Gratos ou ingratos? A propósito de Greta
Quer se goste, ou não, da jovem sueca, sejamos gratos pelo agitar de consciências. Porque estamos a ser muito ingratos para com o nosso planeta.
O fenómeno gerado pela jovem activista do clima, Greta Thunberg, tem dado muito que falar. E se, numa primeira fase, era vista como um modelo, alguém que movia e move multidões e nos enche de orgulho (e, também, muita vergonha pelo que temos andado a fazer ao mundo), começa agora a ser criticada e atacada. Chamada de peão que alguém, talvez não tão bem intencionado, manipula a partir dos bastidores. De miúda incoerente e inconsistente que se limita a papaguear e a teatralizar o que alguém terá escrito. De filha de uns pais que se aproveitam deste mediatismo para proveitos próprios. De alguém com síndrome de Asperger e outras perturbações psicológicas e, por isso mesmo, mais vulnerável a manipulação por parte de terceiros. Ou, quem sabe, a tentar tirar dividendos dessas mesmas perturbações.
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O fenómeno gerado pela jovem activista do clima, Greta Thunberg, tem dado muito que falar. E se, numa primeira fase, era vista como um modelo, alguém que movia e move multidões e nos enche de orgulho (e, também, muita vergonha pelo que temos andado a fazer ao mundo), começa agora a ser criticada e atacada. Chamada de peão que alguém, talvez não tão bem intencionado, manipula a partir dos bastidores. De miúda incoerente e inconsistente que se limita a papaguear e a teatralizar o que alguém terá escrito. De filha de uns pais que se aproveitam deste mediatismo para proveitos próprios. De alguém com síndrome de Asperger e outras perturbações psicológicas e, por isso mesmo, mais vulnerável a manipulação por parte de terceiros. Ou, quem sabe, a tentar tirar dividendos dessas mesmas perturbações.
Greta, a adorada e imitada por muitos, considerada a voz de uma jovem geração, que nos faz acreditar um pouco mais no futuro. Ou Greta, a marioneta, questionada e mesmo odiada por outros tantos, olhada como alguém que, faltando à escola (o sonho de tantos jovens, infelizmente), consegue um sucesso fácil.
Neste contexto, o que poderemos dizer? O que pode a Psicologia dizer?
Ao ler as diversas notícias e comentários sobre este tema, penso ser importante reflectir sobre três ideias.
Em primeiro lugar, parece estarmos a assistir a verdadeiras manobras de distracção, daquelas que procuram distrair os mais incautos. É obviamente importante perceber as reais motivações desta jovem e de quem está com ela, mas será esse o cerne da questão? Estaremos, sem querer, a entrar num perigoso processo de atenção selectiva, em que apenas vemos uma parte da realidade, ignorando tudo o resto? Porque, em boa verdade, é nas mãos dos nossos filhos, e netos, e bisnetos… que o planeta irá ficar. O que nos interessa a nós, então esqueletos, se a temperatura do ar aquece ou arrefece, se as espécies animais desaparecem para sempre ou se o mar entra terra adentro e tudo leva com ele? Centremo-nos no essencial, distinguindo-o do acessório.
Em segundo lugar, se Greta perturba e agita consciências, esse facto já é meritório. Ver jovens mais preocupados com a salvação do planeta onde vivem do que com as skins do Fortnite que querem comprar, ou com os looks para as selfies, é algo simplesmente espantoso. É algo que nos deve encher a nós, adultos, de orgulho. Que sejam eles, os mais novos, a tomar o pulso disto tudo. Chamem-se eles Greta, Malala ou simplesmente Maria, não interessa. Não andamos há décadas a apregoar que as crianças são os adultos de amanhã? E não é que são mesmo? Se puderem não cometer os mesmos erros que nós cometemos…
Em terceiro lugar, a própria jovem admite a presença de diversas perturbações psicológicas, como síndrome de Asperger, perturbação obsessivo-compulsiva, depressão, perturbação alimentar, entre outras. Falamos de perturbações com sintomas muito diversos e que se manifestam de forma diferente em diferentes pessoas. De qualquer forma, assumir publicamente a existência destas perturbações contribui, também, para uma diminuição do estigma em redor da saúde mental. Que esta deixe, de uma vez por todas, de ser o parente pobre da saúde. Se não temos vergonha em assumir um problema renal ou cardíaco, porque continua, ainda, a ser tão difícil assumir uma doença mental? Por outro lado, percebemos também que os problemas psicológicos não têm de ser, necessariamente, incapacitantes ou tornar-nos nuns coitadinhos.
Em jeito de conclusão, é necessário reforçar a necessidade que há em agir. Não basta falar, bater palmas e escrever cartazes. Agir a nível micro, sim, mas, acima de tudo, a nível macro. Agora, quem tem o poder de tomar as decisões que se mexa.
Quer se goste, ou não, da jovem sueca, sejamos gratos pelo agitar de consciências. Porque estamos a ser muito ingratos para com o nosso planeta.