Festival HabitACÇÃO: a luta pelo direito à habitação também se faz com azulejos
No Bairro dos Anjos, em Lisboa, há azulejos que contam histórias de acções de despejo e contratos não renovados. Iniciativa é do festival HabitACÇÃO, que termina este domingo, 29, com uma manifestação na Avenida da Liberdade, pelas 15 horas.
Numa tentativa de “mostrar a gravidade da situação habitacional em Lisboa”, o workshop Perdi a Casa – inserido nas actividades do festival HabitACÇÃO – foi uma tentativa de criar uma memória colectiva, urbana e digital sobre as acções de despejo e não renovação de contratos na cidade, através da escrita em azulejos nos Anjos. O Perdi a Casa é uma “iniciativa pessoal cidadã”, mas começou com uma acção colectiva no festival inaugurado a 7 de Setembro, que se prolonga até domingo, 29.
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Numa tentativa de “mostrar a gravidade da situação habitacional em Lisboa”, o workshop Perdi a Casa – inserido nas actividades do festival HabitACÇÃO – foi uma tentativa de criar uma memória colectiva, urbana e digital sobre as acções de despejo e não renovação de contratos na cidade, através da escrita em azulejos nos Anjos. O Perdi a Casa é uma “iniciativa pessoal cidadã”, mas começou com uma acção colectiva no festival inaugurado a 7 de Setembro, que se prolonga até domingo, 29.
O projecto de Claraluz Keiser, geógrafa urbanista natural do Brasil, conseguiu reunir cerca de 55 relatos de pessoas vítimas “da crise habitacional em Lisboa”. As suas histórias foram redigidas em azulejos – “um símbolo cultural português” –, passaram pelo processo de cozedura e “foram posteriormente espalhadas pelo Bairro dos Anjos”.
Perante “o sucesso da acção”, e como revelou Claraluz Keiser ao P3, o projecto continua aberto a receber novos relatos, quer pelo Instagram quer por email. Mas as acções contra esta realidade não se ficam por aqui — até porque o festival HabitACÇÃO, organizado por cerca de 30 associações, programou mais de 40 actividades dedicadas ao tema Acção pela Habitação. Exposições, concertos, lançamento de filmes, acções de rua, performances artísticas e debates pretendem “chamar a atenção, questionar, mobilizar e convidar a tomar a palavra” sobre a temática.
Para além do workshop com azulejos e da greve geral climática, que acontece esta sexta-feira, está agendada uma oficina de Costura pela Habitação para este sábado, 28, a partir das 15 horas. Segue-se, às 17 horas, um concerto de cravos e leituras — uma actividade intitulada A Rua é Nossa. Às 18 horas é tempo da performance de Vanda Rodrigues, Sobreposição: Um espectáculo de Amor sobre a Gentrificação. Ao longo deste mês já se realizaram passeios guiados por bairros gentrificados de Lisboa, como Alfama, Mouraria e Graça, assim como um workshop para crianças.
Nicolas ‘Kino’ Sousa, presidente da Associação de Valorização do Património e da População da Graça (AVPPG), uma das associações organizadoras do festival, exige “o fim dos despejos e das demolições sem alternativa”, “a regulação das rendas”, “mais habitação pública de qualidade”, o usufruto “do espaço público e dos espaços sociais” e “uma mudança radical no modelo de governança e de desenvolvimento das cidades”. Neste sentido, e para cada uma destas preocupações, a organização propõe uma série de medidas: “a indexação do valor das rendas ao ordenado mínimo nacional”, “políticas de habitação que diminuam as desigualdades sociais e impeçam a segregação étnico-racial” e “a diminuição efectiva do número de apartamentos turísticos e a expropriação dos monstros imobiliários”.
No fundo, contou o responsável, o festival HabitACÇÃO é “um apelo às pessoas” para que se juntem a esta manifestação e para que se possa “começar uma luta unida” — não só em Lisboa, mas noutros locais. Perante estes fenómenos da “gentrificação, da turistificação, da demolição e da expulsão”, o festival atinge o clímax no domingo, 29 de Setembro, com uma manifestação pelo direito à habitação e à cidade na Avenida da Liberdade, em Lisboa, com concentração marcada para as 15 horas.
A ideia é que o festival seja “uma acção continuada”, na sequência da manifestação pela habitação que teve lugar em Lisboa no passado dia 22 de Setembro. Como adiantou Nicolas ‘Kino’ Sousa, serão tomadas algumas iniciativas mais concretas para “lutar contra os despejos”, “baixar e regular as rendas” e incentivar o “aumento salarial”. Assim, “acções na Câmara de Lisboa e petições” são algumas das acções que estas associações poderão levar a cabo depois da concentração do fim-de-semana.