Eleições legislativas na Tunísia criam impasse no Parlamento
Nenhum partido foi além dos 20% dos votos, obrigando a complexas negociações para formar um Governo.
Na melhor das hipóteses antecipam-se negociações longas e difíceis para que seja formado um novo Governo na Tunísia. Na pior, serão convocadas novas eleições para desfazer o impasse deixado pela elevada fragmentação do voto nas eleições de domingo.
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Na melhor das hipóteses antecipam-se negociações longas e difíceis para que seja formado um novo Governo na Tunísia. Na pior, serão convocadas novas eleições para desfazer o impasse deixado pela elevada fragmentação do voto nas eleições de domingo.
Os resultados provisórios – os oficiais são divulgados no início da próxima semana – mostram que o partido islamista moderado Ennahda foi o mais votado, com cerca de 18% dos votos, mas que se traduzem em apenas 40 lugares no total de 217 da Assembleia. O Coração da Tunísia, do magnata dos media e candidato presidencial Nabil Karoui, aparece logo a seguir com 16%.
A tendência de penalização dos partidos tradicionais que lançaram as bases do sistema político saído da revolução de 2011, que desencadeou as Primaveras Árabes, que já se tinha registado na primeira volta das eleições presidenciais manteve-se nas legislativas. A fragmentação no Parlamento irá obrigar à abertura de negociações para que seja formado um Governo, mas os primeiros sinais não permitem vislumbrar soluções óbvias.
“Nenhum partido conseguiu mais de 20% e serão necessários pelo menos quatro partidos para que seja formado um Governo”, disse à Al-Jazira Sharan Grewal, analista do Instituto Brookings.
O parceiro de coligação preferencial do Ennahda, o Nidaa Tunis, praticamente desapareceu do panorama eleitoral, e o Coração da Tunísia já disse não estar disponível para se entender com os islamistas.
A dirigente do Ennahda, Yamina Zoglami, reconhecia à Reuters que será “uma tarefa muito difícil alcançar um acordo para formar Governo”. O partido tem dois meses para encontrar uma solução e se falhar será dada a vez ao segundo mais votado. Se mesmo assim não for possível, o Presidente terá de convocar novas eleições.
No próximo fim-de-semana, os tunisinos regressam às urnas para escolher um novo chefe de Estado. A primeira volta ficou marcada pela rejeição dos candidatos apoiados pelos partidos tradicionais e a disputa será feita entre Karoui, actualmente a cumprir uma pena de prisão por corrupção, e Kaïs Saïed, um académico conservador.
O descontentamento do eleitorado com a classe política ameaça pôr em causa a legitimidade da democracia alcançada em 2011 com o derrube do ditador Ben Ali, que governou a Tunísia durante 23 anos. Com um desemprego elevado, baixos salários e com uma economia ainda a recuperar do choque no sector turístico por causa do terrorismo, muitos tunisinos sentem que pouco melhorou com a mudança de regime.