mostrou apoio a Pinto Luz num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias. 

Entre as figuras notáveis do PSD, só Miguel Relvas pediu um “novo líder” e uma “lufada de ar fresco” no partido e quando questionado sobre os nomes da sua preferência indicou Miguel Pinto Luz e Luís Montenegro (por esta ordem). Outros possíveis candidatos, como Miguel Morgado ou Jorge Moreira da Silva, ainda estão em reflexão sobre se avançam, enquanto Pedro Duarte, outro challenger de Rui Rio, já declarou apoio a Montenegro. 

Nestas movimentações internas, as declarações (à agência Lusa por escrito) de Cavaco Silva foram recebidas com entusiasmo pelos críticos de Rui Rio por considerarem que o ex-Presidente da República tirou o tapete ao actual líder. O antigo presidente e primeiro-ministro do PSD assumiu ter ficado triste com os resultados do partido nas legislativas e defendeu a recuperação da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que foi afastada das listas de deputados pela actual direcção.

A estratégia política de Rui Rio também não escapou. Cavaco Silva considerou que “o número de deputados eleitos pelo PSD ficou muito aquém daquele que as vicissitudes que o país conheceu durante os quatro anos do governo da geringonça justificavam para o maior partido da oposição”. Uma declaração forte para uma figura como Cavaco Silva, da mesma família política do que Rui Rio, e que se tem mantido em silêncio sobre a vida política nacional e sobre o PSD em particular.