Trump quer “conhecer” quem o “acusa”, advogados de denunciante estão preocupados

Equipa legal do autor da denúncia no centro da investigação para um processo de destituição do Presidente diz temer pela sua segurança.

Foto
Donald Trump critica quem passou informação, comparando-o a "espião" KEVIN LAMARQUE/Reuters

Os advogados do autor da denúncia sobre o telefonema de Donald Trump no centro de uma investigação para um processo de destituição temem pela segurança do seu cliente, disseram numa carta ao líder da Comissão dos Serviços Secretos do Congresso, Adam Schiff.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os advogados do autor da denúncia sobre o telefonema de Donald Trump no centro de uma investigação para um processo de destituição temem pela segurança do seu cliente, disseram numa carta ao líder da Comissão dos Serviços Secretos do Congresso, Adam Schiff.

A carta, divulgada pela CBS no programa 60 minutes e depois por outros meios de comunicação, foi entregue ainda antes dos mais recentes tweets de Donald Trump, em que o Presidente diz ter o direito de “conhecer” quem o “acusa” – e de retweetar um comentário dizendo que o processo de impeachment provocará uma nova guerra civil na América.

O autor da denúncia vai ser ouvido na comissão, disse na semana passada Schiff, faltando assegurar condições para respeitar o seu anonimato e segurança. O denunciante relatou um telefonema em que Trump pedia ao seu homólogo ucraniano que investigasse o filho do democrata Joe Biden, que é um dos principais candidatos à candidatura do Partido Democrata nas eleições de 2020. E ainda que a Casa Branca alterara o nível de confidencialidade da conversa para que fosse mais difícil aceder-lhe.

O advogado principal da equipa que representa o autor da denúncia, Andrew Bakaj, expressou “sérias preocupações” com o “perigo para a segurança” do seu cliente caso a sua identidade seja divulgada, numa carta enviada aos líderes das Comissões de Serviços Secretos do Senado e Câmara dos Representantes e ao director dos Serviços Secretos, Joseph Maguire.

A carta refere comentários feitos na quinta-feira por Trump ao seu staff, à porta fechada, na missão dos EUA na ONU, em Nova Iorque, onde decorria a Assembleia-Geral. “Quero saber quem deu informação ao autor da denúncia, porque isso é parecido com ser um espião”, disse Trump. “Sabem o que fazíamos antigamente, quando éramos espertos? Certo? Com espiões e traição? Costumávamos lidar com eles de um modo um pouco diferente do que fazemos agora”, declarou.

No domingo, Trump pediu mesmo para conhecer o denunciante. O direito ao anonimato é uma das várias protecções legais dadas a autores de denúncias. “Infelizmente, esperamos que esta situação piore, e se torne ainda mais perigosa para o nosso cliente e quaisquer outros autores de denúncias, enquanto o Congresso investiga o assunto.”

Ainda que Trump não se estivesse a referir directamente ao autor da denúncia, a afirmação é preocupante, dizem os advogados, alegando que havia já ofertas de recompensas para informação para quem divulgasse informação sobre a identidade do seu cliente. 

“Este indivíduo é um sabotador que tenta fazer cair um governo democraticamente eleito”, disse o conselheiro de Trump, Stephen Miller, na Fox.

Com base na denúncia, considerada até agora “credível” pelo inspector dos serviços secretos, a líder da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, anunciou o início de um inquérito com vista a averiguar as condições para a abertura de um processo de destituição contra Donald Trump. Para ir em frente, este precisa de ser aprovado na Câmara dos Representantes (onde os democratas são maioria) e um eventual julgamento tem lugar no Senado, onde os republicanos são maioritários. 

Numa mensagem aos democratas, Nancy Pelosi alertou para o perigo de partidarização do processo: “Esta não é uma questão política. Não é uma questão partidária. É uma questão de patriotismo”. “Esqueçam a ideia de isto ter a ver com vocês gostarem, ou não [de Trump] – essa é uma questão para as eleições. Isto é sobre a Constituição”, cita a CNN.