Governo desiste de meta de energias renováveis
Um objetivo que tem merecido grande relevo nos anúncios governamentais desde 2005 é agora abandonado.
O XXI Governo que agora vai terminar funções desistiu oficialmente de atingir a meta de 31% de comparticipação de FER (Fontes de Energia Renovável) no CBFE (Consumo Bruto Final de Energia) e, agora, aponta para uma participação de 29%.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O XXI Governo que agora vai terminar funções desistiu oficialmente de atingir a meta de 31% de comparticipação de FER (Fontes de Energia Renovável) no CBFE (Consumo Bruto Final de Energia) e, agora, aponta para uma participação de 29%.
Assim, um objetivo que tem merecido grande relevo nos anúncios governamentais desde 2005 é agora abandonado.
É o que se pode constatar na RCM 107/2019, de 6 de junho, que, incidindo sobre a execução da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas nos termos configurados no Acordo de Paris, vem, no fundamental, focar os seguintes pontos (entre outros):
1. Aprovar o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050), que consta como Anexo à referida resolução do Conselho de Ministros, adotando o compromisso de alcançar a neutralidade carbónica em Portugal até 2050.
2. Estabelecer como objetivo, para efeitos do número anterior, a redução de emissões de GEE para Portugal entre 85% e 90% até 2050, face a 2005, e a compensação das restantes emissões através do uso do solo e florestas, a alcançar através de uma trajetória de redução de emissões entre 45% e 55% até 2030, e entre 65% e 75% até 2040, em relação a 2005.
O objetivo principal do RNC 2050, publicado como Anexo da RCM 107/2019, é “a identificação e análise das implicações associadas a trajetórias alternativas, tecnicamente exequíveis, economicamente viáveis e socialmente aceites, e que permitam alcançar o objetivo de neutralidade carbónica da economia Portuguesa em 2050”.
As Áreas de Intervenção do Roteiro são a energia, os transportes, os resíduos, e a agricultura/florestas. No Roteiro apresentam-se trajetórias alternativas até 2050 para estas quatro principais componentes setoriais.
O documento versa, entre outros aspetos, sobre as metas que as renováveis (FER) devem atingir em termos de penetração na oferta de energia aos consumos finais. A meta formal em 2020 (vinculativa) estava fixada em 31% desde o governo de Sócrates através do DL 141/2010. Ou seja, o compromisso vinculativo seria que, em 2020, as FER satisfariam 31% do CBFE. O governo e o PS fizeram durante todos estes anos uma grande publicidade em torno desta meta para 2020.
Contudo, agora, no Roteiro não existe a mais pequena referência a essa meta de 31%. Em seu lugar, para 2020, aparece, discretamente, o valor de 29% no Quadro 3 – “Evolução do consumo de energia final, até 2050”, na página 3235.
Percebe-se porquê porque, vendo as estatísticas da DGEG, conclui-se que a participação das FER, tanto na produção de eletricidade, como na satisfação do CBFE (engloba todas as fontes energéticas), tem baixado nos últimos dois a três anos. Assim sendo, apesar de o ritmo ter sido muitíssimo alto porque se tratou, até aqui, de injetar FER no sistema à força de incentivos, mesmo assim não se alcança a meta para 2020 e, muito menos, as metas previstas para 2030, 2040 e 2050.
Até se poderá dizer que esta revisão em baixa está mais conforme com a realidade e, portanto, que se trataria de uma correção honesta e incontornável. O problema é que o PS/Governo a fez pela surra, para não ficar mal na fotografia do “bom aluno europeu em matéria climática e energética”, para mais num ano de eleições.
A razão fundamental está no facto de as referidas metas, fixadas politicamente a toque de caixa nos desígnios europeus que integram a designada transição energética, serem, obviamente, inverosímeis e insustentáveis.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico