Ser pais: simples mas difícil
Nos tempos que correm ser pai e mãe é muito difícil, atrevo-me a dizer que mais difícil do que era na geração de pais do século XX. Hoje em dia educa-se em contextos em que nunca se viveu, experimentam-se situações novas e lidam-se com problemas desafiantes.
É inquestionável que os pais aprendem a ser pais quando os filhos nascem. E, a cada novo filho, há parte da aprendizagem que recomeça. Como acontece com qualquer aluno que repete o ano, há sempre um certo saber acumulado que fica, mas uma grande parte da atenção renovada e das decisões tomadas são novas aprendizagens e consequentes apostas. Instintivamente, os pais vão desenvolvendo o sentido inato de maternidade ou de paternidade, uns melhor do que outros, se é que de alguma forma é conveniente valorar este desempenho. A grande maioria dos pais empenha-se com afinco nesta tarefa: aceita conselhos, investe tempo, dinheiro, faz sacrifícios financeiros e pessoais para que os seus filhos tenham aquilo que entendem ser o melhor para eles.
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É inquestionável que os pais aprendem a ser pais quando os filhos nascem. E, a cada novo filho, há parte da aprendizagem que recomeça. Como acontece com qualquer aluno que repete o ano, há sempre um certo saber acumulado que fica, mas uma grande parte da atenção renovada e das decisões tomadas são novas aprendizagens e consequentes apostas. Instintivamente, os pais vão desenvolvendo o sentido inato de maternidade ou de paternidade, uns melhor do que outros, se é que de alguma forma é conveniente valorar este desempenho. A grande maioria dos pais empenha-se com afinco nesta tarefa: aceita conselhos, investe tempo, dinheiro, faz sacrifícios financeiros e pessoais para que os seus filhos tenham aquilo que entendem ser o melhor para eles.
Nos tempos que correm ser pai e mãe é muito difícil, atrevo-me a dizer que mais difícil do que era na geração de pais do século XX. Hoje em dia, educa-se em contextos em que nunca se viveu, experimentam-se situações novas e lidam-se com problemas desafiantes. Há 50 anos alguns brincavam na rua, outros não, por opção dos pais. Hoje, os pais sentem insegurança pelos seus filhos andarem na rua sozinhos. Há 50 anos, liam-se livros e jornais. Hoje, a tecnologia tornou-se uma espécie invasora. Há 50 anos quase todos tinham a escola a uma distância de andar a pé de suas casas. Hoje, muitos têm de andar quilómetros para irem à escola, seja em que ciclo de ensino for. Há 50 anos muitas mães e avós dedicavam-se à vida familiar. Hoje, a maioria das mães e das avós trabalha, e muito. Há 50 anos uma parte da classe média-alta tinha criadas. Hoje em dia, nem esta palavra tem significado, felizmente!
O século XX foi um século de grandes mudanças a diferentes níveis: laboral, social, familiar, tecnológico, económico e cultural. As escolas de pais de há 50 anos eram a família alargada e a comunidade envolvente que participava na educação das crianças da família. Há 50 anos aprendia-se a tomar conta dos filhos e a interpretar os sinais pela presença experiente dos mais velhos. Aprendia-se vendo e experimentando. Aprendia-se como educar e que decisão tomar conversando com os avós, com quem se partilhavam preocupações. Toda esta rede inestimável de apoios, que se estendia muito além da ocupação do tempo físico, era transmitida de geração em geração e trazia tranquilidade ao exercício da parentalidade. As alterações laborais e as ofertas de emprego, sobretudo para as mulheres, foram imensas e bem aceites pela generalidade da sociedade. O acesso ao ensino superior tornou-se mais fácil para todos.
