Assembleia Geral da ONU: tensão no Médio Oriente é prato forte nos bastidores

Reunidos a partir desta terça-feira em Nova Iorque, líderes mundiais desdobram-se em encontros bilaterais para debater disputas no Golfo Pérsico. “Brexit” e Venezuela também constam do menu alternativo da 74ª sessão assembleia da ONU, a par do mega-debate sobre o clima.

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Cimeira da Acção Climática começou esta segunda-feira, na véspera do arranque da 74ª sessão da Assembleia Geral da ONU EPA/JUSTIN LANE

Como em tantas outras edições da reunião magna das Nações Unidas, também a 74ª sessão da Assembleia Geral da organização mundial, que arranca esta terça-feira, em Nova Iorque, arrisca ser notícia mais pelos encontros entre líderes que se realizam à margem do que pela sessão plenária em si. A par da cimeira mediática sobre as alterações climáticas, o prato forte da sessão desde ano são as reuniões de bastidores relativas à escalada de tensão no Médio Oriente, com norte-americanos, sauditas e iranianos no centro da polémica. O “Brexit” e o impasse venezuelano são outros dos temas em destaque nos corredores da ONU.

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Como em tantas outras edições da reunião magna das Nações Unidas, também a 74ª sessão da Assembleia Geral da organização mundial, que arranca esta terça-feira, em Nova Iorque, arrisca ser notícia mais pelos encontros entre líderes que se realizam à margem do que pela sessão plenária em si. A par da cimeira mediática sobre as alterações climáticas, o prato forte da sessão desde ano são as reuniões de bastidores relativas à escalada de tensão no Médio Oriente, com norte-americanos, sauditas e iranianos no centro da polémica. O “Brexit” e o impasse venezuelano são outros dos temas em destaque nos corredores da ONU.

Os ataques da semana passada, com drones e mísseis, a dois campos petrolíferos da Arábia Saudita, e as trocas de ameaças e acusações que daí vieram – com Riad, Washington e Londres a acusarem Teerão de ser o seu autor, ao invés dos rebeldes houthis do Iémen, e a admitirem operações militares na região – incendiaram ainda mais um ambiente que já era tóxico no Golfo Pérsico, há vários meses, e serão objecto de intensos debates ao longo da semana entre chefes de Governo e de Estado e entre os vários líderes com interesses económicos em risco na região.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a chanceler alemã, Angela Merkel, o Presidente francês, Emmanuel Macron, serão protagonistas de encontros bilaterais e multilaterais, destinados a apresentar respostas para suavizar a escalada de tensão e debater soluções para salvar o moribundo acordo nuclear iraniano – rasgado pelos Estados Unidos e incumprido pelo Irão. O Presidente iraniano, Hassan Rouhani, também participará em alguns desses encontros, tendo já prometido apresentar à ONU um plano securitário para a região do Golfo.

Macron tem procurado reunir sinergias para mediar uma cimeira pacífica entre Rouhani e o Presidente dos Estados Unidos, mas tudo indica que Donald Trump rejeite a proposta do chefe de Estado francês. Para além de ter rasgado o acordo nuclear, em 2018 – depois de acusar a República Islâmica de o estar a violar e de continuar a patrocinar grupos terroristas –, o líder norte-americano tem sido um dos grandes promotores da reposição de sanções económicas e do incremento de uma postura agressiva para com o Irão, tendo chegado a ameaçar atacar militarmente o país.

Só um enorme volte-face estratégico da Casa Branca ou um gesto intempestivo de Trump – como quando foi à Coreia do Norte, de surpresa, em Junho, para cumprimentar Kim Jong-un na zona desmilitarizada – podem dar luz verde a um encontro visto pelas partes como morto e enterrado antes sequer de se realizar.

Bolsonaro protagonista?

O debate sobre o clima terá um espaço próprio para se desenrolar – a Cimeira da Acção Climática realiza-se esta terça-feira, na véspera do início dos trabalhos na sede da ONU em Nova Iorque. Mas isso não significa que não terá lugar na Assembleia Geral, bem pelo contrário. Jair Bolsonaro deve aproveitar o discurso inaugural da sessão para defender as políticas do Governo brasileiro para a exploração da Amazónia e acusar quem denuncia estar em marcha um plano de erosão acelerada da floresta, com desmatamentos e queimadas, promovido pela equipa do Presidente. 

Na comitiva brasileira segue mesmo uma representante de um povo indígena brasileiro, que vai defender Bolsonaro, mas cuja legitimidade de representação da cultura local já foi contestada por grupos e associações de defesa de direitos indígenas.

De volta aos bastidores, o “Brexit” será objecto de debate entre Johnson e os seus aliados. Pressionado em casa e em Bruxelas para encontrar uma forma de contornar os obstáculos e cumprir a retirada do Reino Unido da União Europeia a 31 de Outubro, o primeiro-ministro britânico tem encontros agendados com Merkel, Macron e Trump, para tentar regressar ao Reino Unido com alguma vitória diplomática ou promessa comercial para o pós-“Brexit”. 

Estão ainda previstas reuniões com o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, e com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.

E com Nicolas Maduro, Presidente da Venezuela, ausente da cimeira mundial, a oposição vai organizar várias iniciativas para pressionar os aliados europeus e latino-americanos a incrementarem a política de sanções ao regime e os apoios ao autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó.

Juntamente com Maduro, os Presidentes da Rússia e da China, Vladimir Putin e Xi Jinping, são outros grandes ausentes de uma Assembleia Geral que se adivinha fértil em discursos, mas que tem a funcionar nos bastidores a sua verdadeira máquina de decisões políticas.