Bastonária dos enfermeiros considera inaceitável que existam doentes sem comer no Hospital de Coimbra

Ana Rita Cavaco afirmou que existem doente que passam mais de um dia nas urgências e que são alimentados apenas com chá e bolachas. O presidente do Conselho de administração do CHUC explicou os doentes só excepcionalmente estão além de 24 horas nas urgências e que “ o modelo de refeições é determinado pelo serviço de alimentação”.

Foto
Nuno Ferreira Santos

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE) considerou esta segunda-feira inaceitável que existam doentes que passam mais de 24 horas nas urgências do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) a serem alimentados apenas com bolachas e chá.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE) considerou esta segunda-feira inaceitável que existam doentes que passam mais de 24 horas nas urgências do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) a serem alimentados apenas com bolachas e chá.

“Sabemos que os doentes ficam muito mais do que 24 horas, às vezes até cinco dias, e estando aqui precisam de se alimentar. As pessoas não se podem alimentar de chá e bolachas durante cinco dias”, denunciou Ana Rita Cavaco à agência Lusa.

Para a administração do CHUC, o actual modelo de alimentação é o que melhor se “adequa às condições e à necessidade de manter condições nos doentes que estão na urgência para eventuais intervenções que sejam necessárias e requeiram uma alimentação leve e até pausas alimentares”.

Numa visita a três serviços do CHUC na manhã desta segunda-feira, entre eles o de urgência, a bastonária da OE salientou que a “situação não é gerida de acordo com a realidade que existe”. “Se não conseguimos mudar as circunstâncias [de os doentes não ficaram na urgência mais de 24 horas], então temos de mudar os procedimentos, o que não pode acontecer é as pessoas estarem a passar fome, o que está a acontecer”, denunciou.

Ana Rita Cavaco lamentou que a situação tenha sido reportada em Maio à administração do CHUC quando a actual enfermeira-chefe entrou ao serviço e “não se tenha mudado este procedimento”. Segundo a bastonária, “se não se consegue evitar e resolver que os doentes permanecem mais de 24 horas, tenho de mudar o procedimento que tenho”. “Se estou à espera que não fiquem doentes internados na urgência eu vou estar à espera 100 anos, porque esta é a realidade que nós temos no país”, enfatizou.

De acordo com avaliação da OE, no serviço de urgência do CHUC faltam 20 enfermeiros para assegurarem condignamente os cuidados de saúde, nomeadamente nos turnos da tarde e da noite. Confrontado pela agência Lusa com estas denúncias, o presidente do Conselho de administração do CHUC, Fernando Regateiro, explicou que a alimentação na urgência “tem uma lógica própria”, que não é a mesma do internamento.

“Os nossos doentes só excepcionalmente estão além de 24 horas em quaisquer das áreas da urgência e, portanto, o modelo de refeições é determinado pelo serviço de alimentação”, acrescentou o responsável, esclarecendo que o caso do doente que ficou internado cinco dias na urgência “foi uma situação episódica e excepcional, que ultrapassada”.

A alimentação na urgência “tem ainda a ver com a necessidade de o doente estar com muito frequência e a todo o momento preparado para realizar determinados exames complementares de diagnóstico e intervenções, que não se coadunam com o regime regular e normal de alimentação do internamento”.

O presidente do conselho de administração adiantou ainda que está pedido o reforço de enfermeiros e de assistentes operacionais para o CHUC, de forma a colmatar as necessidades. “À medida que formos recuperando a capacidade de pessoal havemos de ir ao encontro dessas necessidades que sabemos e reconhecemos, mas que temos de gerir as disponibilidades dos 2.800 enfermeiros que temos”, realçou.

Fernando Regateiro frisou ainda que o CHUC é o “maior hospital do país, com mais de 1800 camas, 900 mil consultas anuais e com o maior número de doentes saídos do internamento, que acaba por ter um reflexo muito significativo na distribuição de pessoal”.