Em Alfama, há publicidade nos estendais para ajudar a pagar a renda. E há quem não goste
As marcas vão oferecer aos habitantes peças com publicidade que estes devem colocar nos estendais. Em troca, recebem algum apoio financeiro. O objectivo do projecto Estende a Renda é ajudar os moradores a suportarem o aumento das rendas.
No âmbito das comemorações dos seus 40 anos, o Minipreço lançou uma campanha – idealizada pela agência Nossa – que visa “ajudar os moradores a lutar contra a subida das rendas”. O Estende a Renda é um projecto que leva os moradores de Alfama a usar os seus estendais como espaço de comunicação e divulgação da marca, recebendo, posteriormente, ajuda financeira – neste caso, vales de compras. Mas este projecto divide opiniões. Para uns, é considerado uma ajuda para os moradores, para outros é um meio de as marcas divulgarem os seus produtos.
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No âmbito das comemorações dos seus 40 anos, o Minipreço lançou uma campanha – idealizada pela agência Nossa – que visa “ajudar os moradores a lutar contra a subida das rendas”. O Estende a Renda é um projecto que leva os moradores de Alfama a usar os seus estendais como espaço de comunicação e divulgação da marca, recebendo, posteriormente, ajuda financeira – neste caso, vales de compras. Mas este projecto divide opiniões. Para uns, é considerado uma ajuda para os moradores, para outros é um meio de as marcas divulgarem os seus produtos.
A campanha arrancou esta quinta-feira, 19 de Setembro, e passa por recompensar monetariamente aqueles que não se importam de ter, nos seus estendais, peças publicitárias. A ideia é da agência Nossa e teve como inspiração a gentrificação e a transformação do tecido social daquele bairro histórico da capital. Entre 2015 e 2017, de acordo com um estudo do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, “foram comprados 150 apartamentos, mas apenas um para efeitos de habitação própria”. A maioria foi convertida em alojamento turístico outros permaneceram vazios.
Assim, “devido à valorização dos imóveis, os moradores desta zona histórica estão a ser expulsos das suas casas para dar espaço ao turismo e ao alojamento local”, refere a campanha Estende a Renda. Para tentar atenuar este problema, a Nossa desenvolveu a ideia com base num ícone típico dos bairros lisboetas: os estendais. Desta forma, cada morador poderá obter algum rendimento extra de um espaço que já é seu, ao mesmo tempo que tenta minimizar o aumento das rendas.
Os formatos publicitários mais tradicionais, como outdoors e mupis, são, assim, substituídos por estendais com têxteis, como lençóis e vestuário. Foi com o intuito de ajudar aqueles que mais precisam que a Associação do Património e População de Alfama (APPA) se associou ao Minipreço nesta acção. Lurdes Pinheiro, presidente da Direcção, disse ao PÚBLICO que esta associação “é uma espécie de intermediária entre a agência e os moradores”, ao indicar quais as pessoas carenciadas passíveis de usufruírem da iniciativa. “Não é nenhum salário, mas são vales de compras no valor de 50 euros”, que devem ser usados nas lojas Minipreço, acrescentou.
Ainda segundo a presidente da associação, “as pessoas que vão beneficiar desta campanha estão todas contentes por saber que podem ir fazer compras sem gastar parte do seu salário”. No fundo, entende, “é um apoio, uma ajuda”.
No entanto, esta campanha não é consensual. Bruno Palma, membro do Fórum Cidadania LX e residente em Alfama há já vários anos, não está de acordo com esta iniciativa que, diz, acaba por “desqualificar o espaço público em prol dos interesses das empresas”. No seu entender, “há aqui uma exploração dos problemas das pessoas”.
Apesar das opiniões divergentes, prevê-se, segundo o comunicado enviado à imprensa, que esta campanha seja alargada a outros bairros típicos do país. No que diz respeito às empresas associadas, para já começa com o Minipreço, mas em breve juntar-se-ão mais.
Os interessados em participar devem inscrever-se na página oficial do projecto e, após confirmação, irão receber o kit com as peças que deverão estender. Apesar de não haver um controlo intensivo, a APPA tentará certificar-se de que as pessoas cumprem os requisitos.
Texto editado por Ana Fernandes