Fragilizado, Netanyahu propõe governo de unidade a Gantz; este recusa “ordens”
Benny Gantz quer governo de unidade, mas o rival de Netanyahu sublinha que foi o seu partido o mais votado. “Isto tem de ser gerido com seriedade”, declarou Gantz.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apelou ao seu principal rival, o candidato do partido mais votado, Benny Gantz, para se juntar a si num governo de unidade nacional e pediu-lhe um encontro ainda esta quinta-feira.
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O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apelou ao seu principal rival, o candidato do partido mais votado, Benny Gantz, para se juntar a si num governo de unidade nacional e pediu-lhe um encontro ainda esta quinta-feira.
Gantz respondeu que esperava um “bom governo de unidade”, mas acrescentou que, como foi ele quem venceu, esse governo deve ser liderado por si e não por Netanyahu. Com 97% dos votos das eleições de terça-feira contados, o partido Azul e Branco de Gantz (e Yair Lapid), de centro-esquerda, tem dois deputados de vantagem sobre o Likud (direita) de Netanyahu.
“O Azul e Branco é o principal partido. Temos 33 deputados e Netanyahu não conseguiu os 61 de que precisava [o bloco Likud e ultra-ortodoxos ficou-se pelos 55]. Vou formar um governo alargado e abrangente que cumpra a vontade do povo”, disse Gantz: “não vou ceder a qualquer ordem”, disse, numa tirada em relação a Netanyahu sem o nomear. “Não se chega a negociações já com um bloco político”, continuou, referindo-se ao acordo que Netanyahu anunciara com os partidos religiosos para integrarem um governo. “Isto tem de ser gerido com seriedade.”
A proposta de Netanyahu mostra, dizem vários analistas, o seu desespero. “Benny, temos de formar um governo de unidade alargado, hoje já. O país espera que nós, nós os dois, demonstremos responsabilidade e que cooperemos”, disse. Depois da resposta negativa de Gantz para uma reunião ainda esta quinta-feira, Netanyahu disse que estava “desapontado” por este não ter aceitado o seu repto e repetiu o convite.
O Presidente, Reuven Rivlin, vai ouvir os líderes dos partidos no domingo, o primeiro dia útil da semana em Israel. Cada líder indicará quem acha que está mais capaz de formar uma coligação, e o Presidente decide de seguida quem tem a primeira hipótese de formar um governo. Nenhum dos blocos, nem o de direita religiosa, nem o de centro-esquerda, tem uma maioria.
Por isso, uma personagem chave será Avigdor Lieberman, do partido Yisrael Beitenu (Israel Nossa Casa), ultranacionalista e secular, que tem apelado a um governo de unidade em que o seu partido se juntaria ao partido Azul e Branco e ainda ao Likud, baseado numa agenda secular.
Netanyahu espera manter a liderança do próximo governo, nem que seja num governo rotativo, como já houve em 1984 quando Yitzhak Shamir (Likud) e Shimon Peres (Labour) acordaram rotatividade na chefia do Governo. O próprio Netanyahu referiu-se a este precedente numa cerimónia, esta quinta-feira, em honra a Peres.
O candidato do partido Azul e Branco excluiu, durante a campanha, coligar-se com Netanyahu enquanto este for suspeito de corrupção. Netanyahu enfrenta uma recomendação da polícia ao procurador-geral para o acusar por três crimes ligados a corrupção e terá a audiência pré-acusação já no dia 2 de Outubro. Esta posição de Gantz abre a hipótese de um governo com o Likud liderado por alguém que não Netanyahu.
Manter-se no cargo é a carta de imunidade de Netanyahu, o modo de dificultar ser mesmo acusado. Daí que Netanyahu esteja a tentar por tudo ser ele o mandatado pelo Presidente para formar Governo e que lhe interesse num caso de rotatividade do cargo de primeiro-ministro ser ele o primeiro. O Presidente escolherá não o mais votado, mas quem reúna mais indicações dos partidos com assentos parlamentares. Estas indicações dos partidos são feitas após negociações sobre o que lhes seria dado numa coligação.
Lieberman não hesitou em lançar uma farpa a Netanyahu, desta vez no Facebook, acusando-o de afirmar que quer um governo de unidade mas na verdade estar ainda a tentar convencer outros partidos a juntarem-se ao seu bloco, e caso isso falhe, planear culpá-lo a si, Lieberman, e a Gantz por um eventual falhanço na formação de uma coligação. E que aí se prepararia para lançar o país na terceira eleição do ano. Depois das legislativas de Abril, após a qual não conseguiu formar Governo, Netanyahu não deu hipótese ao seu rival para tentar, forçando a eleição de terça-feira.
Vários analistas expressaram uma opinião parecida com a de Lieberman. O director do Jerusalem Post Yaakov Katz comentou que “Netanyahu quer mostrar que está a fazer todos os possíveis para evitar uma terceira eleição e que se esta acabar por acontecer, será por causa de Gantz”.