“É o trabalho criativo que nos deixa sobreviver”
A arte e a literatura terão um papel decisivo no actual momento brasileiro. É a convicção de Conceição Evaristo, escritora, comprometida com a denúncia das desigualdades raciais, de género, de classe. Aos 72 anos, continua à procura da melhor forma de narrar uma vivência que a transformou em excepção; não gosta que a apontem como exemplo ou se fale de meritocracia quando um sistema põe lado a lado um pobre e um rico a tentar chegar ao mesmo lugar.
“Tem uma imagem que está me perseguindo nos últimos tempos e não sei como a traduzir. Num bar bem próximo, no Rio de Janeiro, num dos dias que saio do trabalho, vejo um menino armado com uma metralhadora atravessada; devia ter uns 19, 20 anos. Está parado, de plantão para o tráfico. Vem em direcção dele uma mulher, também bastante jovem, com uma criança pequena de uns dois ou três anos. Ela vai andando na direcção desse rapaz. Num dado momento esse rapaz baixa-se, faz um movimento, joga a metralhadora para trás, e o menininho vem correndo em direcção a ele e os dois se abraçam. E a mulher sorrindo, a contemplar a cena. Como traduzir isto em palavras? Como escrever isso, o que eu vi ali naquele momento...”
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“Tem uma imagem que está me perseguindo nos últimos tempos e não sei como a traduzir. Num bar bem próximo, no Rio de Janeiro, num dos dias que saio do trabalho, vejo um menino armado com uma metralhadora atravessada; devia ter uns 19, 20 anos. Está parado, de plantão para o tráfico. Vem em direcção dele uma mulher, também bastante jovem, com uma criança pequena de uns dois ou três anos. Ela vai andando na direcção desse rapaz. Num dado momento esse rapaz baixa-se, faz um movimento, joga a metralhadora para trás, e o menininho vem correndo em direcção a ele e os dois se abraçam. E a mulher sorrindo, a contemplar a cena. Como traduzir isto em palavras? Como escrever isso, o que eu vi ali naquele momento...”