Na Universidade da Madeira, alojamento não é (para já) um problema
Isabella paga por um quarto, a cinco minutos a pé da universidade, 250 euros por mês. Tiago conseguiu lugar na residência, cujos preços não ultrapassam os 175 euros por cama. E há quem pague 160 euros por quarto. No Funchal, (ainda) é possível encontrar alojamento a valores acessíveis.
Quando Isabella Nishimura recebeu a notícia de que tinha sido colocada na Universidade da Madeira (UMa), as preocupações desta família de Azeitão sobrevoaram o Atlântico para aterrar no mercado imobiliário do Funchal. Todos os anos, ano após ano, por esta altura, o preço dos alojamentos para estudantes vai ocupando noticiários e desenhando manchetes. A tónica, quase sempre, anda à volta dos preços exorbitantes que se pedem por um quarto, muitas vezes, bem mal-amanhado. A culpa, foram lendo e vendo os Nishimura, era do turismo. Dessa moda do alojamento local, que pressionava rendas, afastava pessoas dos centros urbanos e penalizava universitários a estudar longe de casa.
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Quando Isabella Nishimura recebeu a notícia de que tinha sido colocada na Universidade da Madeira (UMa), as preocupações desta família de Azeitão sobrevoaram o Atlântico para aterrar no mercado imobiliário do Funchal. Todos os anos, ano após ano, por esta altura, o preço dos alojamentos para estudantes vai ocupando noticiários e desenhando manchetes. A tónica, quase sempre, anda à volta dos preços exorbitantes que se pedem por um quarto, muitas vezes, bem mal-amanhado. A culpa, foram lendo e vendo os Nishimura, era do turismo. Dessa moda do alojamento local, que pressionava rendas, afastava pessoas dos centros urbanos e penalizava universitários a estudar longe de casa.
Foi por isso normal a expectativa com que aterraram os três na Madeira, o pai, a mãe e Isabella. “Nos primeiros dias ficámos num hotel, enquanto procurava um quarto e tratava da matrícula”, conta ao P3 a estudante de 19 anos, admitindo que não sabiam o que ia encontrar. Mas foi fácil. Isabella, que está agora a começar o segundo ano de Medicina, procurava uma moradia que pudesse partilhar com estudantes. Encontrou, e logo a “cinco minutos a pé da faculdade”. Preço pelo quarto? 250 euros redondos, com despesas incluídas. Lá em casa moram outros dois colegas de curso, um rapaz e uma rapariga, que pagam os mesmos 250 euros. “Não é mau”, encolhe os ombros. “Mas há melhor. Tenho colegas a partilhar casas com quartos a 160 euros”, diz a estudante, que escolheu a Madeira como terceira opção.
A UMa, que está a completar 41 anos de actividade, é uma universidade pequena se olharmos para outras instituições de ensino superior do país. Não chegam a três mil os estudantes que percorrem o campus universitário, ali nos arredores do Funchal. Mais de 90% deles são naturais da Madeira. Perto de metade residem mesmo no Funchal. “Tudo isto contribuiu para que a questão do alojamento dos estudantes não seja, ainda, uma questão”, explica Carlos Abreu, presidente da associação de estudantes, a Académica da Madeira. “A procura não é assim tanta.”
No caso de Isabella, as especificidades do curso de Medicina na Madeira — só os primeiros dois anos são leccionados no Funchal, depois os estudos prosseguem na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa — também ajudaram. “Os alunos do segundo ano entregam uma espécie de guião aos que chegam e a casa onde estou tinha sido ocupada por outros alunos que entretanto foram para Lisboa”, diz Isabella, que, de traje académico vestido, tem passado estes dias a receber os caloiros do curso.
Travar o problema antes que seja problema
A cidade, nota Carlos Abreu, conta também com uma residência universitária, o que contribuiu para retirar um pouco mais pressão dos preços das rendas. São perto de 210 camas, entre quartos triplos, duplos e singles (preparados para acolher estudantes com mobilidade reduzida), com um intervalo de preços entre os 76,26 euros e os 175 euros. Tiago Mendes não paga nada. Ou melhor, paga 175 euros por cama num quarto triplo, mas, por ser bolseiro, o valor da renda é suportado mensalmente pela bolsa. Tem 19 anos e, tal como Isabella, chegou ao Funchal em 2018, para o curso de Medicina. A primeira opção de alojamento foi mesmo a residência. “Tenho dois irmãos mais velhos – a Vera [a estudar Ciências Farmacêuticas, no Porto] e o Pedro [Engenharia Mecânica, em Coimbra] —, que também ficaram em residências, por isso foi normal”, diz o estudante de Fafe.
No primeiro ano, recorda, a experiência foi atribulada. Faltava “maturidade” aos colegas de quarto, mas este ano, com novos companheiros, tudo normalizou. “Entrei na segunda fase, por isso não tive muitas hipóteses de escolha, mas este ano está a correr bem”, acrescenta, dizendo que mesmo não sendo um tema de conversa habitual nos corredores da universidade, sabe que também existem quartos e casas “caríssimos”. É por isso, para travar o problema antes que ele se torne um problema, que Carlos Abreu defende a existência de mais uma residência, até para potenciar a “internacionalização” da UMa. “Existem cerca de 40 alunos estrangeiros, mas podiam ser muitos mais se houvesse mais quartos disponíveis”, argumenta o presidente da Académica da Madeira
Uma vontade que, projectou esta semana o reitor da universidade madeirense, José Carmo, poderá ser uma realidade nos próximos quatro anos. No final de uma reunião no Funchal com o secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Sobrinho Teixeira, o reitor da UMa falou do projecto para a Quinta de São Roque, que integra o campus universitário, que contempla a construção de dois edifícios: um destinado a aulas, com capacidade para 600 estudantes, e outro para uma nova residência, com 200 camas. Em estudo está também o aproveitamento de imóveis pertencentes à igreja madeirense, que não estão a ser utilizados, e que no futuro podem ser adaptados para residências universitárias. Tudo com apoios de fundos comunitários e do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior.