Paypal abandona projecto de criptomoedas do Facebook

Trata-se da primeira empresa a abandonar a iniciativa do Facebook para criar uma moeda digital para fazer pagamentos online a partir do Messenger e do WhatsApp.

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O Facebook anunciou o seu projecto para criar uma criptomoeda em Junho Reuters/DADO RUVIC

O PayPal anunciou que vai abandonar a Associação Libra – um projecto do Facebook para criar uma moeda e carteira digital para fazer pagamentos e transferências online a partir de aplicações como Messenger e o WhatsApp, sem depender de bancos tradicionais. A empresa norte-americana de pagamentos online é a primeira abandonar o grupo que junta cerca de 30 parceiros como a Mastercard, a Visa, a Uber, o Spotify, e a Farfetch (com operações em Portugal).

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O PayPal anunciou que vai abandonar a Associação Libra – um projecto do Facebook para criar uma moeda e carteira digital para fazer pagamentos e transferências online a partir de aplicações como Messenger e o WhatsApp, sem depender de bancos tradicionais. A empresa norte-americana de pagamentos online é a primeira abandonar o grupo que junta cerca de 30 parceiros como a Mastercard, a Visa, a Uber, o Spotify, e a Farfetch (com operações em Portugal).

A decisão chega numa altura em que bancos centrais, reguladores e legisladores de vários países têm levantado dúvidas sobre a iniciativa. Esta semana, por exemplo, a Comissão Europeia enviou várias perguntas à Associação Libra sobre a estabilidade e a privacidade dos dados dos utilizadores da futura criptomoeda.

O PayPal dá poucas explicações para a saída. “[Decidimos] cessar a continuação da participação na Associação Libra para nos continuarmos a focar no progresso da nossa missão e nas nossas prioridades de negócio, numa altura em que ambicionamos democratizar o acesso a serviços financeiros a populações carentes”, lê-se num comunicado sucinto. “O Facebook tem sido um parceiro valioso e de longa data do PayPal e vamos continuar a apoiar e a trabalhar com o Facebook em várias áreas.”

Contactado pelo PÚBLICO, a equipa da libra confirma o afastamento do PayPal. “Ficamos melhor por saber sobre esta falta de compromisso agora, e não mais tarde”, escreveu Danta Disparte, responsável pela política pública e comunicação da Associação Libra. 

Dias antes da notícia da saída do PayPal, uma reportagem do Wall Street Journal tinha avançado que vários dos parceiros iniciais da Libra – como a MasterCard e a Visa – ponderavam abandonar o projecto. Pouco depois, o presidente executivo da Visa, Alfred Kelly, explicou que a participação de todas as empresas era “provisória” e que ninguém se tinha juntado oficialmente. A decisão final será feita dia 14 de Outubro, numa reunião da sede da associação em Genebra, na Suíça. 

O afastamento recente do PayPal é particularmente notório porque o actual responsável do projecto, David Marcus, foi presidente do PayPal entre 2012 e 2014. No Twitter, Marcus frisa que é essencial ter parceiros dedicados. “A dedicação a esta missão é o mais importante”, escreveu o responsável. “Uma mudança desta magnitude é difícil e requer coragem.”

Anunciado pela primeira vez em Junho de 2019, a libra nasceu com o objectivo de criar uma forma para milhares de pessoas sem acesso a uma conta bancária (mas com acesso à Internet e a um smartphone) transferirem e guardarem dinheiro a partir do telemóvel, sem depender de um banco tradicional. O conceito popularizou-se com a bitcoin, a mais conhecida das divisas digitais, que foi apresentada pela primeira vez em 2008.

Só que um dos problemas é a enorme volatilidade destas moedas. Em 2018, por exemplo, a bitcoin (cujo valor ao final da tarde de terça-feira rondava os 8000 euros), passou de 17 mil dólares para quatro mil dólares – embora as oscilações tenham feito milionários, também têm levado algumas pessoas a perder muito dinheiro.

Para evitar estas situações, a libra vai começar por estar suportada por uma reserva de moedas fiduciárias, como o dólar norte-americano. Como tal, cada membro fundador da associação deve contribuir com pelo menos dez milhões de dólares durante a fase inicial para dar alguma estabilidade à divisa. Além disto, o acesso à base de dados que regista as transacções só pode ser feito por entidades autorizadas, ao passo que qualquer pessoa se pode juntar à base de dados descentralizada da bitcoin. O sistema de pagamentos deverá funcionar através de uma carteira digital, chamada Calibra, desenvolvida pelo Facebook, que poderá cobrar por algumas das transacções. 

Ainda assim, vários reguladores têm questionado a viabilidade e segurança do sistema. Em Julho, por exemplo, o presidente do banco central dos EUA, a Reserva Federal (Fed), avisou sobre riscos relacionados com actividades criminosas como lavagem de dinheiro.

Editado 16h55, 07/10/2019: Adicionado comentário de Dante Disparte, responsável pela política pública e comunicação da Associação Libra. ​