Elisa Ferreira valoriza escrutínio e nega existência de conflitos de interesses

Comissária indigitada ficou surpreendida com a polémica sobre o cargo ocupado pelo marido: “Aqui no Parlamento Europeu o assunto não foi minimamente valorizado porque não encontraram nenhum conflito entre o interesse público defendido pelo Estado e o interesse de um funcionário público”.

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JOSÉ SENA GOULÃO

Na sua primeira visita ao Parlamento Europeu na qualidade de comissária indigitada para a pasta da Coesão e Reformas, Elisa Ferreira reuniu-se com vários dos eurodeputados com assento nas comissões que supervisionam as áreas que ficarão sob a sua tutela — que não lhe manifestaram quaisquer reservas ou sequer dúvidas quanto a potenciais conflitos de interesse no exercício das suas novas funções, mas deram-lhe a conhecer algumas das suas preocupações e expectativas relativas ao mandato que vai iniciar a 1 de Novembro se, como se espera, a sua nomeação for confirmada.

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Na sua primeira visita ao Parlamento Europeu na qualidade de comissária indigitada para a pasta da Coesão e Reformas, Elisa Ferreira reuniu-se com vários dos eurodeputados com assento nas comissões que supervisionam as áreas que ficarão sob a sua tutela — que não lhe manifestaram quaisquer reservas ou sequer dúvidas quanto a potenciais conflitos de interesse no exercício das suas novas funções, mas deram-lhe a conhecer algumas das suas preocupações e expectativas relativas ao mandato que vai iniciar a 1 de Novembro se, como se espera, a sua nomeação for confirmada.

Apesar de se confessar “um bocadinho surpreendida” pela polémica em que se viu envolvida por alegados conflitos de interesse relativos à sua carteira de investimentos ou ao facto de o seu marido ocupar o cargo de presidente da comissão de coordenação responsável pela aplicação dos fundos estruturais na região Norte, Elisa Ferreira considerou bem-vindo o escrutínio levado a cabo pelo Parlamento Europeu. “Esse escrutínio dos conflitos de interesses das pessoas faz parte e penso que é muito bom que as coisas sejam postas de uma forma clara, para que não haja dúvidas sobre o que é que move as pessoas no exercício das suas funções”, declarou aos jornalistas portugueses, no final de um encontro com o presidente do Parlamento Europeu.

Recorde-se que após a avaliação das declarações de interesses financeiros de todos os comissários designados, os membros da comissão de Assuntos Jurídicos do Parlamento Europeu pediu esclarecimentos a Elisa Ferreira sobre uma participação no capital da Sonae SGPS (proprietária do PÚBLICO), que está identificada no registo de transparência da União Europeia como lobbyista. A mesma comissão pediu a outros nove comissários indigitados que clarificassem as suas declarações de interesses.

“A comissão pôs a hipótese de eu vender uma participação accionista muito pequenina de uma empresa portuguesa”, confirmou Elisa Ferreira, que deu ordem de venda desses títulos. “E foi o único assunto que aqui o Parlamento Europeu levantou sobre mim”, acrescentou a candidata a comissária, que esta terça-feira confirmou in loco não existirem dúvidas relativamente a um eventual conflito de interesse com o cargo desempenhado pelo seu marido. “Aqui no Parlamento esse assunto não foi minimamente valorizado, mas de qualquer modo pedi um esclarecimento para que não restem dúvidas”, informou Ferreira, que está disponível para “esclarecer tudo até ao limite” durante a sua audição parlamentar.

A comissária indigitada disse ter dificuldade em acompanhar o raciocínio de quem encontra um eventual benefício do seu marido no desempenho das suas funções. “Não estou a ver exactamente que conflito de interesse pode existir entre o interesse público defendido pelo Estado, e o interesse de um funcionário público que exerce funções sob controlo da administração central portuguesa, quando de facto não há nenhum conflito entre um comissário ser português e depois relacionar-se com o seu próprio país”, observou.

Ao mesmo tempo, Elisa Ferreira negou que Portugal pudesse vir a beneficiar com a pasta que lhe foi atribuída pela presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. “Um comissário não é suposto ir favorecer o seu país, porque senão não tinha condições para decidir de uma forma equilibrada”, lembrou, acrescentando que cada dirigente tem “uma estrutura muito forte a trabalhar consigo” e “regras muito rígidas” para assegurar que não há favorecimentos. No entanto, a candidata a comissária da Coesão e Reformas entende que “pelo lado da experiência e da sensibilidade”, o país sairá a ganhar. “Portugal, que é um país de coesão e periférico, tem uma grande experiência — e que eu tentarei absorver — para aplicar e para trocar com outras experiências de outros países. Há uma sensibilidade que resulta do facto de se terem já testado muitas coisas historicamente, e de nós sabermos o que funciona e o que não funciona”, considerou.