China celebra 70 anos com nervosismo por causa de Hong Kong
Líderes chineses receiam que festejos em Pequim sejam ofuscados por protestos no território. Polícia proibiu manifestações em Hong Kong.
Há muita expectativa para o que se vai passar durante a celebração do 70.º aniversário da fundação da República Popular da China. Mas as atenções não se vão concentrar apenas em Pequim, onde esta terça-feira decorre o grande desfile militar na Praça Tiananmen, mas sim em Hong Kong, onde há meses se desenrola um dos maiores desafios à soberania chinesa nos últimos anos.
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Há muita expectativa para o que se vai passar durante a celebração do 70.º aniversário da fundação da República Popular da China. Mas as atenções não se vão concentrar apenas em Pequim, onde esta terça-feira decorre o grande desfile militar na Praça Tiananmen, mas sim em Hong Kong, onde há meses se desenrola um dos maiores desafios à soberania chinesa nos últimos anos.
O caminho para o mais importante feriado da China tem sido feito de um nervosismo acumulado e, para muitos, o que se passar esta terça-feira pode ter amplas repercussões. “Seja para o bem ou para o mal, este será o dia que vai mudar este movimento”, dizia uma das organizadoras das manifestações em Hong Kong, Bonnie Leung, citada pela Al-Jazira.
Esta segunda-feira, as autoridades de Hong Kong rejeitaram o pedido da Frente Civil de Direitos Humanos, a organização que tem estado à frente das mobilizações, que pretendia organizar uma manifestação para coincidir com o aniversário. A comissão de recurso que avaliou o pedido concluiu que o protesto ia constituir “uma grave ameaça à ordem e segurança públicas”.
O líder do grupo, Jimmy Sham, indicou que vai acatar a proibição, embora tenha descrito a decisão como uma “realidade infeliz”. “De 1997 até agora, num curto período de 20 e poucos anos, Hong Kong chegou a um ponto onde já nem se pode organizar manifestações. Estamos a ficar cada vez mais parecidos com Pequim”, lamentou Sham, citado pelo South China Morning Post.
A principal interrogação é saber até que ponto irá a proibição das manifestações ser respeitada pelas centenas de milhares de pessoas que nos últimos meses têm enchido as principais avenidas de Hong Kong. Apesar do carácter sobretudo pacífico dos protestos, vários grupos têm adoptado tácticas violentas nos confrontos com a polícia. O grande receio é de que a proibição à manifestação organizada pela Frente Civil de Direitos Humanos, que defende acções pacíficas, venha a fomentar iniciativas mais agressivas.
A violência do último fim-de-semana em Hong Kong comprovou que os ânimos estão ao rubro no território sob administração chinesa. Os protestos que se prolongam há 17 fins-de-semana ininterruptos degeneraram em batalhas campais na zona comercial de Causeway Bay, e também no bairro de Admiralty, perto dos edifícios governamentais. A polícia antimotim usou canhões de água, lançou granadas de gás lacrimogéneo e disparou balas de borracha a manifestantes que atiravam tijolos e cocktails Molotov.
Pequim quer tranquilidade
Em Pequim, todos os esforços vão no sentido de garantir que as cerimónias desta terça-feira não são perturbadas. O Partido Comunista Chinês costuma utilizar este tipo de efemérides para fazer demonstrações de força dirigidas tanto para o exterior como internamente, e uma das prioridades de Xi Jinping tem sido garantir que a unidade territorial chinesa é inviolável. Na véspera do aniversário, Xi fez uma homenagem aos mártires da Guerra Civil e também a Mao Tsetung, junto do mausoleu onde está enterrado, na Praça Tiananmen.
O Governo tem tentado aplacar a contestação em Hong Kong, mas está cada vez com menos opções. Aquilo que começou como um movimento de oposição à lei da extradição – que iria viabilizar a extradição de suspeitos de crimes para a China, onde o sistema judicial não actua de forma independente – transformou-se numa rejeição completa da soberania chinesa sobre o território. A lei foi entretanto cancelada pelo executivo local.
Nas manifestações são cada vez mais comuns os pedidos de “libertação” dirigidos a outros países, como o Reino Unido ou os EUA, enfurecendo Pequim. “O nível de sentimento anti-China expresso de uma forma tão sincera é algo novo em Hong Kong”, diz ao Guardian o professor da Universidade Baptista de Hong Kong, Jean-Pierre Cabestan. “No passado, havia mais cautela, agora os jovens são muito mais abertos”, acrescenta.
Os dirigentes chineses interpretam os protestos na antiga colónia britânica como uma “insurreição” fomentada por “potências estrangeiras” e no ar tem pairado a ameaça de uma intervenção directa para pôr fim à desordem. No entanto, o envio do Exército do Povo para Hong Kong continua a ser visto como uma jogada de alto risco que o PCC preferia evitar, segundo os observadores.