Especialista da Universidade do Porto diz que eliminar a carne de vaca das cantinas é “drástico”

Para especialista do departamento de Ambiente da FCUP, a decisão pode não ser “totalmente eficaz” e cria um alarmismo social.

Foto
Unsplash

Um especialista do departamento de Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) considera que a decisão de eliminar o consumo de carne de vaca das cantinas universitárias de Coimbra é “drástica” e “alarmista”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Um especialista do departamento de Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) considera que a decisão de eliminar o consumo de carne de vaca das cantinas universitárias de Coimbra é “drástica” e “alarmista”.

Em declarações à Lusa, António Guerner, docente e membro da Comissão do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da FCUP, afirmou esta quarta-feira que a decisão tomada pelo reitor da Universidade de Coimbra (UC) foi “demasiado drástica”.

“As medidas não devem ser adoptadas de forma drástica, porque isto pode ser um exemplo interessante, que pode dar um pequeno contributo para a diminuição do aquecimento global, mas vai criar um alarmismo social e outro tipo de problemas junto da cadeia económica de produção de carne de vaca”, salientou.

Para António Guerner, esta medida pode não ser “totalmente eficaz”, uma vez que deveria ter sido “acompanhada de uma campanha de consciencialização do consumidor” e dar a “liberdade ao consumidor consciente de escolher aquilo que prefere”.

Em causa está a libertação do gás produzido pelos dejectos dos bovinos, o gás metano, que segundo António Guerner, em estado de decomposição e fermentação “contribui de forma mais acentuada do que o CO2 [dióxido de carbono] para o aquecimento global”. “Em termos técnicos, uma molécula de gás metano tem um contributo para o aquecimento global muito superior do que uma molécula de CO2”, explicou, alertando que os dejectos de todos os animais libertam este gás. “Todos os dejectos de quaisquer animais produzem metano, produzem é em diferentes concentrações e quantidades”, frisou.

Na sua perspectiva, o Estado, à semelhança do que fez com os produtos que continham excesso de sal e de açúcar, “também poderia taxar o consumo de carne de vaca”, lembrando existirem ainda outras “alternativas mais amigas do ambiente”. “O metano produzido pela fermentação dos dejectos dos bovinos poderia ser aproveitado para produzir electricidade. Há instalações experimentais em algumas pecuárias na Europa que conseguem canalizar o metano produzido e esse metano é transformado em electricidade”, concluiu.

O reitor da Universidade de Coimbra (UC) anunciou na terça-feira que vai eliminar o consumo de carne de vaca nas cantinas universitárias a partir de Janeiro de 2020, por razões ambientais. Segundo o reitor da universidade, Amílcar Falcão, a eliminação do consumo de carne nas cantinas universitárias será o primeiro passo para, até 2030, tornar a UC “a primeira universidade portuguesa neutra em carbono”. “Vivemos um tempo de emergência climática e temos de colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada”, sublinhou, na sua intervenção, perante centenas de alunos.

A carne de vaca será substituída “por outros nutrientes que irão ser estudados, mas que será também uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 que existe ao nível da produção de carne animal”. Por ano, cerca de 20 toneladas de carne de vaca são consumidas nas 14 cantinas universitárias da UC.

A medida tem dado que falar e já foi criticada por vários organismos, como a Confederação dos Agricultores de Portugal, a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal, a Associação dos Produtores de Leite de Portugal e Associação Portuguesa dos Industriais de Curtumes. O PAN, por seu turno, já elogiou a decisão, tal como ministro do Ambiente, João Matos Fernandes. Já a Associação Terra Maronesa enviou uma carta aberta ao reitor, garantindo que a produção de carne maronesa é “amiga do ambiente”.