Este país não é para jovens
Nós, jovens, somos 30% da população do país. Para o próximo domingo, dia 6, não estamos apenas a apelar ao voto. Estamos a apelar a que cada um de nós tenha voz na construção do futuro que merecemos.
As eleições legislativas são já no próximo domingo. Não tenho dúvidas que a adesão às urnas será muito maior do que nas eleições europeias, em maio passado. Mas também não tenho dúvidas que a abstenção vai marcar presença no comentário político e nos discursos da noite eleitoral.
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As eleições legislativas são já no próximo domingo. Não tenho dúvidas que a adesão às urnas será muito maior do que nas eleições europeias, em maio passado. Mas também não tenho dúvidas que a abstenção vai marcar presença no comentário político e nos discursos da noite eleitoral.
Ainda que a organização das mesas de voto, agora por ordem alfabética, não nos permita retirar ilações sobre as faixas etárias que mais contribuem para o fenómeno, as maiores suspeitas vão sempre incidir sobre a participação jovem.
Nós, jovens, somos 30% da população do país. No entanto, numa democracia que se diz representativa, apenas dez dos 230 deputados em funções tinham menos de 30 anos quando foram eleitos nas últimas eleições legislativas. Não defendo uma Assembleia da República com uma representação proporcional por faixas etárias, mas acredito que uma maior identificação entre eleitores e eleitos é essencial para o combate à abstenção e para o reforço da democracia.
A campanha eleitoral, que está prestes a terminar, foi uma vez mais marcada pela ausência de propostas para a juventude no debate público. Exceção feita para as alterações climáticas, que são o tema mais mobilizador entre as novas gerações, mas que, pela importância e gravidade do que está em causa – a sustentabilidade do nosso planeta –, não pode ser tratado como um tema do exclusivo interesse da juventude.
O investimento no Ensino Superior, o acesso à habitação e a promoção de uma política salarial digna interessam a mais de 30% da população, mas estamos a chegar ao final da campanha, ou sem conhecer, ou sem compreender como pretendem concretizar as diferentes propostas que cada partido político apresenta para cada uma dessas áreas.
Mais do que esgrimir com os números da emigração e abanar com programas e medidas direcionadas aos nossos emigrantes, é preciso encontrar soluções para que os recém-formados pelas nossas Instituições de Ensino Superior não sintam necessidade de emigrar para se realizarem profissionalmente.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, um jovem licenciado ganha menos 17,7% do que há dez anos e, por comparação, tem hoje menos 4,6% de poder de compra. Se numa das faces da moeda, o salário médio atingiu este ano os 911€, na outra face o rendimento médio de um jovem entre os 25 e os 34 anos não ultrapassa os 757€ mensais, número para o qual contribui o facto de um terço dos empregos criados para jovens terem como remuneração o salário mínimo nacional.
Na Federação Académica do Porto não acreditamos num país de moeda ao ar e lançámos a campanha “Tu não és só o futuro do país, também és o presente”. Resultado de mais de um ano de trabalho, apresentámos aos partidos políticos as nossas propostas para o Ensino Superior, onde uma vez mais sublinhamos a urgência de aumentar o alojamento para estudantes e a criação de apoios transitórios que permitam fazer face aos elevados custos do arrendamento enquanto decorrem obras de requalificação de edifícios ou reabilitação de residências.
A nossa geração é especialista em redes sociais, onde muitas vezes damos as nossas opiniões e até fazemos política sem nos apercebermos. Por isso mesmo, no âmbito desta nossa campanha, lançámos vários vídeos de combate à abstenção. Para o próximo domingo, dia 6, não estamos apenas a apelar ao voto. Estamos a apelar a que cada um de nós tenha voz na construção do futuro que merecemos.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico