Álvaro Siza desenhou um banco para a sua torre em Nova Iorque
Construída com mármore de Estremoz e mogno africano, a nova peça de mobiliário foi oferecida pelo programa Primeira Pedra para o edifício projectado pelo arquitecto português e actualmente em construção em Manhattan.
Nova Iorque é a mais recente “conquista” de Álvaro Siza, que, depois de ter levado a sua arquitectura a paragens tão diversas como o Brasil, a China e a Coreia do Sul, além de diferentes países da Europa, conseguiu finalmente uma encomenda para um edifício em Manhattan.
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Nova Iorque é a mais recente “conquista” de Álvaro Siza, que, depois de ter levado a sua arquitectura a paragens tão diversas como o Brasil, a China e a Coreia do Sul, além de diferentes países da Europa, conseguiu finalmente uma encomenda para um edifício em Manhattan.
No bairro de Hell’s Kitchen, no n.º 611 da West 56th Street, está actualmente em construção um arranha-céus de 120 metros de altura, uma torre para habitação e escritórios cujas linhas alvas e polidas, com as suas janelas horizontais ritmadas, remetem para a arquitectura de um dos mestres confessados de Siza, o finlandês Alvar Aalto.
Neste bairro na intersecção do Upper West Side com o Midtown West, o arquitecto português torna-se então vizinho de outros nomes grandes da arquitectura mundial, de Diller Scofidio + Renfro a Frank Gehry, de Herzog & de Meuron a Jean Nouvel, de Norman Foster a Zaha Hadid.
No projecto inicial para o edifício Hell’s Kitchen, Siza propunha a utilização de pedra portuguesa, e em particular do mármore de Estremoz – que o autor do Pavilhão de Portugal já explicou ser “o melhor do mundo” –, proposta que o empreendedor indiano que o contratou só aceitou em parte.
Mas foi com o mármore de Estremoz (o mármore branco da Vigária, em Vila Viçosa) que Siza desenhou um novo banco, expressamente para o átrio de entrada da nova torre, e que esta terça-feira foi apresentado em Manhattan, com a presença do arquitecto.
Chamada Hell’s Kitchen Bench, esta nova peça de mobiliário, com cinco metros de comprimento, é também construída com madeira, mogno africano. “A relação simbiótica criada entre estes dois materiais naturais e sustentáveis exemplifica como pode ser perfeito o casamento entre a pedra e a madeira, aqui evidenciado no traçado do banco em si, assim como no contraste do branco puro do mármore de Estremoz com o tom escuro da sapele [mogno]”, diz o comunicado do programa Primeira Pedra, que ofereceu este protótipo do banco de Siza a Manhattan.
Com este gesto, o cluster promovido pela Experimenta Design e pela Assimagra – Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins dá continuidade ao projecto de relançar internacionalmente a utilização da pedra portuguesa (o mármore, mas também o calcário, o granito, o xisto & ardósia), e da técnica que lhe está associada, através de peças de arte e de mobiliário contemporâneo desenhadas por arquitectos, artistas plásticos e designers, portugueses e estrangeiros.
Em declarações à agência Lusa, o vice-presidente executivo da Assimagra, Miguel Goulão, explicou que “o objectivo deste programa é promover a versatilidade e capacidade do cluster português da pedra no mundo, o seu potencial e grau de especialização, cujo valor já é reconhecido de forma transversal, tanto ao nível do design como da arquitectura.
Comissariado por Guta Moura Guedes, presidente da associação experimentadesign, Primeira Pedra foi inicialmente lançado na Bienal de Arquitectura de Veneza de 2016, onde foram expostos um primeiro conjunto de peças de autoria de arquitectos como o chileno Alejandro Aravena (comissário-geral dessa edição da bienal italiana) e a britânica Amanda Levete (autora do projecto do MAAT – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, da Fundação EDP). E também Álvaro Siza, que para aí recuperou um banco de jardim, tipo espreguiçadeira, desenhado, em 1990, para o Banco Borges & Irmão, em Vila do Conde (1978-86) – edifício que lhe valera, em 1988, o primeiro Prémio de Arquitectura Contemporânea da Fundação Mies van der Rohe.
Desde 2016, o programa Primeira Pedra desenvolveu três projectos centrais de pesquisa e desenvolvimento – Resistance, Still Motion e Common Sense –, que, depois de Veneza, foram divulgados através de exposições e apresentações em Milão, Weil am Rhein (Alemanha), São Paulo, Londres e, agora, Nova Iorque.
Co-financiado pelo Portugal2020/Compete 202, o Primeira Pedra terá ainda duas apresentações no próximo ano, em Paris e em Lisboa, marcando esta última o encerramento do programa, ao englobar todos os projectos e peças desenvolvidos ao longo dos últimos quatro anos.