PJ apreende cartas régias dos séculos XVII e XIX que podem ter sido desviadas da Câmara de Beja
Em causa estão 165 documentos manuscritos entre os anos de 1623 e 1806 que se encontravam na posse de descendentes de um antigo presidente da autarquia. Foram apreendidos depois de surgirem dúvidas quanto ao seu “descaminho do espólio do Estado”.
A Polícia Judiciária (PJ) apreendeu a particulares cartas régias escritas entre os séculos XVII e XIX e endereçadas a figuras ilustres de Beja, após o município ter levantado dúvidas sobre o seu eventual descaminho do espólio do Estado.
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A Polícia Judiciária (PJ) apreendeu a particulares cartas régias escritas entre os séculos XVII e XIX e endereçadas a figuras ilustres de Beja, após o município ter levantado dúvidas sobre o seu eventual descaminho do espólio do Estado.
Trata-se de “um códice factício constituído por 165 documentos, em bifólio de papel, manuscritos entre os anos 1623 e 1806” – ou seja, entre a dinastia filipina e o reinado de D. Maria I –, “contendo maioritariamente cartas originais enviadas em nome do ‘Rei’, do ‘Príncipe’, do ‘Infante’ e da ‘duquesa de Mântua’, [Margarida de Sabóia], e endereçadas a figuras ilustres da cidade de Beja”, precisa a PJ, num comunicado enviado esta sexta-feira às redacções.
Ao PÚBLICO, Manuel Santos, coordenador da Directoria do Sul da PJ, explicou que estes documentos, de grande relevância histórica, se encontravam “na posse de descendentes de José Maria Ançã” [1865-1926], um sacerdote nascido em Ílhavo que viveu grande parte da sua vida em Beja, onde ocupou diversos cargos religiosos e políticos, entre os quais o de vice-reitor do seminário local, reitor do liceu, provedor da Santa Casa e também presidente da câmara.
Ainda segundo Manuel dos Santos, membros da família Ançã fizeram vários contactos com o propósito da venda do códice, inclusivamente no estrangeiro. Um desses contactos foi tentado junto da Torre do Tombo, em Janeiro de 2019, confirmou ao PÚBLICO Silvestre Lacerda, director-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. “Depois de analisarmos o códice, percebemos que ele pertencia à Câmara de Beja, e demos essa indicação não só à família que estava na posse dele como ao Arquivo Distrital de Beja”, recordou Lacerda.
Com a informação da Torre do Tombo, a autarquia de Beja contactou a Procuradoria-Geral da República, e a PJ foi chamada a intervir no passado mês de Abril, tendo a investigação resultado na apreensão agora anunciada.
O códice factício vai agora ser enviado ao Laboratório de Polícia Científica, em Lisboa, para a realização de uma perícia que confirme a sua autenticidade. Com Cláudia Carvalho Silva