Morreu Manuel Ferreira de Oliveira, antigo presidente da Galp

Liderou também a Unicer e foi professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Elogiado pela sua capacidade de liderança, dizia: “Nós, infelizmente, temos mais chefes, gestores, do que líderes.”

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Miguel Madeira

Manuel Ferreira de Oliveira, antigo presidente executivo da Galp e da Unicer, morreu este sábado, aos 70 anos, anunciou a Universidade do Porto no seu site e confirmou ao PÚBLICO o gabinete de comunicação da Galp. Nascido a 21 de Dezembro de 1948, o gestor tinha sido professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Desconhece-se, para já, a causa da morte.

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Manuel Ferreira de Oliveira, antigo presidente executivo da Galp e da Unicer, morreu este sábado, aos 70 anos, anunciou a Universidade do Porto no seu site e confirmou ao PÚBLICO o gabinete de comunicação da Galp. Nascido a 21 de Dezembro de 1948, o gestor tinha sido professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Desconhece-se, para já, a causa da morte.

Estava à frente da Petróleos da Venezuela na Europa quando, em 1995, foi convidado para assumir as funções de presidente do Conselho de Administração e do Conselho Executivo do Grupo Petrogal, numa altura em que a empresa tinha grandes prejuízos e existiam conflitos entre o Estado e os investidores privados, como o Grupo Espírito Santo. Na liderança da Petrogal até 2000, Ferreira de Oliveira impulsionou a aposta da empresa na produção de petróleo e assistiu à estabilização da sua situação financeira. Saiu da Petrogal depois de o Governo de António Guterres ter entregado uma parte da empresa aos italianos da ENI, decisão com a qual não concordava.

Depois, assumiu a presidência do Conselho de Administração e foi presidente executivo da Unicer (actual Super Bock Group) e, em 2006, Ferreira de Oliveira assumiu a função de administrador executivo e director de operações no Grupo Galp Energia, tendo ocupado depois os cargos de presidente executivo (CEO) e vice-presidente do Conselho de Administração até 2015. Durante a sua presidência, sempre apoiada pelo accionista Américo Amorim, a Galp entrou na bolsa. A liderança de Ferreira de Oliveira catapultou a petrolífera para o topo do PSI-20, com uma aposta na modernização das refinarias em Portugal, que permitiram reforçar o seu domínio no sector, mas sobretudo com o investimento na exploração petrolífera, que teve resultados lucrativos no Brasil, sendo actualmente o grande trunfo da empresa. Uma estratégia desenhada pela equipa de Ferreira de Oliveira - como o gás natural em Moçambique e as parcerias com a Petrobras e com os chineses da Sinopec - que continua a marcar o percurso da Galp nos dias de hoje.

Em 2015, após nove anos à frente do Grupo Galp Energia, o gestor criticou a legislação sobre impostos sobre a Galp. “Se alguém souber calcular o valor de impostos que a lei diz que se deve cobrar, agradeço que me diga, porque aqui na Galp ninguém sabe qual é. Nem conseguimos calcular o suposto valor de imposto, nem se percebe o que a lei diz”, afirmou, criticando a “qualidade” da lei que alargou a incidência da Contribuição Especial sobre o Sector Energético (CESE) aos contratos de gás da Galp, firmados em regime take or pay. À data, mostrou-se preocupado com a “onda de legislação dirigida quase explicitamente” à Galp, que estava “a afectar” a “reputação” da empresa. “Pedem-nos a alma e tudo o mais.”

Depois de deixar a Galp, Manuel Ferreira de Oliveira fundou a PetroAtlantic Energy Corporation – com maioria de capital canadiano, sede financeira em Vancouver, Canadá, e sede corporativa no Porto –, empresa que “desenvolve projectos no sector petrolífero a nível internacional, apoiados por fundos de investimento estrangeiros”. Em 2016, tornou-se presidente da comissão de remunerações da Caixa Geral de Depósitos, função que já não desempenhava.

“A minha natureza diz-me sempre que amanhã vai ser melhor do que hoje. Nasci assim. É essa a força interna que tento transmitir aos que trabalham comigo”, dizia, em 2006, em entrevista à TSF.

“Nunca deixou de parte a sua ligação à Academia”

Com uma vasta carreira em cargos de gestão de empresas de topo em Portugal, Manuel Ferreira de Oliveira “nunca deixou de parte a sua ligação à Academia”, refere a Universidade do Porto no seu site.

Licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), em 1971, Ferreira de Oliveira adquiriu depois o grau de Master of Science e o doutoramento em Energia pela Universidade de Manchester.

O antigo professor catedrático deu aulas na FEUP entre 1979 e 1982 e foi responsável, de acordo com a instituição, pela modernização da área de energia eléctrica daquela faculdade, “tendo lançado as bases de uma equipa de investigação de reputação nacional e internacional e revelado, em tempos difíceis, grande determinação e capacidade de liderança”.

Nos anos seguintes, Ferreira de Oliveira rumou ao estrangeiro para aprofundar a sua formação em Gestão, através de programas do International Institute for Management Development (Suíça), de Harvard e da Wharton Business School (EUA).

Manuel Ferreira de Oliveira foi ainda membro do Senado da Universidade do Porto entre 2002 e 2005, vice-presidente do Conselho Geral de 2010 a 2013 e era actualmente membro do Conselho de Curadores da Fundação desde 2015.

“A sua capacidade de liderança, gestão de pessoas e equipas foi por várias vezes reconhecida, tanto a nível nacional como internacional”, refere a nota da Universidade do Porto, que destaca alguns dos prémios conquistados por Ferreira de Oliveira – “Personalidade do Ano 2006” (Recursos Humanos Magazine); “Melhor Docente do MBA Executivo 2018/19” (Porto Business School); “Melhor CEO Europeu das Empresas Oil & Gas 2011” (inquérito Thomson Reuters); “The Best Leader in the Management of a Private Company in Portugal 2012” e “The Most Transformational Leader 2016” (Leadership Business Academy).

Nós, infelizmente, temos mais chefes, gestores, do que líderes. A verdade também é que a cultura de uma liderança qualificada tem vindo a ser desenvolvida por muitas instituições e empresas. Começa-se a sentir um progresso enorme na cultura de liderança no nosso país”, afirmou ao Portal da Liderança, em 2016.

“Portugal perde uma das suas mentes mais brilhantes”

O ministro das Finanças, Mário Centeno, lamentou “profundamente” a morte do antigo presidente da Galp e expressou este sábado as suas condolências à família. “Portugal perde uma das suas mentes mais brilhantes e esclarecidas, com quem tive a felicidade e a honra de trabalhar nestes últimos quatro anos”, afirmou Mário Centeno, numa declaração incluída numa nota do Ministério das Finanças.

O Ministério das Finanças destaca a “carreira profissional preenchida” de Ferreira de Oliveira, “como gestor de excelência em diversas áreas, com destaque para o sector energético” e agradece “todo o seu empenho e trabalho nas funções que mais recentemente desempenhou como presidente da comissão de nomeações, avaliação e remunerações da CGD”. Centeno nota ainda que o gestor era “um líder cujo percurso profissional e académico deixam uma marca inegável em Portugal”.

O corpo de Ferreira de Oliveira​ vai estar em câmara ardente na igreja do Cristo Rei, no Porto, anunciou a Universidade do Porto. Com Lusa