Ciclo interrompido para Évora, ciclo retomado para Pichardo
Luso-cubano do Benfica vai lutar pela medalha de ouro na final do triplo salto nos Mundiais de atletismo, em Doha. Saltador do Sporting ficou a sete centímetros.
Depois de décadas a ver maratonas e provas de fundo e meio-fundo, os portugueses mudaram os seus hábitos de consumo nas grandes provas de atletismo. Passaram a estar especialmente atentos às provas de triplo salto porque havia uma alta probabilidade de verem uma medalha portuguesa – que podia ser de ouro. A culpa foi apenas de um homem, chamado Nelson Évora, que, desde 2007, ganhou 11 medalhas, entre Jogos Olímpicos, Mundiais de atletismo e Europeus (ar livre e pista coberta). Nos Mundiais de atletismo que estão a decorrer em Doha, essa recolha de metais preciosos ficou, para já, em suspenso, com Évora a falhar a final do triplo salto. Mas os portugueses vão estar na mesma atentos. Pedro Pablo Pichardo, que teve a carreira internacional interrompida durante dois anos, vai estar na final deste domingo para lutar por uma medalha. Que pode bem ser de ouro.
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Depois de décadas a ver maratonas e provas de fundo e meio-fundo, os portugueses mudaram os seus hábitos de consumo nas grandes provas de atletismo. Passaram a estar especialmente atentos às provas de triplo salto porque havia uma alta probabilidade de verem uma medalha portuguesa – que podia ser de ouro. A culpa foi apenas de um homem, chamado Nelson Évora, que, desde 2007, ganhou 11 medalhas, entre Jogos Olímpicos, Mundiais de atletismo e Europeus (ar livre e pista coberta). Nos Mundiais de atletismo que estão a decorrer em Doha, essa recolha de metais preciosos ficou, para já, em suspenso, com Évora a falhar a final do triplo salto. Mas os portugueses vão estar na mesma atentos. Pedro Pablo Pichardo, que teve a carreira internacional interrompida durante dois anos, vai estar na final deste domingo para lutar por uma medalha. Que pode bem ser de ouro.
Logo ao primeiro salto na qualificação, Pichardo lançou a sua candidatura ao lugar mais alto do pódio, aterrando nos 17,38m e bem acima da marca que era pedida (17,10m). Depois, o luso-cubano ficou a ver os restantes 32 participantes a lutar por 11 lugares na final. Um deles era o seu companheiro de selecção, Nelson Évora, que foi fazendo uma qualificação em crescendo, mas que acabaria por ser insuficiente para estar entre os finalistas. Abriu a 16,26m, melhorou no segundo ensaio para 16,67m e fechou com 16,80m, uma marca que lhe deu um lugar entre os 12 melhores durante alguns minutos, mas que acabou por o deixar no 15.º posto, a sete centímetros do último dos qualificados, o turco Necatí Er (16,87m).
Pichardo reentrou, assim, em grande nos palcos maiores do atletismo, depois de dois anos sem o poder fazer por ter desertado de Cuba, país onde nasceu. Foi por isso que não participou nos Mundiais de Londres em 2017, numa altura em que já tinha sido anunciado como atleta do Benfica. Por ter vindo viver e treinar para Portugal, a federação cubana não o inscreveu e Pichardo acabou por pedir a nacionalidade portuguesa – que lhe foi concedida no ano passado – e compete com as cores nacionais desde Agosto. Procura agora retomar em Doha um ciclo que já lhe valeu, ainda como cubano, duas medalhas de prata nos Mundiais 2013 e 2015, e o estatuto de quinto melhor de sempre, com um salto a 18,08m em 2015, e que é o recorde de Cuba – também é recordista português desde Maio de 2018, com 17,95m.
O luso-cubano foi, de longe, o melhor da qualificação, mas já se sabe que isso não é um passaporte automático para a medalha de ouro. Também passaram os dois melhores norte-americanos, Christian Taylor e Will Claye, campeão mundial e vice-campeão, ambos com saltos mais que suficientes para passarem sem sobressaltos – Taylor, que procura em Doha o seu quarto título consecutivo, fez 16,99m; Claye, que não quer voltar a ficar atrás de Taylor, fez 16,97m. Para além de Pichardo, apenas mais um salto acima da marca pedida, Hugues Fabrice Zango, do Burquina-Faso, com 17,17m. Seja qual for a concorrência, Pichardo só pensa num lugar, o primeiro. “Estou aqui para ganhar o ouro. Não vale a pena lutar por outra medalha. É por isso que Portugal me acolheu, para lutar pelo lugar mais alto”, garantiu o luso-cubano.
Na perspectiva de Nelson Évora, é um ciclo de medalhas que se interrompe. Em 2007, entrara com estrondo na história dos Mundiais, com uma medalha de ouro em Osaka e um tremendo recorde pessoal (17,74m), conquistando depois um título olímpico no ano seguinte em Pequim, duas entre as muitas medalhas que foi conquistando na última década e meia. Esta participação no Qatar foi apenas a segunda vez que Évora não se qualificou para a final – a primeira foi em Helsínquia 2005, na primeira participação, sendo que, nos cinco Mundiais seguintes, teve quatro medalhas e um quinto lugar, a última das quais um bronze em 2017. “Não encaro isto com naturalidade, não é o meu registo habitual. Não é para isto que trabalho”, lamentou Évora.
Dia da marcha longa
O segundo dia dos Mundiais de Doha terá, na perspectiva portuguesa, grandes motivos de interesse. Já depois do pôr-do-sol, às 21h30, correm-se, em simultâneo, as provas masculina e feminina de 50km marcha. Inês Henriques vai defender o seu título de campeã mundial conquistado em 2017, quando a prova se disputou pela primeira vez, tendo desta vez uma forte concorrência – mas também terá a companhia de uma compatriota, Mara Ribeiro. Na prova masculina, o veterano João Vieira cumpre a sua 11.ª participação em Mundiais, igualando o recorde de Susana Feitor, e também pensa numa boa classificação final.
Finais do segundo dia
17h25 Martelo (F)
18h40 Comprimento (M)
19h10 10.000m (F)
20h15 100m (M)
21h30 50km marcha (M e F)
Portugueses em acção
14h51 Lorene Bazolo 100m (Qual.)
21h30 João Vieira, Inês Henriques e Mara Ribeiro 50km marcha (Final)