De Portugal a Macau, a longa viagem de Jorge é entre comboios
Uma longa viagem, quase sempre sobre carris e sempre com a máquina fotográfica na mão. São quase sete meses a viajar por quase duas dezenas de países. E é o comboio que dá tempo a Jorge Duarte Estevão.
Partiu de Lisboa com o desejo de “fazer uma pausa na vida diária”, mas não foi isso que mais o motivou. Macau sempre despertou um “enorme interesse” a Jorge Duarte Estevão e o jornalista e fotógrafo decidiu que este seria o ano da grande viagem, até porque em 2019 se assinalam os 20 anos da passagem da administração do território de Portugal para a China.
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Partiu de Lisboa com o desejo de “fazer uma pausa na vida diária”, mas não foi isso que mais o motivou. Macau sempre despertou um “enorme interesse” a Jorge Duarte Estevão e o jornalista e fotógrafo decidiu que este seria o ano da grande viagem, até porque em 2019 se assinalam os 20 anos da passagem da administração do território de Portugal para a China.
Foi assim que traço um plano para partir de Lisboa e chegar a Macau cerca de sete meses depois. Com um detalhe: sempre (que possível) de comboio. Partiu, com a companheira e sempre com a máquina fotográfica na mão, em Maio, conta o viajante à Fugas.
Até ao momento, já passou por Espanha, França, Suíça, Áustria, Eslovénia, Croácia, Sérvia, Bulgária, Turquia e Geórgia. Segue-se, caso nenhum visto falhe, a Arménia, Irão, Turquemenistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão e a China, com o término em Macau.
Para Jorge Duarte, de 41 anos, esta viagem “vale pelo todo, pelos contrastes, por cada momento”. Mas é Macau, onde nos últimos anos chegou a ponderar viver, que lhe desperta a atenção pela ligação entre o território e Portugal. E, sublinha, pelo facto de querer “perceber como é que a cultura chinesa e a cultura portuguesa ainda mantêm essa convivência pouco comum”.
Assinalando o aniversário do seu blogue de viagens Lugares Incertos, o viajante – que já visitou, no total, 56 países – quer também “partilhar com os leitores [quer com texto, quer com fotografias] uma aventura de longa duração”, saindo da sua zona de conforto e procurando diversidade. “Quero ficar por algum tempo, conhecer bem a região, provar a gastronomia, perceber como vivem ou convivem comunidades tão distintas”, explicou este alentejano “que escreve sem sotaque”, brinca. Junta-se aos planos o desejo de “visitar alguns amigos que escolheram Macau como lar permanente”.
A escolha do comboio como meio de transporte não foi em vão. Jorge Duarte, que viveu durante mais de uma década em Londres – cidade onde passou “horas a viajar de comboio –, adiantou que, assim, pode “estar mais relaxado, dormir, conversar, ler ou escrever e editar fotografias durante longas distâncias”. “Não existe, do meu ponto de vista, transporte tão romântico como o comboio”, afirmou, acrescentando que, de outra forma, “não iria conseguir ter tempo” para ir viajando e convivendo de perto com as gentes locais e “de, com elas, partilhar histórias”.
Apesar das vantagens do comboio elencadas pelo fotógrafo, a verdade é que este meio de transporte não o consegue levar a todos os lugares idealizados. A entrada em Macau, por exemplo, não poderá ser feita deste modo, pois “não existe ligação ferroviária até à região”, como assinala: “o último trecho será feito de autocarro, atravessando a Ponte de Hong Kong-Macau-Zhuhai – a mais extensa ponte marítima do mundo”. Outras peripécias foram acontecendo ao longo da jornada, como a impossibilidade de obter o visto (na Turquia) para o Irão. “Vi-me obrigado a mudar a rota que tinha predefinido”, explicou.
No entanto, já visitou lugares que o “fascinaram”. Foi o caso de Belgrado ou Istambul, onde ficou “mais espantado do que da primeira vez que lá [esteve]”. A região da Capadócia, na Turquia, por sua vez, surpreendeu-o de tal forma que passou lá “duas semanas a fotografar”. Mas nem tudo são rosas. “O excesso de turismo” de algumas localidades – como Pamukkale, na Turquia, o Lago Bled, na Eslovénia, e a Ilha de Skye, na Escócia – chocaram o fotógrafo, que tem também “tentado visitar outros locais menos requisitados ao longo desta viagem”.
Sobre o orçamento para esta odisseia de longa duração, que passa por diversos países europeus e asiáticos, o blogger adiantou que “o custo total irá incluir o investimento em equipamento, seguros, transporte, vistos, alojamento, alimentação e algumas cervejas frescas”. “Cada pessoa tem a sua forma de viajar. A minha é simples: quero viajar pelos pratos de todos os países, provar as comidas e bebidas locais. Nos hotéis que escolho, o mais importante é que estejam limpos, sejam confortáveis e, em cidades, bem localizados. Não interessa se é um hostel, apartamento, hotel ou tenda”, frisou Jorge Duarte Estevão.
Embora garanta a viagem “com investimento pessoal e apoios de entidades ligadas ao turismo, como o Turismo de Macau”, decidiu rejeitar as parcerias, dado que “não se enquadravam no perfil da viagem”. Contudo, afirmou já ter cedido “a licença comercial de algumas fotografias” que tirou nos primeiros meses de viagem.
A viagem pode ser seguida no seu blogue Lugares Incertos, no Facebook e no Instagram. Jorge Duarte Estevão, que espera voltar a Portugal em Dezembro, tem também um site profissional dedicado exclusivamente à fotografia.
Texto editado por Luís J. Santos