Pichardo mostrou-se candidato, mas ficou sem medalhas
Luso-cubano falhou o pódio por quatro centímetros na final do triplo salto nos Mundiais de atletismo de Doha. Christian Taylor foi campeão pela quarta vez.
Foram quatro anos à espera para voltar a cair na caixa de areia dos Mundiais de atletismo. Tinha-o feito pela última vez em Pequim 2015, como cidadão da República de Cuba, reafirmando o seu estatuto como um dos melhores do mundo no triplo salto — foi segundo. Em 2019, Pichardo participou nos Mundiais pela terceira vez, a primeira como cidadão português, e voltou a exibir-se a grande nível, mas o melhor de Pichardo em Doha não foi suficiente para chegar ao pódio. O triplista ficou-se pelo quarto lugar na final, atrás dos dois norte-americanos que já tinham ocupado os dois lugares mais altos do pódio em 2017 e de um saltador do Burquina Faso, que ficou com o bronze na última ronda de saltos.
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Foram quatro anos à espera para voltar a cair na caixa de areia dos Mundiais de atletismo. Tinha-o feito pela última vez em Pequim 2015, como cidadão da República de Cuba, reafirmando o seu estatuto como um dos melhores do mundo no triplo salto — foi segundo. Em 2019, Pichardo participou nos Mundiais pela terceira vez, a primeira como cidadão português, e voltou a exibir-se a grande nível, mas o melhor de Pichardo em Doha não foi suficiente para chegar ao pódio. O triplista ficou-se pelo quarto lugar na final, atrás dos dois norte-americanos que já tinham ocupado os dois lugares mais altos do pódio em 2017 e de um saltador do Burquina Faso, que ficou com o bronze na última ronda de saltos.
Pichardo chegava a esta final depois de ter sido, de longe, o melhor na qualificação e, pelas suas palavras, tudo o que não fosse uma medalha de ouro seria uma desilusão, depois das duas pratas em 2013 e 2015, ainda como cidadão cubano. Queria, dizia ele, retribuir tudo o que Portugal fizera por ele e a melhor maneira seria trazer uma medalha de ouro na bagagem. Era o único português que o poderia fazer já que Nelson Évora, quatro vezes medalhado em Mundiais, tinha falhado uma presença na final e não iria defender o seu bronze de Londres 2017, os tais Mundiais que Pichardo falhou por ter desertado de Cuba, incompatibilizado com as autoridades desportivas do país.
Apesar de nunca ter andado perto do seu melhor (18,08m, o quinto melhor na história da disciplina), Pichardo foi saltando a um nível alto que parecia garantir-lhe uma posição de pódio. Abriu a 17,49m, uma marca que repetiu na terceira série de saltos e que lhe assegurava o segundo lugar, apenas atrás de Will Claye (17,72m), que parecia embalado para o ouro. Por esta altura, quem parecia tremido era Christian Taylor, o norte-americano tricampeão mundial e bicampeão olímpico que tinha feito dois nulos nos dois primeiros ensaios e que precisava de fazer alguma coisa para se manter em prova e passar para os últimos saltos. Taylor jogou pelo seguro e escapou ao corte.
No primeiro salto da segunda ronda, Pichardo melhorou para 17,62m, Claye também subiu o seu registo no concurso para 17,74m, e Taylor disparou para o primeiro lugar com 17,86m, arrumando definitivamente a questão na quinta ronda, com 17,92m, e assegurando o seu quarto título mundial depois de 2011, 2015 e 2017.
Claye não o conseguiu apanhar e repetiu o seu melhor, enquanto Pichardo também parecia estável no lugar do bronze, saltando a 17,60m. Mas a última ronda trouxe para o pódio Hugues Fabrice Zango, o homem do Burquina Faso que saltou um fantástico recorde pessoal e continental (17,66m) que deixou Pichardo sem resposta e sem medalha.
Só para se ter uma ideia do nível a que se disputou esta final do triplo, Pichardo, com estes 17,62m, foi o melhor quarto classificado de sempre, sendo que Nelson Évora foi terceiro há dois anos com 17,19m, uma marca que daria ao grande saltador português apenas o sexto lugar nesta final de Doha.
“É o meu pior resultado de sempre, não posso ficar nada feliz. Agora, tenho de trabalhar muito, muito, para chegar aos Jogos Olímpicos em boa forma e ali tentar fazer um bom resultado”, lamentou Pichardo, citado pela agência Lusa, reconhecendo, no entanto, que a concorrência era muito forte: “Eu e o meu pai [Jorge Pichardo, que também é o seu treinador] estivemos a falar e dissemos que ia ser uma boa competição, sobretudo estávamos a contar com os norte-americanos, que tinham uma temporada muito forte”.
Recordes em final inédita
O terceiro dia dos Mundiais de Doha teve uma novidade em termos de títulos atribuídos. Como já era mais que esperado, os EUA tornaram-se nos primeiros campeões do mundo na estafeta mista de 4x400m, uma prova que fazia a sua estreia em Doha. Tal como havia feito nas qualificações, o quarteto norte-americano, que incluiu a grande campeã Allyson Felix, passeou-se na prova e estabeleceu um recorde mundial (3m09,34s), à frente da Jamaica e do Bahrein.
Talvez o recorde mais significativo desta corrida seja aquele que foi alcançado por Allyson Felix, que conquistou a sua 12.ª medalha de ouro em Mundiais de atletismo, ultrapassando as 11 ganhas por Usain Bolt. Desde Helsínquia 2005, Felix, agora com 33 anos, já arrebatou um total de 17 medalhas em cinco disciplinas: 200m, 400m, 4x100m, 4x400m e, agora, nos 4x400m mistos.
Sem Usain Bolt, a chama jamaicana na velocidade continua a ser carregada por Shelly-Ann Fraser-Pryce, que conquistou em Doha o seu quarto título mundial nos 100m (oitava medalha de ouro da carreira em Mundiais). Conhecida como o “foguete de bolso” devido à sua baixa estatura (1,52m), a sprinter jamaicana fez uma corrida bem próxima do seu melhor, com 10,71s (apenas um centésimo abaixo do seu recorde pessoal), deixando para trás a britânica Dina Asher-Smith, que até fez a sua melhor prova de sempre nesta final do hectómetro (10,83s).