Nos dias de hoje, a grande maioria dos pais não tem apoios em casa nem horários compatíveis com os horários escolares. Não entende o modo como o filho aprende na escola e não o consegue acompanhar, a não ser que faça outra vez a escolaridade toda com afinco e objectivo de uma boa avaliação. Não aprendeu pelos canais que cada vez mais os filhos aprendem. Não comunicavam com os seus amigos da mesma maneira que os seus filhos comunicam. Em suma, os pais querem ser pais, mas não sabem como. Nunca se viram tantas escolas de pais como hoje em dia. E muitas delas sem participantes, por falta de compatibilidade de horário.
Os pais de hoje trabalham muitas horas, com objectivos a cumprir e horários exigentes. Poucos ainda contam com o apoio dos avós ou outra família disponível para ensinar, ajudar, substituir ou fazer crescer. Estão sós. Alguns pais são cada vez mais exigentes com a escola, outros nem tempo para isso têm e acham que tudo irá acontecer como deve de ser, no seu tempo, a seu tempo. Confiam, de olhos fechados. Os que são exigentes com a escola são aqueles que reclamam do lanche, e pedem para a educadora cortar as unhas ao filho, pois não conseguem fazer essa tarefa básica em casa. Nem com a criança a dormir.
São os que reclamam que os professores deviam dar todas as educações possíveis: rodoviária, cívica, ambiental, sexual, digital, social, e mais uma mão cheia delas para todos os gostos e necessidades. São os que reclamam um excelente desempenho académico pois é um serviço pelo qual estão a pagar, seja no público seja no privado. Para os pais que podem pagar a educação dos seus filhos no ensino privado, querem garantidamente, um percurso que leve os filhos ao ensino superior, que também pode ser privado, se for de qualidade assegurada. Querem uma preparação para o ensino universitário que lhes facilite a transição e integração nesse meio mais hostil, diverso e competitivo, que de relações pedagógicas deixa muito a desejar.
Ser pai hoje não é fácil, mas ainda há os resistentes e teimosos que fazem por acompanhar, ir pôr e buscar, confiar nas escolas, ir conversar com os professores, levar às actividades de enriquecimento curricular que complementam a educação e o curriculum dos filhos; os que procuram inserir-se no mundo dos mais novos e perguntar, quando não entendem ou desconhecem qualquer que seja o tema ou serviço da conversa da actualidade. São os que percebem que aquilo que saberão sempre mais que os filhos é o amor, interesse, segurança que lhes transmitem em tudo o que fazem, mesmo numa simples conversa.
É deste sentir que transmitem que ganham o respeito e a autoridade dos filhos, de quem se quer bem mutuamente. É uma autoridade natural de quem se interessa pela vida dos seus filhos, que os quer perceber, viver no mundo em que eles vivem. São estes pais que fazem um esforço grande por perceber de redes sociais do mesmo modo que os filhos e que discutem com eles as necessidades, potencialidades e inutilidades dessas mesmas redes. São os que estão alerta, e todos os assuntos são tema de conversa para levarem os filhos a saberem pensar e ponderarem as vantagens, desvantagens, e consequências das suas acções, ou seja, ajudaram os filhos desde sempre, a tomarem decisões. Desde o ‘como o chocolate ou não’, ‘compro uma pastilha todos os dias ou junto dinheiro para um smartwatch’, até ao ‘como vou compatibilizar o tempo entre estudar e estar com os amigos’.
Quando os pais constatam que os filhos cresceram é quando percebem que os filhos começam a ter feitio e vontade. Ensinaram-nos a pensar e depois eles têm vontade própria, que muitas vezes não são as mesmas vontades dos pais. E aí continua a presença discreta, oportuna, segura, atenta. Mas nestas alturas é preciso saber fazer algumas cedências e confiar. Confiar que muito do que se disse, fez e mostrou com o exemplo da coerência de vida lá estará na altura certa. O exemplo é dos maiores ensinamentos para a vida. Se não mesmo o maior. Respeitam-se naturalmente as pessoas que vemos que vivem como dizem e dizem o que vivem.