Costa quer ser o equilibrista que escolhe em quem se apoia
Costa luta para convencer o eleitorado que tem de ter o peso certo para ser o fiel da balança de vários pratos de pesos desequilibrados, mas não sabe como os irá colocar na balança.
Desta vez não houve prognósticos antes do fim do jogo. Mas isso não quer dizer que não haja tácticas de jogo preparadas para quando o eleitorado der o apito inicial para as negociações para a formação de um novo Governo. António Costa refreou nos ataques aos parceiros de esquerda, sobretudo ao Bloco, foi sempre alguém a fazê-lo por ele, para que não se queimem pontes. E chegou a ver sinais que nem tudo se perdeu, quando, a meio da semana, a “geringonça” funcionou de novo para evitar um debate no Parlamento sobre o caso de Tancos. “A geringonça funcionou sempre”, chegou a dizer nas poucas vezes em que se referiu ao equilíbrio em permanente tensão com que governou nesta última legislatura.
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Desta vez não houve prognósticos antes do fim do jogo. Mas isso não quer dizer que não haja tácticas de jogo preparadas para quando o eleitorado der o apito inicial para as negociações para a formação de um novo Governo. António Costa refreou nos ataques aos parceiros de esquerda, sobretudo ao Bloco, foi sempre alguém a fazê-lo por ele, para que não se queimem pontes. E chegou a ver sinais que nem tudo se perdeu, quando, a meio da semana, a “geringonça” funcionou de novo para evitar um debate no Parlamento sobre o caso de Tancos. “A geringonça funcionou sempre”, chegou a dizer nas poucas vezes em que se referiu ao equilíbrio em permanente tensão com que governou nesta última legislatura.
À medida que as sondagens iam mostrando o PS cada vez mais longe de uma maioria absoluta, mais crescia no partido a ideia de que não a ia ter, mesmo que digam que nunca foi o cenário de partida. O “papão da maioria” assusta e afasta os eleitores indecisos para outras paragens e desmobiliza algum eleitorado que seria dado como certo à partida para o PS.
No partido foi crescendo a ideia de que muito do voto estava decidido antes mesmo da campanha, mas havia dois movimentos a contrariar: que a faixa de indecisos à esquerda tivesse a tentação de votar no BE, sobretudo, e que os de centro se agrupassem em Rui Rio, como as sondagens começaram a mostrar; e por fim a sensação de vitória garantida, que poderia fazer desinteressar os socialistas menos activos, engrossando a abstenção.
No meio disto, depois do terramoto Tancos e de um “ajustamento de expectativas” nas sondagens mais recentes, Costa quis aparecer como o conciliador de vontades que se espelham nas facções, mais ou menos visíveis, do seu partido, como no congresso do último ano em que apareceu como a mediana entre as posições de Pedro Nuno Santos e Augusto Santos Silva.
Os ferimentos infligidos ao BE - ainda que não com a gravidade de outros tempos - surgiram por outras vozes que se juntavam à campanha, incluindo as mais habituais, como Augusto Santos Silva, e as mais insuspeitas, como a de Manuel Alegre, que quis dar um “chega para lá” na moral do Bloco que o chegou a apoiar na candidatura para a Presidência da República.
Houve também ausências nas habituais sessões de pancadaria política que são de notar. Carlos César, que Costa chegou uma vez a classificar como o intérprete autorizado do seu pensamento, foi à campanha “malhar” na direita. E seria só assim a partir daí.
Nesta segunda semana, chegaram as vozes do concílio de esquerda, ou, melhor dizendo, uma voz de concilio e duas de ataque à direita. De uma só assentada, Vieira da Silva - que sai e não é dos ministros mais amados pelo BE e PCP - e Pedro Nuno Santos - que recebeu um mimo de sabor esquisito do secretário-geral do PS, que lhe chamou “fresquinho da costa” - viraram o bico ao prego na campanha e centraram os ataques no PSD, puxando por uma bipolarização em tempos de modorra de campanha, que dá sempre jeito a quem quer dramatizar o apelo ao voto.
Nesta tentativa, entraria também o ministro-sempre-elogiado em campanha, Mário Centeno, mostrando a estranheza que é um ministro das Finanças ser activo eleitoral num país que saiu da bancarrota para se arvorar em arauto das contas certas em quatro anos. Centeno apareceu por três vezes e numa delas roubaria o palco a António Costa, revelando mais uma idiossincrasia desta campanha socialista, em que o candidato se apaga para deixar outros brilharem por ele e, não menos importante, e propositadamente, passarem a mensagem que quer passar, porque sendo ele, não o consegue. Seja nas políticas públicas, seja no diálogo social, seja nos compromissos políticos e institucionais, incluindo com o Presidente da República, o PS é o centro, é “o equilíbrio”, a “moderação”, o “diálogo” e “os consensos”. “Sem o PS” não seria possível a quadratura do círculo entre políticas de devolução de rendimentos “e as contas certas”, foi dizendo.
“Equilíbrio”, a par de “estabilidade” seriam das palavras que António Costa mais repetiu nestes dias finais. Faz lembrar a ideia de “confiança” com que se batia há quatro anos. Foi daí que foi retirar algumas lições para esta campanha, como o pedido de maioria absoluta quando acabaria por perder as eleições. Para mostrar que agora o PS deu a volta ao texto e as pessoas já sabem que podem confiar no que promete, foi resgatar o caso da dona Fernanda, que lhe provocaria a epifania, nesse ano de 2015, de que não iria ganhar as eleições, porque ninguém acreditava que, fazendo o que prometia, não levaria de novo o país para uma crise.
Mas as eleições são mais do que crenças em promessas e Costa sabe disso e por isso reforçou nesta segunda semana, sempre que apareceu, os exemplos de “obra feita” com Costa, o primeiro-ministro. Foi aí que o cargo se sobrepôs ao candidato que o usou como argumento para desaparecer de cena em vários dias. Chegou mesmo a dizer que não podia “tirar férias” e que era candidato “nos tempos livres”. Nem Sócrates em 2011, nem Passos Coelho em 2015 tiveram agendas tão leves e, no caso de Sócrates, não se pode dizer que o país não estivesse a precisar de um primeiro-ministro a tempo inteiro naquelas duas semanas.
Ao passado não quer voltar, mesmo que esse tenha decidido espreitar nos dias eleitorais. A ideia era dar sempre um passo em frente, contornando as polémicas e acenando com os “riscos” quer seria “voltar para trás”.
No PS diz-se que Costa sabe que à esquerda a “geringonça” é amada e por isso que deve fazer por mantê-la, mesmo que haja tentações de governar à vista, se as negociações não chegarem a bom porto. E este é o busílis de toda a campanha: Costa pede um “reforço” para que seja clara a liderança do próximo Governo, mesmo que tenha apoio, que seja de novo um Governo PS. Se no PS se quer a repetição do cenário de 2015 com mais uns pózinhos de poder, espera-se que os resultados não estraguem a correlação de forças entre os dois principais parceiros, BE e PCP, e que o Bloco decida se aceita uma solução diferente da dos comunistas, que já disseram que não queriam acordo escrito.