O rosto que falta
Uma fotografia da guerra colonial interroga-me e exige-me que questione, que tente compreender. Há nesta imagem uma tal aridez e crueldade que a sinto como um fardo. Três homens na fotografia, mais o alferes que a tirou. Como podem ser todos meus irmãos?
Não me parece que este alferes dos comandos tivesse medo de se esquecer. Não foi por isso que tirou a fotografia. Deu-se certamente conta, no preciso momento em que travou a guerra, de que esta ia ficar dentro dele para toda a vida. Mas talvez soubesse já também que as coisas que vemos, mesmo as mais horríveis, nos escorrem por cima da retina sem que as consigamos agarrar, empurradas pelas que vêm atrás, com o gume embotado pela passagem do tempo. E sabia, creio, todos o aprendemos bem cedo, que só muito a custo conseguimos replicar nos olhos dos outros aquilo que vemos.
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Não me parece que este alferes dos comandos tivesse medo de se esquecer. Não foi por isso que tirou a fotografia. Deu-se certamente conta, no preciso momento em que travou a guerra, de que esta ia ficar dentro dele para toda a vida. Mas talvez soubesse já também que as coisas que vemos, mesmo as mais horríveis, nos escorrem por cima da retina sem que as consigamos agarrar, empurradas pelas que vêm atrás, com o gume embotado pela passagem do tempo. E sabia, creio, todos o aprendemos bem cedo, que só muito a custo conseguimos replicar nos olhos dos outros aquilo que vemos.